Na novela que envolve o “divórcio” de Alexandre Birman e Roberto Jatahy na Azzas 2154, um coadjuvante terá papel fundamental para definir o futuro do grupo que surgiu da fusão de Arezzo e Grupo Soma em meados do ano passado. Trata-se de um conjunto de investidores institucionais com participação relevante no capital da companhia. 

Esses investidores não fazem parte do acordo de acionistas de Birman e Jatahy, mas têm poder de veto, apurou o InvestNews. O veto foi uma contrapartida dada pelas companhias por conta da diluição que esses acionistas relevantes teriam na operação.

Com isso, qualquer reorganização — seja uma separação de marcas ou uma mudança de estrutura societária — vai precisar do aval deste bloco.

Hoje, os principais acionistas institucionais da Azzas incluem nomes como BlackRock, Canada Pension Plan (CPP) e Westwood – há também fundos do Opportunity, embora possuam menos de 5% dos papéis atualmente, o que não enquadra o banco de investimento como acionista relevante.

O movimento adicionou uma nova camada de complexidade ao “divórcio” societário entre Birman e Jatahy, que comandam juntos a companhia desde a fusão entre Arezzo e Grupo Soma, anunciada em fevereiro e concluída em agosto do ano passado.

Segundo uma fonte próxima à empresa, os primeiros sinais de fissura no novo grupo começaram a surgir ainda no fim de 2024, ou seja, menos de seis meses após a conclusão do negócio.

A Azzas 2154 reúne um dos portfólios mais robustos do varejo de moda brasileiro, com marcas como Arezzo, Schutz, Anacapri, Reserva, Hering, Farm, Animale, Foxton, Fábula, Maria Filó e Abrand, entre outras.

O grupo, que registrou faturamento líquido de R$ 11,6 bilhões em 2024, atua em diversos segmentos — de calçados e acessórios a moda feminina, masculina e infantil — com forte presença em lojas próprias, franquias e canais digitais.

Caminhos

Em meio a tensões crescentes e queda no valor de mercado, os dois principais acionistas montaram arsenais jurídicos paralelos, com cinco escritórios de advocacia assessorando diferentes frentes da disputa, conforme informou a coluna Pipeline na semana passada. Inclusive, os institucionais também contrataram sua própria banca.

Apesar das especulações sobre uma possível volta às estruturas originais, como a volta da Arezzo e do Soma, esse não é o caminho mais provável. Ainda discute-se uma nova forma de governança que garanta a coexistência de Birman e Jatahy. 

Mas, se a conversa acabar indo para uma separação definitiva, uma das hipóteses é uma “divisão de bens”: cada grupo controlador ficaria com um conjunto de marcas que fizesse sentido com sua estratégia e perfil, como se estivessem repartindo os ativos de um casamento que não deu certo.

Juntos, os blocos Birman e Jatahy detêm cerca de 37,76% do capital da Azzas 2154 — sendo 21,31% vinculados ao grupo Birman e 16,45% ao grupo Jatahy.

Os dois fundadores firmaram um acordo de acionistas com duração de 10 anos, que prevê co-governança, direito de cada bloco indicar três conselheiros e regras de lock-up: apenas 25% das ações poderão ser negociadas após cinco anos, e o restante, só ao fim do prazo. Decisões estratégicas exigem consenso prévio entre os dois lados.

Influência

Essa não é a primeira vez que o grupo de investidores institucionais atua com protagonismo. Na semana decisiva para Arezzo e Soma selarem o acordo de fusão, período entre o fim de janeiro e início de fevereiro do ano passado, esse grupo vetou uma primeira proposta. Isso fez as negociações se arrastarem até a véspera do anúncio da fusão, que foi em um domingo, dia 4 de fevereiro.

Procurada pelo InvestNews, a Azzas disse que não comenta especulações de mercado. Também reforçou que a posição do grupo segue a mesma dada em um fato relevante divugaldo em 18 de março.

À época, a Azzas afirmou que Jatahy e Birman “dialogam constantemente sobre aprimoramento na governança do Azzas 2154”, de modo que “tais conversas podem culminar em eventuais ajustes no acordo de acionistas vigente”, mas que “não há qualquer negócio celebrado entre eles”.