Em 2025, o setor de educação deixou de ser um aluno em recuperação para se tornar protagonista na B3. Entre as 12 ações com maior valorização na bolsa brasileira no ano até 13 de agosto, três são de empresas educacionais.

A Cogna lidera o movimento com uma disparada de 170,43%, segunda melhor performance de toda a bolsa. Não muito atrás, aparecem Ânima (+118,23%) e Ser Educacional (+101,88%), refletindo uma onda de reprecificação que tem mais a ver com transformação interna do que com um milagre externo.

Esses números sugerem que o setor pode estar vivendo uma virada após anos tentando resolver desafios como o fim do Fies, incertezas sobre a regulação para o ensino a distância (EAD), endividamento elevado e, claro, os resquícios do impacto da pandemia.

Para lidar com esse cenário, a Cogna – dona de marcas como Kroton, Somos, Anhanguera, Anglo e Red Balloon – implementou um amplo processo de reestruturação, que envolveu mais de 5 mil demissões e o fechamento de 60 unidades. A empresa também mudou de posicionamento: de um conglomerado de ensino superior, passou a se apresentar como uma empresa de serviços educacionais, que atende desde a pré-escola até a pós-graduação.

Na prática, o que a Cogna fez foi replicar o know-how no desenvolvimento de material didático – ponto forte do sistema Anglo de Ensino – e de vídeo-aulas, base para os cursos oferecidos no braço de EAD (Educação à Distância) em várias outras frentes, como cursos de inglês e profissionalizantes.

Um bom exemplo é a criação da Plataforma Vomp, voltada a infoprodutores, que são criadores ou influenciadores considerados uma autoridade em um determinado tema, como direito, medicina ou finanças. Essa plataforma apoia também faculdades parceiras, que oferece desde soluções de pós-graduação até gestão de cobrança.

Outra aposta da companhia são soluções para o setor público que, na visão de Roberto Valério, CEO da Cogna, tem um dos maiores potenciais de crescimento neste momento. Hoje, a venda de materiais didáticos e licenciamento de metodologias para governos já rende cerca de R$ 400 milhões por ano.

Esses ajustes se refletiram em uma melhora operacional da companhia: entre 2020 e 2024, o Ebitda da companhia cresceu de R$ 640 milhões para R$ 2,25 bilhões e a geração de caixa saltou de R$ 240 milhões para R$ 1 bilhão.

A desalavancagem foi um ponto central na estratégia. A relação entre dívida líquida e EBITDA, indicador-chave de solvência, caiu de 2,15 vezes para 1,22 vez entre o primeiro trimestre de 2022 e o segundo trimestre de 2025. Apenas no último ano, a dívida líquida recuou mais de R$ 500 milhões. A empresa projeta encerrar 2025 com um fluxo de caixa livre de R$ 530 milhões, valor suficiente para continuar reduzindo dívidas e, eventualmente, distribuir dividendos.

Regulação como aliada dos grandes

Um dos catalisadores recentes para a valorização das ações do setor foi a publicação do novo marco regulatório do EAD, em maio de 2025. As novas regras, diz Valério, aumentaram as exigências de infraestrutura e proibiram o ensino 100% online em áreas como saúde, limitando a atuação de players menores que competiam exclusivamente por preço.

A regulação elevou custos, mas beneficiou os grandes grupos listados na bolsa, mais preparados para se adequar às novas exigências. Com polos equipados com laboratórios, internet de alta velocidade e suporte pedagógico, a Cogna já operava acima dos padrões mínimos — e foi, por isso, menos impactada negativamente do que os concorrentes menos estruturados.

O forte desempenho das ações dos grandes grupos educacionais — liderados por Cogna, Ânima e YDUQS — não é apenas reflexo de melhorias operacionais, mas também um sinal claro de que o mercado está precificando quem tende a sair fortalecido do novo ciclo regulatório. Ainda que os efeitos práticos da regulação devam se consolidar nos próximos trimestres, os preços das ações indicam uma leitura antecipada dos investidores sobre os prováveis vencedores desse novo ciclo.

Aquisição estratégica e foco no essencial

Mesmo com a prioridade voltada à desalavancagem, a Cogna voltou ao mercado de fusões e aquisições com a compra da Faculdade de Medicina de Dourados (FMD), no Mato Grosso do Sul. A negociação de R$ 54,4 milhões agregou 60 vagas de medicina autorizadas pelo MEC, a um valor por vaga inferior ao praticado no mercado: R$ 900 mil, enquanto a média gira em torno de R$ 1,5 milhão. Segundo Valério, o preço mais baixo se deve ao fato de a instituição ainda estar em fase de implantação, sem alunos.

Setor em ascensão

Embora a Cogna tenha sido o destaque de 2025 até aqui, os ventos sopram a favor de outras companhias do setor. Além de Ânima e YDUQS, com ganhos superiores a 100% no ano, empresas menores como Cruzeiro do Sul (+61,22%) e Ser Educacional (+59,27%) acompanham o movimento de recuperação.