Quando “Manas”, da diretora Marianna Brennand, começou sua trajetória nos festivais internacionais, não se imaginava que o filme se tornaria também uma bandeira importante para o empresariado brasileiro. A obra, que retrata violência sexual contra meninas na Ilha de Marajó, despertou não só empatia do público e elogios da crítica, mas também mobilização institucional de empresários e personalidades estrangeiras.

O filme chegou a ser cotado para representar o Brasil no Oscar 2026. No entanto, apesar de ampla pressão, o filme não foi escolhido. A Academia Brasileira de Cinema optou por “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, como representante nacional.

Nos últimos dias, contudo, “Manas” surgiu como um forte concorrente para ser o representante brasileiro no Oscar. Parte do impulso veio após o ator norte-americano Sean Penn se tornar produtor executivo da obra, para ampliar sua visibilidade.

O longa foi exibido em Los Angeles no último final de semana, com a presença de Penn, da atriz Julia Roberts e de outras personalidades de Hollywood, incluindo membros votantes da Academia, que decide os vencedores do Oscar.

Carta aberta de empresários

Paralelamente, no Brasil, mais de 70 empresários de diferentes setores assinaram uma carta em apoio à candidatura do filme, que tem Dira Paes no elenco. O texto distribuído pela assessoria de imprensa da distribuidora Vibra Energia (antiga BR Distribuidora) pedia explicitamente que “Manas” fosse o filme indicado para o Oscar.

“O filme lança luz sobre a urgência de enfrentar a violência contra mulheres e crianças, realidade dolorosa e ainda silenciada no Brasil e no mundo sem distinção de classe social ou fronteiras”, diz a carta, assinada por representantes de companhias como Magazine Luiza, Vale, MRV e outras.

O documento destaca que levar a história do longa ao Oscar “vai além de um reconhecimento artístico e cultural para o cinema brasileiro”. “É uma oportunidade de amplificar as vozes de meninas e mulheres que, por tanto tempo, foram invisibilizadas. É também uma forma de afirmar, diante do mundo, a potência do cinema nacional sob o olhar feminino — de uma realizadora mulher que busca despertar empatia, promover diálogo e inspirar transformação social”, afirma o documento.

Em nota, Ernesto Pousada, CEO da Vibra, pontua que “dar visibilidade a essa causa urgente, que atinge tantas crianças e adolescentes, é fundamental”. “Todas as ações e esforços para proteger nossas crianças precisam ser priorizadas. O filme ‘Manas’ tem um papel poderoso nesse sentido, por meio da cultura é possível sensibilizar e mobilizar para que essa causa não seja silenciada”, destaca o executivo.

Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil, declarou que o longa “dá voz a uma realidade que o Brasil não pode mais ignorar”. “A violência sexual contra crianças e adolescentes é uma das formas mais cruéis de desigualdade e precisa ser enfrentada com coragem, união e compromisso coletivo. Apoiar essa obra é também apoiar um movimento de transformação social, que rompe o silêncio e coloca a proteção da infância no centro
das nossas prioridades”, pontua Trajano.

O Agente Secreto

Apesar desse forte movimento, que evidencia uma crescente disposição de empresas em se posicionar publicamente sobre temas culturais e sociais, “Manas” não foi eleito representante do Brasil para a cerimônia do Oscar.

O longa figurou entre os seis finalistas divulgados em 8 de setembro de 2025, ao lado de “O Agente Secreto”, “Baby”, “Kasa Branca”, “O Último Azul” e “Oeste Outra Vez”. O filme que acabou sendo escolhido pela Academia para representar o Brasil foi “O Agente Secreto”, estrelado por Wagner Moura.

Entre os motivos apontados por críticos e imprensa estava seu histórico em festivais internacionais, com prêmios em Cannes neste ano, e sua já consolidada visibilidade no cenário global, que parecia conferir-lhe maior “força de campanha”.

Primeiro longa de ficção da diretora Marianna Brennand, “Manas” estreou no circuito brasileiro de cinemas no dia 15 de maio, com distribuição da Paris Filmes. O filme já foi premiado mais de 20 vezes desde a sua première mundial no Festival de Veneza, em agosto do ano passado. Na cidade italiana conquistou o Director’s Award, honraria máxima da mostra Giornate Degli Autori.