Em um ano a Americanas fechou nada menos do que 101 lojas. O que pode soar negativo para uma varejista foi um remédio necessário para a companhia melhorar sua rentabilidade. Ao fim do segundo trimestre, a receita cresceu 25%, para R$ 6,9 bilhões e a companhia registrou pela primeira vez um Ebitda positivo num trimestre desde a descoberta da fraude bilionária em seus balanços, há mais de dois anos. O prejuízo líquido caiu 95% ante o mesmo trimestre de 2024, de R$ 1,85 bilhão para R$ 98 milhões.

Em seu plano de reorganização, a varejista tem dado prioridade em otimizar sua operação física, que cresceu 35,7% em volume de vendas (GMV, na sigla em inglês) no período. Ao fim de junho, a empresa tinha 1.521 unidades, 40 a menos que três meses antes. 

Em entrevista ao InvestNews, Leonardo Coelho, CEO da Americanas, afirmou que a ideia é continuar se desfazendo de operações deficitárias, mas que a empresa está chegando em seu “ponto de equilíbrio” para, a partir daí, voltar ao plano de crescimento.

“O número ideal que temos em mente é em torno de 1.500 lojas. A gente ainda deve fechar outras ao longo dos próximos trimestres”, diz Coelho. A empresa previa abrir lojas este ano, mas diante do cenário macroeconômico, colocou o pé no freio. “Se acontecer, serão poucas; um volume [de aberturas] maior somente no ano que vem.”

Fundada em 1929 e mergulhada numa crise após a descoberta da infame fraude contábil com a manipulação de balanços para maquiar dívidas, em janeiro de 2023, a empresa partiu para uma recuperação judicial e tenta recuperar a credibilidade junto a investidores e consumidores.

Segundo Coelho, a empresa tem obtido um bom desempenho de vendas no Nordeste, mas ainda está patinando nas regiões Sul e Sudeste. “Neste momento, o Nordeste parece, para a gente, uma região mais resiliente, onde a marca penetra mais rapidamente. Ainda temos um trabalho a fazer no Sul, especialmente, e no Sudeste.”

Na busca por uma operação mais rentável, a direção da Americanas “não tem vergonha de pedir desconto e renegociar seus aluguéis”, segundo o executivo. Foi assim que obteve um desconto com o fundo imobiliário Max Retail de até 58% no valor a pagar por unidades no Nordeste. “Estamos fazendo o que é preciso para defender os interesses dos nossos acionistas, de uma forma geral, e da companhia, pensando no longo prazo.”

A lógica na renegociação dos contratos são as localizações dos imóveis, menos atrativas em relação ao que foram no passado. Alguns pontos mais antigos estão localizados em praças que perderam potencial de vendas com o passar do tempo, como unidades nas regiões centrais de Vitória (ES), Recife (PE), Curitiba (PR) e Campo Grande (MS).

Além da situação desafiadora da companhia, Coelho ressalta a dificuldade do varejo em prosperar frente a um cenário de juros altos e de novos “concorrentes”, como o mercado de apostas on-line. “Fatores como a taxa de juros alta há algum tempo, o endividamento das famílias e a pressão de gastos adicionais com bets e coisas do tipo acabaram drenando parte dos recursos que o cliente, especialmente das classes B e C, que é o nosso na loja física, tinha disponível para comprar.”

A volta dos cartões e um novo programa de fidelidade

Outrora relevante na emissão de cartões de crédito, a empresa voltou a investir em sua operação financeira. Antes isso ficava a cargo da Ame Digital, braço descontinuado com a recuperação judicial da companhia. A empresa não divulga o número de cartões emitidos nesta nova fase, mas está emitindo há três meses – em parceria com a administradora BrasilCard.    

“A gente começou fazendo um teste para ver como isso impactava o nível de serviço em loja, para garantir que não tenha fila no caixa e tudo mais. Ficamos satisfeitos com esse primeiro piloto e começamos a ampliar agora”, afirma o CEO. “Estamos chamando essa área internamente de PCP. É a nossa maior área em termos de crescimento de resultados hoje.”

A empresa também deve lançar nos próximos meses um novo programa de fidelidade chamado “Cliente A”. Acoplado à plataforma de benefícios Dotz, a ideia é que os clientes possam amealhar pontos para obter descontos e comodidades nas lojas da empresa. “A gente quer premiar esse cliente recorrente que visita as nossas lojas todos os meses”, diz Coelho. “Com o lançamento do programa de fidelidade, provavelmente no terceiro trimestre, vamos acelerar o roll out de cartões de crédito também.”

Venda de ativos

A companhia ainda mantém alguns ativos à venda, o que faz parte do plano de recuperação judicial aprovado pelos credores. A empresa tem até fevereiro para conduzir o processo competitivo pelos ativos do hortifrúti Natural da Terra e pela Uni.co, dona das marcas Imaginarium e Puket. 

Conforme antecipou o InvestNews, a empresa iniciou uma nova rodada de propostas pela rede de hortifrúti. O processo de coleta de ofertas não vinculantes, conduzido pelo BR Partners, deverá ser finalizado até o fim de agosto.

“O processo de M&A é um processo que demora alguns meses”, afirma a CFO, Camille Faria, sem dar detalhes sobre o processo de venda dos ativos. Ainda de acordo com a executiva, embora os ativos, em especial a Uni.co, operem de forma consistente, os negócios fogem da atividade dentral da Americanas. “Os esforços da companhia estão absolutamente focados para essa recuperação operacional.”