O presidente americano Donald Trump cumpriu a promessa e assinou na tarde deste sábado (1º) três ordens executivas, detalhando as tarifas impostas ao México, ao Canadá e à China. Os vizinhos da América do Norte serão tarifados em 25% e o rival asiático, em 10%, conforme a Casa Branca já havia confirmado na sexta-feira (31).
Segundo um oficial do governo americano ouvido pela Bloomberg em condição de anonimato, a única exceção está nas importações dos EUA do setor de energia do Canadá — essas serão tarifadas em 10%, em vez de 25%. O motivo é a necessidade de minimizar o impacto da nova taxação nos preços sobre a gasolina e o aquecimento doméstico nos Estados Unidos.
Ainda de acordo com ele, as ordens incluem uma cláusula de retaliação, estipulando que, se os países retribuírem taxando a importação de produtos americanos, o governo dos EUA aumentará ainda mais as alíquotas.
Elas passam a valer oficialmente à 00h01 da próxima terça-feira (4).
As ordens também revogam uma regra conhecida como “exceção de tarifas de minimis”, que isentava de taxas de importação qualquer envio aos EUA de produtos no valor total de US$ 800 por pessoa e por dia. Isso aplicará tarifas mais amplamente a envios pequenos e afetará o comércio eletrônico e o varejo online. De acordo com um funcionário ouvido pela Bloomberg, os EUA perdem uma quantidade enorme de receita tarifária ao usar a isenção.
Segundo os documentos, as medidas envocam leis americanas sobre emergências nacionais e de poderes econômicos para emergência internacional. O motivo é o que Trump chama de “uma ameaça para a segurança dos americanos, incluindo a crise de saúde pública provocada pelas mortes devido ao uso de fentanil“.
O medicamento opioide é usado no tratamento de dor crônica, mas tem efeito viciante e hoje é a principal causa de overdose em americanos com entre 18 e 45 anos de idade. O presidente americano acusa o México e o Canadá de não atuarem para controlar o tráfico da droga por suas fronteiras com os EUA.
Repercussão
O movimento ameaça ter impactos econômicos agudos para os EUA e as nações visadas, já que Canadá, México e China as três maiores fontes de importações dos EUA, representando quase metade do volume total.
Trump se candidatou com uma plataforma de tarifas extensivas e seguiu com suas promessas, apesar dos avisos da maioria dos economistas e de grupos empresariais de que as tarifas comerciais iriam interromper cadeias de suprimentos, aumentar preços para consumidores já cautelosos com a inflação e reduzir os fluxos globais de comércio.
As medidas que Trump está adotando terão implicações particularmente severas para os setores automotivo e de energia.
Representantes do setor automotivo alertaram que, devido à integração apertada da manufatura entre EUA e Canadá, as tarifas poderiam ter impactos acentuados no setor.
“A imposição de tarifas será prejudicial aos empregos, investimentos e consumidores americanos”, disse Jennifer Safavian, presidente da Autos Drive America, em um comunicado por e-mail. “Os fabricantes de automóveis dos EUA seriam melhor atendidos por políticas que reduzam barreiras para os fabricantes, facilitem regulamentos que dificultam a produção e criem maiores oportunidades de exportação.”
Sob uma emergência energética declarada por Trump em seu primeiro dia no cargo, os produtos afetados que recebem essa tarifa reduzida de 10% também incluem gasolina e diesel refinados, urânio, carvão, biocombustíveis e minerais críticos.
Partes dos EUA, incluindo o Noroeste do Pacífico e o Nordeste, dependem profundamente do fluxo de eletricidade ou gás do Canadá. E defensores da indústria do petróleo alertaram que mesmo um aumento de até 10% no custo dos insumos de petróleo bruto afetarão as refinarias do Meio-Oeste, que têm poucas opções viáveis a curto prazo para substituir com suprimentos americanos.
Vizinhos estudam reação
Até o início da noite deste sábado o México ainda não havia sido oficialmente notificado pelos Estados Unidos sobre a data de início da medida, de acordo com uma fonte ouvida pela Bloomberg.
Na manhã de sábado, a presidente mexicana Claudia Sheinbaum e altos executivos do governo se reuniram com representantes do setor privado para discutir os possíveis planos de ação. O ministro da Economia do México, Marcelo Ebrard, afirmou em uma rede social que as empresas se comprometeram a trabalhar com o governo para enfrentar “medidas de comércio arbitrárias”.
Já o Canadá está pronto para introduzir tarifas retaliatórias crescentes na tentativa de fazer com que os americanos se voltem contra as tarifas de 25% do presidente Donald Trump. A nova política já levou o governo canadense a repensar sua dependência de seu vizinho do sul.
As primeiras medidas do Canadá em uma guerra comercial visariam proteger os consumidores e, ao mesmo tempo, tentar reduzir a receita dos exportadores americanos o suficiente para criar pressão política sobre os representantes dos EUA e, em última instância, sobre Trump.
Enquanto estuda as medidas, o vizinho do norte dos americanos também lança mão de esforços diplomáticos para convencer os EUA de que estão levando a sério o controle fronteiriço.
Ministros do alto escalão canadense responsáveis pelos assuntos estrangeiros, imigração e segurança pública foram até Washington neste sábado para fazer lobby com republicanos. Na tentativa de exibir visualmente a força dispensada na fronteira, os funcionários utilizaram imagens em vídeo de helicópteros Black Hawk recém-adquiridos que estão sendo empregados em patrulhas. Já o premiê de Alberta, província no oeste do Canadá, convidou uma equipe da Fox News para filmar policiais que monitoram a parte da fronteira que a província compartilha com Montana.
O ministro das Finanças do Canadá, Dominic LeBlanc, enviou um vídeo a Howard Lutnick, escolha de Trump para secretário de comércio, que incluía imagens em time-lapse de uma área de fronteira para demonstrar a ausência de pessoas cruzando ilegalmente, de acordo com uma pessoa a par do assunto, que pediu para não ser identificada em discussões sobre conversas privadas.