A desvalorização do peso está forçando a Argentina a esgotar suas reservas em dólar. O país também está endurecendo as restrições financeiras para evitar uma desvalorização que prejudicaria o plano de estabilização do presidente Javier Milei.

Os profundos cortes de gastos e as reformas abrangentes de Milei foram bem recebidos por investidores globais logo após a posse de Milei no final de 2023. A inflação logo começou a ceder, ficando abaixo de 100% e consolidando o apoio a Milei por um tempo.

Mas, à medida que ele começou a sofrer reveses políticos que prejudicaram sua capacidade de continuar promovendo sua agenda, títulos, ações e moeda do país voltaram a desvalorizar.

A derrocada deixou o governo lutando para manter o peso dentro da banda de negociação estabelecida como parte de um empréstimo de US$ 20 bilhões obtido do Fundo Monetário Internacional este ano.

Intervenção

O peso atingiu o limite superior da faixa — em torno de 1.475 por dólar. Com a moeda caindo em quase todas as sessões nas últimas duas semanas, as autoridades tiveram que intervir. Foram implementados controles comerciais mais rígidos e garantias aos investidores que não permitiriam a queda do peso, o que poderia alimentar outra espiral inflacionária.

Também tiveram que intervir nos mercados, gastando US$ 53 milhões na quarta-feira (17) e US$ 379 milhões na quinta-feira (18) para sustentá-lo.

Operadores de câmbio estimam que o banco central aumentou significativamente as vendas de dólares para manter o peso estável.

“Confiamos no programa e não vamos nos afastar dele”, disse o ministro da Economia, Luis Caputo, em um podcast. “Vamos vender até o último dólar no teto da banda.”

As medidas do governo até agora pouco fizeram para tranquilizar os investidores, que vêm perdendo a fé na capacidade de Milei de reestruturar a segunda maior economia da América do Sul.

Os eleitores, que já lutavam para se adaptar a uma economia em desaceleração e a um custo de vida mais alto, ficaram irritados com os cortes de investimentos em saúde e educação, além de um escândalo de corrupção envolvendo a irmã de Milei.

Com sua popularidade em queda, a vitória da oposição peronista de esquerda na principal província do país, Buenos Aires, foi vista como um sinal de que ele não conseguirá levar adiante o restante de sua agenda. As derrotas sucessivas no Congresso só aumentaram as preocupações.

“Provavelmente é muito cedo para dizer que a história está desmoronando, mas certamente as novas informações que recebemos foram todas negativas”, disse Christine Reed, gestora de portfólio de dívida da Ninety One em Nova York. “A perspectiva para as eleições de meio de mandato piorou drasticamente.”

Queda dos índices na Argentina

O índice de ações S&P Merval é o pior entre mais de 90 benchmarks globais monitorados pela Bloomberg este mês.

Os títulos em dólar da Argentina estão liderando as perdas dos mercados emergentes no período, com as notas com vencimento em 2035 atingindo a mínima de um ano, após as duas piores semanas já registradas.

Os rendimentos, que estavam em 10,27% no início de setembro, subiram para 17%, levando a dívida do país de volta ao território considerado problemático.

A moeda perdeu terreno em quase todas as sessões desde a votação em Buenos Aires, incluindo uma queda de 7% logo após o resultado.

Para evitar que a moeda rompa a paridade variável estabelecida pelo governo, as autoridades venderam US$ 53 milhões e depois mais US$ 379 milhões.

“No ritmo atual, o governo precisaria de US$ 9,75 bilhões para defender a banda até as eleições”, disse Santiago Resico, economista do one618 Group, uma corretora de Buenos Aires, após a intervenção de quinta-feira. “Parece um custo muito alto para o governo e pode levá-lo a fazer mudanças no esquema cambial.”

O banco central da Argentina suspendeu alguns controles cambiais e concordou em deixar o peso flutuar livremente.

A faixa estabelecida se expande gradualmente em 1% ao mês em ambas as direções, dividida igualmente em incrementos diários, como parte do acordo de empréstimo com o FMI.

Assim que o peso atingir o piso ou o teto da faixa — como aconteceu nesta semana — as autoridades monetárias poderão intervir diretamente.