Os americanos na faixa dos 30 anos nunca pareceram tão pouco adultos.
Em meio a declínios acentuados nas taxas de propriedade de casa, casamento e natalidade, os economistas há muito alertam que os jovens estão tendo dificuldades para atingir os marcos da idade adulta. Embora alguns deles, de 30 e poucos anos, estejam escolhendo conscientemente um caminho menos tradicional, muitos dizem que esses objetivos estão simplesmente fora de seu alcance.
“Parece que as instruções de como ter uma vida boa não se aplicam mais”, diz Cody Harding, de 38 anos, que é solteiro e mora com três colegas de quarto no Brooklyn. “E ninguém as atualizou.”
Agora que uma mistura de fatores sociais e econômicos interfere em uma geração inteira, o que os pesquisadores chamavam de defasagem está começando a parecer mais um estado permanente de desenvolvimento interrompido.
“Estamos passando de tarde para nunca”, diz Richard Reeves, presidente do American Institute for Boys and Men (Instituto Americano para Meninos e Homens). Ele observa que, quanto mais tempo as pessoas demoram para entrar em uma vida adulta mais convencional, menor a probabilidade de que isso aconteça.
Um terço dos jovens adultos de hoje nunca se casará, projeta o think tank conservador Institute for Family Studies, em comparação com menos de um quinto dos nascidos nas décadas anteriores. A parcela de adultos sem filhos com menos de 50 anos que dizem que é improvável que tenham filhos, por sua vez, aumentou dez pontos percentuais entre 2018 e 2023, de 37% para 47%, de acordo com o Centro de Pesquisa Pew.
“Você pode adiar uma decisão, mas apenas até certo ponto”, diz Reeves.
A explicação convencional para o que está atrapalhando os jovens adultos é que eles não podem se dar ao luxo de crescer, dado o aumento da inflação e dos custos de moradia. No entanto, isso não explica bem o que está acontecendo.
É verdade que esses jovens passaram por uma série de azares econômicos. Muitos deles entraram no mercado de trabalho durante a Grande Recessão, enfrentaram a pandemia voltando a morar com seus pais e agora estão lidando com o pior mercado imobiliário em 40 anos. Mas os números mostram um quadro mais complicado.
Os salários anuais médios dos trabalhadores em tempo integral com idades entre 35 e 44 anos aumentaram 16% entre 2000 e 2024, de US$ 58.522 para US$ 67.652 ajustados pela inflação, de acordo com o Departamento do Trabalho. A riqueza geral dos jovens dessa faixa etária também aumentou 66% entre 1989 e 2022, de acordo com o Federal Reserve de St. Louis, de US$ 62 mil/ano para US$ 103 mil/ano.
De muitas maneiras, essa faixa etária está melhor financeiramente, em média, do que seus pais estavam nessa idade. O problema é que eles parecem não perceber isso. Apenas 21% dos adultos na faixa dos 30 anos classificaram a economia geral como boa ou excelente no ano passado, de acordo com o Federal Reserve, e os economistas dizem que os jovens adultos são significativamente mais pessimistas sobre o futuro do que as gerações anteriores.
“Eles veem o mundo em que viverão daqui 20 anos como realmente bagunçado”, diz Carol Graham, economista do Brookings Institute que estuda o bem-estar. Ela aponta como as mudanças climáticas, a polarização política, a IA e um crescente ressentimento com o poder corporativo tornaram o futuro mais incerto.
Os adultos mais jovens são muito menos propensos do que os americanos com mais de 50 anos a dizer que alcançar o sonho americano de sucesso com o trabalho duro ainda é uma possibilidade, de acordo com uma pesquisa do Wall Street Journal/NORC em julho. Mas aqui também a realidade é mais complicada. Pelo menos parte do que está impedindo o crescimento de uma geração de jovens é a dimensão do sonho do que é uma vida boa.
“Nossas expectativas são muito maiores hoje”, diz Melissa Kearney, economista da Universidade de Maryland, cuja pesquisa se concentra em crianças e família. “As gerações anteriores a nós não esperavam ter casas grandes onde cada filho tivesse um quarto, nem tirar muitas férias.”
Claro, médias financeiras são apenas isso. Uma parcela considerável desta geração está em pior situação que seus pais. Os homens jovens, em particular, estão tendo dificuldades no mercado de trabalho. E alguns dos objetivos tradicionais da vida adulta realmente se tornaram mais difíceis de alcançar.
A dívida estudantil mais do que dobrou nas últimas duas décadas, e um diploma universitário agora não é garantia de um emprego bem remunerado. O aumento das taxas de juros e a diminuição da oferta também colocaram a casa própria fora do alcance de uma parcela crescente de americanos. A idade média de quem compra uma casa pela primeira vez atingiu um recorde de 38 anos este ano, de acordo com a Associação Nacional de Corretores de Imóveis, maior que os 35 em 2023 e os 29 em 1981.
Ainda assim, crescer com menos pressão para seguir o mesmo caminho para a vida adulta imposto a seus pais e avós — carreira, cônjuge, casa e filhos, tudo aos 35 anos — elevou o significado desses marcos, caso optem por alcançá-los.
Frustrados com essa mistura de altas expectativas e circunstâncias econômicas desafiadoras, muitos jovens de 30 e poucos anos parecem desorientados e inseguros sobre o que significa ser um adulto de sucesso agora.
Depois de ver seus pais criarem três filhos e comprarem uma casa com os salários que recebiam no varejo e na manufatura, Cody Harding presumiu que ser o primeiro de sua família a obter um diploma de bacharel lhe daria uma qualidade de vida ainda melhor. Embora agora ganhe cerca do dobro do que seus pais recebiam no auge de suas carreiras combinadas, ele está desapontado com o que isso lhe proporciona na cidade de Nova York.
Harding diz que se formar na faculdade em 2008, no momento em que empresas em todo o país estavam perdendo fundos e demitindo trabalhadores, foi o primeiro sinal de que parecia destinado a uma vida adulta economicamente precária. Quando não conseguia colocar sua dupla especialização em inglês e história em uso, trabalhava de garçom e na construção civil.
“Eu nunca chegava lá”, diz ele. Harding entrou na faculdade de direito para esperar a recuperação do mercado de trabalho, mas acabou com US$ 180 mil em dívidas de empréstimos estudantis. Ele agora deve mais de US$ 200 mil, depois de fazer apenas os pagamentos mínimos.
Em vez de poder sustentar uma família ou pelo menos viver sozinho como advogado em tempo integral, está pagando US$ 1.700 de aluguel para dividir um apartamento com colegas no Brooklyn. Quando ficou claro que seus sonhos de ter uma casa própria não iriam se realizar em Nova York, ele recentemente recebeu ajuda de seus pais para comprar uma casa que necessita de reforma em sua cidade natal, Easton, na Pensilvânia. Como muitos de seus colegas, ele tem uma renda extra com uma atividade paralela: no caso, administrar uma loja de móveis vintage.
Harding ainda espera se casar e ter filhos, mas se desencantou com a cultura de namoro, que, para ele, parece valorizar aventuras de curto prazo em vez de compromissos de longo prazo. Ele também prefere ficar solteiro do que se comprometer com a pessoa errada. A maioria de seus amigos está no mesmo estado de adolescência suspensa, diz, o que às vezes faz parecer que o tempo está parado.
“Não há problema em tentar reinventar a aparência da vida moderna, mas estou um pouco desapontado com tudo o que ela não tem”, diz Harding. “Estou cansado de festas. Já fiz isso. Quero crescer.”
Pouco mais de 50% dos americanos entre 30 e 40 anos estavam casados no ano passado, de acordo com uma análise dos dados da American Community Survey feita pelo economista do Aspen Economic Strategy Group, Luke Pardue. Isso é menos que os mais de dois terços em 1990, época em que nasceram os indivíduos da pesquisa. A parcela de mulheres nessa faixa etária que já tiveram filho caiu sete pontos percentuais apenas entre 2012 e 2022, mostram os dados da Current Population Survey, de 78% para 71%.
“Em parte, são as expectativas sociais, outra parte é a mudança de prioridades e mais outra são as realidades econômicas”, diz Kearney, da Universidade de Maryland, que analisou como a mesma dinâmica está ocorrendo em países de alta renda ao redor do mundo. “Mas ao todo, eles parecem estar indo na mesma direção, que é o aumento dos números dos que permanecem solteiros e sem filhos.”
Mesmo sair da casa dos pais — há muito considerado um pré-requisito para a verdadeira idade adulta nos EUA — está se mostrando uma meta mais difícil de atingir.
Quando os pais de Renata Leo tinham 31 anos, a idade que ela tem agora, eles estavam casados, haviam comprado uma casa e a tinham tido. No entanto, ela ainda dorme em seu quarto de infância, olhando para o mesmo papel de parede de unicórnio que está lá desde antes de seu nascimento.
“Redecorar significaria aceitar que não vou embora”, diz Leo, que voltou para casa em Glassboro, em Nova Jersey, desde que se formou na faculdade em 2015 com US$ 20 mil em dívidas de empréstimos estudantis.
Ela estava perto de se mudar em 2020, mas o aumento dos preços das casas na pandemia atrapalhou os planos de comprar algo com seu então noivo. (Ele foi morar com ela, na casa dos pais dela, antes de se separarem em meados do ano passado.) Desde que perdeu seu emprego em tempo integral em uma startup em 2021, ela trabalha meio período e se sente presa, sem saber o que quer fazer.
“Eu me sinto um fracasso”, diz, acrescentando que em um recente encontro casual com o diretor de sua escola, onde se formou como oradora da turma, teve dificuldade para descrever o que havia feito nos últimos 13 anos. “Eu deixo o fato de ter publicado um livro ser o grande acontecimento”, brinca.
Quase 9% das pessoas com idades entre 30 e 40 anos ainda moram com os pais, de acordo com a análise dos dados do Censo feita por Pardue, contra quase 6% em 1990.
Os pais de Renata, Ed e Paula Leo, dizem que querem que sua filha tenha a liberdade de seguir a vida que deseja, em vez de sentir, como eles, que deve se submeter a qualquer trabalho, desde que pague alguma coisa.
“Não há mais um caminho certo”, diz Paula, professora de matemática aposentada de 61 anos, que admite que nunca pensou se queria se casar ou se tornar mãe — ela apenas assumiu que sim. No entanto, Paula reconhece que viver em uma atmosfera com menos pressão para se ajustar ou se decidir tem seus próprios custos. Ter mais opções, diz ela, “dificulta a tomada de decisão”.
Renata reconhece que é um privilégio poder esperar por um emprego que ama em vez de aceitar qualquer coisa que lhe seja oferecida. Mas admite que, quanto mais tempo fica parada, uma aparente espectadora de sua própria vida, mais desesperançosa se sente sobre começar.
“Ainda me sinto como uma criança”, diz ela.
Quando a mãe de Semira Fuller tinha a idade que ela tem agora, 39 anos, era proprietária de uma casa e mãe solteira de dois filhos. Mas mesmo que o salário de Fuller, de cerca de US$ 100 mil, como gerente de folha de pagamento seja mais do que sua mãe já ganhou quando Fuller era menina, ela fica desapontada com o quão pouco isso lhe garante em Los Angeles, onde mora com uma colega de quarto. “Tudo parece uma luta”, diz.
Ela sabe que seu salário compraria mais em sua cidade natal, Filadélfia, mas prefere ficar em Los Angeles. A inflação elevou o preço de pequenos luxos, como sua assinatura do Spotify, mas ela não quer desistir deles.
“Não há nenhuma parte da minha vida que não pareça mais cara do que há dois anos”, diz ela.
Fuller diz que gosta de encontrar amigos e acordar no horário que quiser, o que torna a agitação das crianças desagradável. A maternidade, diz ela, está fora de questão.
“As crianças se tornam a primeira prioridade”, diz Fuller. “Ainda estou me descobrindo como uma prioridade.”
Rachel Wolfe é repórter e cobre economia no Wall Street Journal.
Traduzido do inglês por InvestNews
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