O tarifaço murchou, definitivamente. 44,6% das das exportações brasileiras, em termos de valor, ficaram na tarifa mínima que os EUA cobram mundo afora, a de 10%, depois da ordem executiva que Trump assinou na quarta (30).

Outra parcela, de 19,5%, ficou acima disso, mas ainda assim abaixo do teto de 50%. Ou seja: 64,1% não estão na tarifa máxima. Os números são uma estimativa divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento (MDIC), com base nos valor dos ítens exportados em 2024.

O interessante é que boa parte dos itens que mais exportamos para lá ficaram com as menores tarifas.

Petróleo e derivados são a categoria campeã. Foram US$ 7,96 bilhões em 2024. Só ela já cobre 19% do total que mandamos para os EUA no ano passado (US$ 40,9 bilhões). E ela agora está nos 10%.

O terceiro item que mais enviamos para os EUA são aviões e peças aeronáuticas, por cortesia da Embraer. Foram US$ 2,7 bilhões no ano passado.

E aí faz mais diferença que o petróleo. Enquanto a commodity encontraria mercado em qualquer outro lugar, com a Embraer é diferente. Metade da receita da Embraer vem dos EUA. E nenhuma outra economia do mundo tem bala para consumir os dois grandes produtos da Embraer, aviões regionais e executivos, com o apetite americano.

Até abril deste ano, essa categoria pagava zero. Desde então, a Embraer vinha lidando com a alíquota de 10%. O impacto para a Embraer foi de 0,9 ponto percentual na margem Ebitda, algo “bem equacionado”, disse Francisco Gomes Neto, o CEO, à repórter Raquel Brandão, do InvestNews.

A ameaça de uma tarifa de 50% configurava praticamente um embargo comercial à fabricante de aeronaves. Sim, os aviões executivos da empresa são montados na Flórida. Mas boa parte da fuselagem vem do Brasil, então até esses estariam expostos à tarifa-monstro.

Fato é que o recuo de Trump, mantendo a Embraer nos 10%, foi uma lufada de ar fresco para a empresa. Tanto que, logo após o anúncio da ordem executiva, as ações da empresa passaram por esta alta aqui:

Celulose representou US$ 1,69 bilhão em exportações no ano passado. Com essa categoria fora do tarifaço bravo, temos o seguinte: das que formam o top 5 de exportações para os EUA, três escaparam dos 50%.

Suco de laranja completa o time dos que escaparam e, ao mesmo tempo, têm exportações relevantes: US$ 1,3 bilhão em 2024.

No cômputo geral, essas quatro categorias sozinhas equivalem a um terço do que vendemos para os EUA (32%) – pelas contas do InvestNews, com base em números do US Census Bureau.

As demais que ficaram de fora do teto completam os 64,1% que o MDIC divulgou – o que converte o tarifaço, em grande parte, a um tarifinho.

Agora é aguardar o destino do café, o 4º item mais exportado. Ele segue nos 50%, mas o Secretário de Comércio dos EUA já afirmou que pode vir uma isenção global ao estimulante preto. E deixar o Brasil de fora dessa não faria o menor sentido – de cada 10 xícaras tomadas nos EUA, quatro vêm de grãos plantados no Brasil.