Em processo de reestruturação financeira desde o ano passado, a Viveo decidiu iniciar um programa de venda de ativos, apurou o InvestNews. A diretoria da companhia vai se reunir com assessores financeiros na próxima semana para definir quais empresas e outros ativos do grupo poderão entrar no processo de desinvestimento. A pressão de alguns credores foi determinante para esse movimento, relata uma das fontes.

A Viveo, que tem como principal negócio a distribuição de insumos hospitalares (e é líder deste mercado), construiu ao longo dos últimos anos um portfólio diversificado que inclui desde produtos de higiene pessoal, como a marca Cremer, até a distribuição de medicamentos e vacinas.

A decisão da Viveo de vender ativos encerra um ciclo agressivo de expansão iniciado no começo desta década, quando a empresa levantou quase R$ 2 bilhões na bolsa para fazer a consolidação do setor de serviços hospitalares. Essa estratégia de crescimento sustentou seu IPO, em 2021, quando captou R$ 1,2 bilhão. Em 2023, a companhia ainda realizou um follow-on que trouxe mais R$ 778,4 milhões para o caixa. Foram 25 aquisições entre 2020 e 2022, a última foi da empresa de produtos para higiene hospitalar Neve, feita em agosto daquele ano.

No entanto, o crescimento acelerado acabou prejudicado pela alta da Selic iniciada ainda em 2021, que passou a pressionar os resultados — atualmente, o custo médio da dívida da Viveo é CDI + 1,57% ao ano. Aliás, o cenário macro adverso também atingiu a Elfa, uma das principais concorrentes da Viveo e que é controlada pelo Patria.

Procurada pelo InvestNews, a Viveo disse que não irá comentar.

Negociação com credores 

A Viveo obteve uma importante flexibilização (o chamado “waiver”) junto a seus debenturistas no fim de dezembro. Os credores concordaram em relevar até o fim do primeiro trimestre de 2026 o limite de alavancagem previsto nos contratos de dívida, que estabelecia um teto de 3,5 vezes a relação entre dívida líquida pelo Ebitda.

Em contrapartida, a empresa assumiu quatro grandes compromissos: não pagar proventos, usar todo recurso obtido com venda de ativos para o pré-pagamento de dívidas e recompra de debêntures em 2025, só realizar novas aquisições quando sua alavancagem estiver abaixo de 3 vezes, e limitar seus investimentos a R$ 175 milhões em 2025.

O waiver foi crucial para a empresa, uma vez que concentra praticamente toda sua dívida bruta em debêntures – um total de R$ 3,41 bilhões, conforme dados do terceiro trimestre de 2024, o balanço mais recente. A dívida líquida soma R$ 2,11 bilhões, o que representa uma alavancagem de 3,14 vezes.

A empresa ainda tem que pagar cerca de R$ 700 milhões de aquisições até 2029 – valor que pode ser menor, a depender do atingimento ou não de metas e bônus. Se essa cifra fosse incluída nos cálculos de endividamento, a alavancagem da companhia já estaria em 4,4 vezes no 3T24. Somente em 2025, a Viveo precisará desembolsar R$ 407 milhões entre pagamentos de dívidas e parcelas de aquisições.

De janeiro a setembro do ano passado, a Viveo registrou R$ 8,7 bilhões de receita, aumento de 5,9% em realção a igual período de 2023. No mesmo comparativo, a empresa saiu de lucro líquido de R$ 200,8 milhões para um prejuízo líquido de R$ 68,7 milhões.

A Viveo, antiga CM Hospitalar, é uma investida da família Bueno, fundadora da Amil e controladora da Dasa. O fundo dos Bueno, o Genoma, possui 37,19% de participação na empresa. A gestora Dynamo, com 10%, e o Fundo Soberano de Singapura (GIC, em inglês), com 12,22%, são outros acionistas relevantes.