A expectativa de uma aprovação sem remédios para a fusão entre Petz e Cobasi ficou mais distante após um parecer da área técnica do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O estudo identificou riscos relevantes de concentração em parte expressiva do território nacional, sinalizando que a operação exigirá uma análise mais aprofundada — e possivelmente ajustes.

Uma nota técnica do Departamento de Estudos Econômicos (DEE), divulgada nesta segunda-feira (26), mostra que, mesmo no cenário mais favorável às empresas, 220 micro-mercados locais já exigem análise aprofundada, o chamado rito ordinário. No cenário mais conservador, esse número sobe para 280 áreas de influência, definidas por um raio de até 15 minutos de carro ao redor das lojas.

O estudo também recalculou o nível de concentração de mercado usando o índice HHI (Herfindahl-Hirschman Index) — uma medida que vai de 0 (concorrência total) a 10.000 (monopólio). Quanto maior o número, mais dominado é o mercado por poucos players. Na fusão Petz–Cobasi, o HHI saltaria entre 700 e 800 pontos em diversas regiões, chegando a faixas entre 2.100 e 2.200 — o que coloca muitos mercados locais no nível de concentração moderada para alta, segundo os parâmetros do Cade.

Além disso, o DEE identificou ao menos uma loja da Petz mal geolocalizada, o que mascarava sobreposição com concorrentes. A falha levou o órgão a revisar todos os endereços fornecidos pelas redes e notou uma concentração maior.

Após o estudo do Cade, o research do BTG Pactual publicou um relatório em que avalia que a aprovação só deve acontecer no segundo semestre de 2025 — e “provavelmente com a imposição de remédios concorrenciais”. No jargão do Cade, “remédios” são ajustes que as empresas precisam fazer para conseguir aprovar uma fusão — como vender parte das operações ou prometer não subir preços.

A leitura do mercado contrasta com o que chegou a ser publicado pelo Brazil Journal no dia 19 de maio, que cravava que o Cade iria aprovar a fusão nos próximos dias sem restrições. O veículo citou fontes junto ao órgão que diziam que a concentração média da empresa combinada seria de apenas 28% e que o Cade estaria confortável com os níveis de rivalidade.

Até o momento, essa aprovação “limpa” não se concretizou.

Importante lembrar: a Superintendência-Geral do Cade tem a palavra final não é obrigada a seguir a recomendação do DEE, mas o parecer econômico é, tradicionalmente, um dos insumos mais relevantes para balizar a decisão final — que ainda não tem data para ser tomada.

A operação foi notificada ao Cade em 11 de novembro de 2024, já sob procedimento ordinário — caminho escolhido pelas próprias empresas, prevendo análise mais minuciosa. O prazo-base de 240 dias vence em 9 de julho, mas a SG pode solicitar até 150 dias extras caso o caso seja judicializado ou suba ao Tribunal da autarquia.