Várias outras companhias de capital aberto guardam ao menos uma parte do caixa em bitcoin (BTC). A brasileira Méliuz fez barulho em março ao converter parte do caixa em 45 unidades da cripto (US$ 4 milhões); depois, foi bem mais longe.
Com duas novas aquisições de cripto, uma em maio e outra em junho, ela passou a ter 596 unidades entesouradas – um milésimo da quantia da Strategy, mesmo assim, uma quantia respeitável; mais ainda na notação em reais: R$ 300 milhões.
Isso fez da Méliuz a maior detentora de bitcoin entre as empresas de capital aberto da América Latina – logo acima do Mercado Livre, que compra bitcoin desde 2021 e tem 570 unidades.
Veja aqui o top 15 das maiores detentoras de BTC, mais as posições de Méliuz e Mercado Livre, pela contabilidade do site Bitcoin Treasuries:
Mas existe uma diferença aí. No caso da Méliuz, a fatia em bitcoins equivale a quase todo o caixa da companhia, uma gestora de programas de cashback para varejistas. Israel Salmen, chairman e fundador da Méliuz, já disse que o plano é usar todo o dinheiro livre gerado pela empresa para comprar mais BTC.
No caso do Mercado Livre, a história é outra. Seus US$ 62 milhões em bitcoin equivalem a 1,4% do que a gigante argentina tem em caixa (US$ 4,5 bilhões). É um caso parecido com o da Tesla. A montadora de Elon Musk tem impressionantes US$ 1,25 bilhão em BTC, mas isso equivale a apenas 3,4% do caixa da (US$ 37 bilhões).
Acumuladoras de bitcoin
Por que tantas companhias têm bitcoin em caixa, afinal? Antes de responder, vale observar um ponto: não são tantas assim.
Do top 15 só duas não têm cripto como o negócio – a Tesla e a Block, companhia de pagamentos de Jack Dorsey, o fundador do Twitter. São estratégias como a do Mercado Livre, que usa cripto para diversificar o caixa.
As demais são mineradoras de BTC (caso da MARA Holdings, a segunda colocada), corretoras de cripto e membros de uma fauna mais recente: as Bitcoin Treasury Companies – “acumuladoras de bitcoin”, em outras palavras.
É o caso da Strategy, que ficou famosa no ano passado. A empresa era uma fabricante de software, que nasceu em 1989 com o nome de MicroStrategy. Em agosto de 2020, Michael Saylor, o fundador, converteu US$ 250 milhões do caixa da empresa em Bitcoin, basicamente para ganhar mais do que com títulos públicos. E não parou mais.
Nesse ínterim, Saylor começou a pegar dinheiro emprestado para comprar BTC. Pagava o que devia com as altas do bitcoin, embolsava o lucro, e aí comprava mais cripto para começar tudo de novo. Nunca mais parou.
Outra “estratégia” ali é emitir ações para comprar mais bitcoin. Não deixa de ser uma forma de dívida, já que significa ceder uma parte dos futuros lucros da empresa para os novos acionistas na forma de proventos.
Com tudo isso, a Strategy se tornou dona de 3% de todo o estoque mundial de bitcoins. Um assombro.
Claro: se a cripto cair com violência, como já caiu no passado, o castelo de cartas desaba. Mas hoje, com o bitcoin acima dos US$ 100 mil, no maior patamar de sua história, é tudo um mar de rosas.
Tanto que outras empresas copiaram o esquema de Michael Saylor – caso da Metaplanet, do Japão, que começou como uma administradora de hotéis e hoje intitula-se como uma Bitcoin Treasury Company. Hoje ela tem 15,5 mil bitcoins (US$ 1,7 bilhão).
Entra aí também a Semler Scientific (US$ 500 milhões em BTC), uma fabricante de equipamentos de medicina que segue fazendo seus artefatos, mas cujo preço da ação flutua hoje de acordo com a montanha de cripto ue ela tem em caixa – cripto também comprada com dívida. Em suma também é uma Bitcoin Treasury Company.
E é exatamente isso que a Méliuz diz ser hoje. Tanto que, em maio, a companhia emitiu R$ 150 milhões em ações para comprar bitcoin. O plano ali se tornar uma versão brasileira da Strategy.
Fato é que esse tipo de aposta segue crescendo. Dos 3,49 milhões de bitcoins que estão em algum tipo de reserva, as companhias de capital aberto representam a segunda maior fatia, com 852 mil BTC, atrás apenas dos fundos, com US$ 1,42 bilhão.