O dólar futuro teve um ganho de até 2,9% frente ao real. As ações da Embraer (ADR), uma das principais exportadoras brasileiras para os EUA, despencaram até 9% no after market. O fundo iShares MSCI Brazil ETF, que rastreia ações brasileiras negociadas em bolsa americana, caiu até 1,9%.
Trump justificou a medida alegando que o Brasil estaria promovendo “ataques insidiosos contra eleições livres” e contra os “direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos”. A declaração marca uma escalada retórica contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sinaliza uma reaproximação política com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que enfrenta julgamento por tentativa de golpe.
Brasil sai de tarifa mínima para alvo prioritário
Inicialmente, o Brasil enfrentaria apenas a alíquota mínima de 10% dentro do pacote de tarifas recíprocas anunciado por Trump em abril. No entanto, a nova carta foi a primeira grande revisão para cima nas taxas e o primeiro caso de um país não previamente sinalizado para aumento — evidência, segundo analistas, de uma frustração pessoal crescente por parte do presidente americano.
“Produtos siderúrgicos, equipamentos de transporte (especialmente aeronaves), máquinas especializadas e minerais não metálicos representam parcela significativa das exportações brasileiras aos EUA,” explicou Felipe Arslan, CEO da Morada Capital.
Trump cita Bolsonaro e ataca julgamento no Brasil
Durante um evento na Casa Branca, Trump afirmou que o Brasil “não tem sido bom conosco” e que sua decisão foi “baseada em fatos muito substanciais e no histórico passado”.
Em outro trecho da carta, o ex-presidente norte-americano pediu o fim do julgamento de Jair Bolsonaro, classificando o processo como uma “caça às bruxas” e dizendo que “esse julgamento não deveria estar acontecendo. Deveria acabar IMEDIATAMENTE”.
A reação do governo brasileiro veio rapidamente. No encerramento da cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro, Lula rebateu com firmeza: “Trump deveria cuidar dos assuntos dele”, disse, chamando a ameaça tarifária feita por redes sociais de “irresponsável”.
O Itamaraty convocou o encarregado de negócios dos EUA em Brasília para prestar esclarecimentos. Já o Supremo Tribunal Federal, que conduz o processo contra Bolsonaro, optou por não comentar.
Tensão em meio à cúpula dos BRICS
A escalada ocorre poucos dias após Trump ameaçar os países do BRICS por supostas políticas “antiamericanas”. Na declaração oficial da cúpula, os líderes — entre eles Lula — criticaram tarifas distorcivas e ataques militares ao Irã, sem citar diretamente os EUA, mas contrariando posições defendidas por Trump.
Apesar do tom duro, o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, buscou manter a diplomacia: “Qualquer medida contra o Brasil seria injusta e prejudicaria também a economia americana,” disse. Ele ainda destacou que o Brasil mantém superávit dos EUA na balança comercial — importando US$ 44 bilhões em 2024, contra US$ 42 bilhões em exportações brasileiras para os EUA, segundo o Censo dos EUA.
Diferentemente de outros países citados por Trump — como Iraque, Filipinas e nações africanas — o Brasil está entre os 20 principais parceiros comerciais dos EUA, e não possui superávit comercial frente aos americanos. Isso torna a ameaça tarifária ainda mais incomum e potencialmente danosa para ambos os lados.
Trump manteve inalteradas as tarifas sobre a África do Sul, outro membro do BRICS. O bloco foi ampliado recentemente com a entrada de Etiópia, Egito, Irã, Indonésia e Emirados Árabes Unidos.