Foi uma semana e tanto para o Ibovespa. O principal índice da bolsa brasileira quebrou nada menos que quatro recordes de fechamento: foram três seguidos, entre segunda-feira e quarta-feira, e agora nesta sexta-feira. Foi um a mais do que o número de cortes que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pretende entregar em 2025.

E o Ibovespa bem que tentou, mas não conseguiu fechar a semana acima da marca dos 146 mil pontos. O índice chegou a superar o nível durante três sessões seguidas, mas vai deixar para a próxima semana a busca desse patamar.

Nesta sexta-feira, o índice encerrou o pregão em 145.838,44 pontos, com alta de 0,23%. A valorização acumulada nesta semana alcançou 2,01%. No ano, o referencial sobe 21,41%.

Em dólar, o avanço da bolsa brasileira segue ainda mais impressionante: são 35% em 2025. A renda variável, portanto, está olhando para a imagem do CDI cada vez menor pelo retrovisor. O ganho do índice acionário está em 233% do CDI.

A origem da força do indicador da B3 está na política monetária americana. Os primeiros recordes da semana, na segunda-feira (15) e na terça-feira (16), refletiram a expectativa para a retomada dos cortes de juros pelo Fed. E, após a quarta-feira (17), quando o BC americano efetivamente reduziu as taxas em 0,25 ponto percentual, o otimismo dos investidores ganhou reforço na sinalização de que vem mais dois cortes pela frente, um cenário que ainda não estava totalmente nos preços do mercado.

E por que o movimento dos juros lá fora energiza a nossa renda variável? É que a perspectiva de juros mais baixos nos EUA leva parte dos investidores a arriscar mais fora da renda fixa. Além disso, a queda das taxas mantém o dólar mais fraco, diante de uma saída, ainda que bem parcial, de recursos para outros mercados.

E tem mais um fator, com uma bolsa americana bem mais cara do que seus pares de mercados emergentes, os investidores globais têm mais incentivo para buscar retornos em mercados de países em desenvolvimento, caso do Brasil.

No mundo dos investimentos, uma boa medida para saber se o preço de um ativo de renda variável está caro ou barato é usar um múltiplo chamado “preço sobre lucro” ou P/L. Funciona exatamente como o nome sugere, é a relação entre o valor de mercado (a soma do valor das ações de uma empresa ou índice) sobre o lucro.

No caso do Ibovespa, esse múltiplo está atualmente em 9,4 vezes. Isso significa que o valor dos papéis negociados na B3 de companhias que fazem parte do indicador é 9,4 vezes maior do que o lucro somado desse grupo. Comparado com a média dos últimos 15 anos de 11 vezes, podemos dizer que a bolsa brasileira está relativamente barata, cerca de 17% abaixo.

Mas comparado ao nível no qual estão os mercados americanos, o nosso mercado parece uma pechincha. O P/L do S&P 500, um dos principais referenciais das bolsas de Nova York, está atualmente em 30 vezes.

O enfraquecimento do dólar globalmente, reforçado pela redução dos juros nos EUA, também estimula uma busca por diversificação fora dos mercados americanos. Claro que não se trata de um movimento maciço, mas qualquer ponto percentual que resolve deixar a renda fixa ou a variável nos EUA já representa um fluxo muito significativo para os emergentes.

No Brasil, após a decisão do Fed, o dólar, que já acumula queda de quase 14% no ano frente ao real, passou a operar em leve alta. Conforme a economista do ASA, Andressa Durão, a moeda americana tem pouco espaço para cair mais, porque o nível atual já incorpora a perspectiva de dois cortes adicionais em 2025 além do realizado na quarta-feira.

Nesta sexta-feira, o dólar fechou cotado a R$ 5,3205, com levíssima alta de 0,02%. A moeda americana, porém, fecha a semana com uma queda acumulada de 0,61%. Entre a segunda-feira e a quarta-feira, o dólar chegou a cair para uma mínima de R$ 5,27 em meio à expectativa para a decisão do BC americano. Consumado o corte, a divisa dos EUA passou, basicamente, para um comportamento de estabilidade.

Nos EUA, as bolsas de Nova York fecharam em alta também motivadas pelo posicionamento do Fed e por reafirmações de integrantes do BC após a decisão sobre a perspectiva de ocorrerem mais dois cortes de taxas em 2025, em outubro e em dezembro.

Os três principais índices acionários de Nova York terminaram em alta e bem perto dos recordes recentes. O S&P 500 subiu 0,49%, para 6.664,36 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq registrou variação positiva de 0,72%, para 22.631,47 pontos. O Dow Jones registrou novo recorde de fechamento após uma alta de 0,37%, para 46.315,27 pontos.

Na semana que marcou o reinício dos cortes pelo Fed, o Dow Jones acumulou uma alta de 1,05%. Já o S&P 500 subiu 1,17%, enquanto o Nasdaq teve um desempenho ainda melhor, com avanço de 2,22% em cinco pregões.