Em uma sala de reuniões de frente para a fábrica centenária da U.S. Steel, Takahiro Mori fala sobre sua visão do futuro da fábrica sob uma possível nova direção. 

Cercado por metalúrgicos e líderes municipais, o vice-presidente da japonesa Nippon Steel prometeu na semana passada investir quase US$ 950 milhões na maior usina da concorrente americana U.S. Steel. A Nippon Steel também ofereceu bônus a todos os  funcionários da siderúrgica americana, no valor de US$ 20 milhões para os trabalhadores em Gary, Indiana. 

Mori estava conquistando a audiência. Ele não teve a mesma sorte em Washington, D.C., onde os líderes políticos controlam o destino do acordo.

Um ano se passou desde que a Nippon Steel anunciou que compraria a U.S. Steel por US$ 14,1 bilhões (cerca de R$ 88,7 bi). A oferta de aquisição enfrentou a oposição de políticos e líderes sindicais, além do ceticismo de investidores. Agora, o mercado de aço está fraco e o tempo do presidente Biden para uma revisão de segurança nacional que pode bloquear acordo está se esgotando.

Biden ainda não bloqueou formalmente a aquisição, mas a Casa Branca reiterou na semana passada sua posição de que a U.S. Steel deve ser de propriedade e operação doméstica. O presidente eleito Donald Trump também rejeitou a venda da empresa com sede em Pittsburgh para uma companhia estrangeira, alertando a Nippon Steel em dois de dezembro através de um post nas redes sociais: “Comprador, cuidado!”.

LEIA MAIS: Produtores brasileiros de aço estão ‘em choque’ com as metas de emissão

O sentimento do investidor na U.S. Steel está azedando. As ações fecharam na terça-feira a US$ 31,94, o nível mais baixo desde setembro e bem abaixo dos US$ 55 que seus acionistas aprovaram em abril.

Se o acordo colapsar, o CEO da U.S. Steel, Dave Burritt, alertou que a empresa não conseguirá igualar os investimentos planejados pela Nippon Steel e provavelmente fecharia fábricas e instalaria sua sede em outro lugar que não Pittsburgh.

Oposição sindical

O anúncio do acordo em dezembro passado ocorreu após meses de licitações de vários pretendentes da U.S. Steel, incluindo a principal rival da empresa, a Cleveland-Cliffs.

Algumas horas após o anúncio da venda, o sindicato United Steelworkers criticou o acordo por não manter a U. S. Steel “com propriedade e operação doméstica”.

O sindicato, que representa cerca de 10 mil empregados da siderúrgica, preocupa-se há anos com demissões e com a transferência da produção para uma fábrica não sindicalizada no Arkansas; e disse que a Nippon Steel, com sede em Tóquio, pode diminuir a capacidade de produção de aço da U.S. Steel para que a empresa possa importar aço das fábricas da Nippon em outros lugares.

Mori, da Nippon Steel, passou meses negando as alegações do sindicato. “Acreditamos que o aço é um negócio local e os clientes americanos devem receber aço fabricado nos Estados Unidos”, disse ele na semana passada.

Mori continua a fazer campanha obstinadamente pelo apoio de prefeitos, governadores e especialmente membros do sindicato dos metalúrgicos. Ele prometeu segurança no emprego, bônus de US$ 5 mil se o acordo for concluído e quase US$ 3 bilhões em investimentos nas fábricas mais antigas da empresa, visando conter a forte oposição do presidente do sindicato, Dave McCall, ao acordo.

LEIA MAIS: Produção e vendas de aço no Brasil devem cair em 2025, estimam produtores

Os líderes sindicais criticaram a promessa de bônus da Nippon Steel, classificando-a como “simples suborno”.

A oposição do sindicato ajudou republicanos e democratas a se alinharem contra o acordo, apesar do status do Japão de um dos aliados mais próximos dos Estados Unidos. Um painel de agências federais tem avaliado os riscos do acordo para a segurança nacional americana e tem prazo para completar o relatório até 23 de dezembro. O relatório do comitê pode dar a Biden uma justificativa para impedir a venda.

Se o acordo naufragar, a U.S. Steel provavelmente terá dificuldades no curto prazo para aumentar as vendas e o lucro por conta própria. O preço do aço caiu quase 40% em relação ao ano anterior. Os compradores rejeitaram repetidamente os aumentos de preços das siderúrgicas desde meados do primeiro semestre, pois havia muito aço mais barato disponível.

“No ano passado, nesta época, o preço do aço estava pegando fogo. Este ano, está xoxo”, disse Jeremy Flack, CEO da Flack Global Metals, distribuidora de aço e alumínio com sede em Phoenix. 

Se o acordo for bloqueado, a queda dos preços do aço e o enfraquecimento da demanda dos fabricantes tornam improvável que a U. S. Steel atraia ofertas pesadas de outros pretendentes endinheirados, disseram analistas do setor.

‘Um bom negócio’

A luta de um ano entre o sindicato e a Nippon Steel dividiu os empregados da U.S. Steel e líderes políticos representando áreas onde as fábricas estão localizadas.

Na semana passada, centenas de membros do sindicato se reuniram na usina Mon Valley Works da U.S. Steel, perto de Pittsburgh, para mostrar apoio ao negócio. Em Gary, no mesmo dia, Mori recebeu o endosso da principal autoridade da cidade.

A U.S. Steel fundou Gary, em homenagem ao presidente da empresa, em 1906 como uma cidade planejada ao mesmo tempo em que a usina ia sendo construída na margem sul do Lago Michigan.

O prefeito Eddie Melton disse que o aviso da U.S. Steel de que algumas usinas mais antigas fechariam se o negócio não fosse para frente foi um fator em sua decisão de apoiar a Nippon Steel.

“Para a cidade de Gary, essa parceria significaria muito”, disse Melton. “Este é um bom negócio para todos.”

LEIA MAIS: Antes de deixar o cargo, Biden deve vetar controle japonês sobre siderúrgica americana

Alguns trabalhadores que apoiam o acordo criticaram McCall, o presidente do sindicato, por não negociar com a Nippon Steel e por colocar em risco milhares de empregos se as usinas fecharem. 

“Acho que nunca haverá outro investimento que sustente empregos como o que a Nippon está oferecendo”, disse Matt Albensi, de 30 anos, operador de guindaste com sete anos de serviço.

Outros, como David Morgan, apoiam a postura dura do sindicato.

“Ainda trabalhamos juntos onde precisamos, mas é definitivamente tenso”, disse Morgan, presidente do comitê de queixas do sindicato na Mon Valley Works em West Mifflin, na Pensilvânia, onde os líderes sindicais locais estão apoiando a Nippon Steel. 

Morgan, de 50 anos, que trabalhou para a U.S. Steel por mais de 20 anos, disse que se opõe ao apelo de Mori, da Nippon Steel, a trabalhadores impressionáveis e líderes sindicais em nível de fábrica depois de ser rejeitado por McCall. “Isso não me agrada nem um pouco”, disse ele.

Escreva para Bob Tita em [email protected]

Traduzido do inglês por InvestNews

Presented by