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A economia mundial se aproxima de um ponto de virada nesta semana. Na próxima quarta-feira (9), expira o prazo de 90 dias determinado pelo presidente americano Donald Trump para a formalização de acordos comerciais com parceiros estratégicos. Caso não haja consenso, novas tarifas entrarão em vigor.

Trump havia adiado a vigência das tarifas impostas em 2 de abril, no chamado “liberation day”. Após três meses de tensão provocada por ameaças comerciais a data chega ao fim e pode trazer volatilidade aos mercados em meio ao noticiário sobre fechamento de acordos ou pedidos de novos adiamentos por parte de outros países.

As chamadas tarifas “recíprocas”, segundo Trump, têm como objetivo reduzir o déficit comercial norte-americano e reaquecer a indústria nacional. A medida, no entanto, contraria décadas de avanço na liberalização do comércio global, promovida por instituições como a Organização Mundial do Comércio (OMC).

“Os recursos vão começar a entrar nos Estados Unidos no dia 1º de agosto”, afirmou Trump, referindo-se à data em que parte das novas tarifas deverá ser implementada.

A retaliação divulgada em abril varia e busca afetar países com os quais os EUA mantêm déficits comerciais. Alcança desde os 145% colocados sobre importações da China aos 10% de tarifa base imposta ao Brasil. A medida tem um amplo alcance e atingiu basicamente todos os parceiros comerciais dos EUA, como a União Europeia, que recebeu tarifas de 20%, além de países da Ásia e da Oceania, com grandes variações de alíquota, como Cambodja (49%), Laos (48%), Myanmar (45%) e Austrália (10%).

O que dizem os analistas?

Segundo a Bloomberg Economics, é provável que Trump eleve o tom contra parceiros comerciais nos próximos dias, como forma de aumentar sua margem de negociação — repetindo a estratégia adotada com o Japão.

A postura imprevisível do presidente norte-americano preocupa o mercado. Trump insiste que as tarifas são pagas por países estrangeiros, mas, na prática, o custo recai sobre os importadores e consumidores americanos, que enfrentam margens menores ou preços mais altos.

Caso as novas tarifas sejam implementadas conforme anunciado, a alíquota média sobre as importações dos EUA pode saltar de 3% (nível anterior ao governo Trump) para 20%, elevando os riscos sobre a economia do país.

Enquanto isso, as empresas enfrentam dificuldades para planejar produção, logística e estoques em meio a políticas comerciais instáveis — que mudam a cada declaração presidencial.

A economia americana, porém, segue robusta: o desemprego continua em queda e a inflação está sob controle. No entanto, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) mantém cautela diante dos efeitos das tarifas sobre produção, preços e consumo. Embora Trump pressione por cortes de juros, a autoridade monetária ainda aguarda dados mais consistentes antes de agir.

Aposta arriscada: tarifas, dívida e arrecadação

Além de provocar tensão entre aliados comerciais, as tarifas também têm um componente fiscal. Analistas observam que elas podem aliviar temporariamente as contas públicas, pressionadas após o Congresso aprovar um pacote de cortes de impostos e aumento de gastos de US$ 3,4 trilhões. Ainda assim, investidores seguem preocupados com a sustentabilidade da dívida pública norte-americana.

Scott Bessent, secretário do Tesouro, classificou o comércio como um dos três pilares da política econômica de Trump — ao lado de desregulamentação e desoneração tributária — com foco em estimular o investimento, o emprego e a inovação.

Impactos no Brasil e no mundo

Na América Latina, o foco da semana está na divulgação dos índices de inflação de junho. O Brasil publica seus dados na quinta-feira (11), com expectativa de que o IPCA ultrapasse a nova meta contínua de inflação. No mês passado, o índice acumulado ultrapassou 5% e manteve o argumento para o Banco Central elevar os juros.

México, Chile e Colômbia também divulgam seus índices de preços ao consumidor, enquanto o Peru define sua taxa básica de juros, com expectativa de corte de 0,25 ponto percentual.