A Gerdau anunciou nesta quarta-feira (1) que deve investir R$ 4,7 bilhões em 2026, uma queda de 21,7% do que a companhia havia previsto. O movimento era, em certa medida, esperado. Em diversas ocasiões, o CEO Gustavo Werneck afirmou que a metalúrgica poderia reduzir investimentos em meio à pressão causada pela oferta do aço chinês no mercado nacional.

A participação do produto chinês tem abocanhado quase um quarto do mercado brasileiro e sido uma pedra no sapato da Gerdau. Na primeira metade do ano, as vendas da empresa no mercado interno caíram 4%, para R$ 12,5 bilhões.

Em entrevista de abril aos jornalistas do InvestNews, Lucinda Pinto e Rikardy Tooge, o CEO já sinalizava que sem medidas de intensificação da defesa comercial do setor brasileiro pelo governo federal, a empresa iria “debater se vale a pena continuar com o volume de investimentos e recursos que coloca no Brasil”.

Ao divulgar o resultado do segundo trimestre, a Gerdau afirmou que seguia enfrentando um ambiente “cada vez mais incerto”, com alta penetração de aço importado “em condições de competição desleal”, queda nos preços locais e tendência de desaceleração de demanda devido às taxas de juros em patamares elevados.

A questão central é que, hoje, o país consome 4 milhões de toneladas de vergalhão por ano. Já a China tem uma capacidade instalada compatível com 400 milhões de toneladas – estrutura montada nos anos em que teve seu crescimento sustentado por investimentos em infraestrutura e construção civil.

Com a desaceleração da economia chinesa dos últimos anos, há um enorme excedente de aço que está sendo vendido mundo afora a preços muitas vezes abaixo do custo de produção. 

A expectativa da companhia era de que o governo federal revisse a política de cota-tarifa de 25% para alguns produtos do setor siderúrgico, considerada “ineficiente” pela gestão da Gerdau. A sobreoferta do aço chinês tem sido debatida mundo afora. A União Europeia avalia propor no início da próxima semana um mecanismo de longo prazo que também reduzirá as cotas existentes do bloco para aço estrangeiro em quase metade,segundo a Bloomberg.

Por lá, as importações de aço também estarão sujeitas à nova tarifa, o que reflete a política de outros países, como os Estado Unidos, que impõe uma taxa de 50% sobre o aço importado.

Para onde vão os investimentos

No fato relevante de hoje, a diretoria da Gerdau informou que o montante estimado para manutenção de suas instalações será de aproximadamente R$ 3 bilhões por ano, nos próximos cinco anos. É o mesmo valor previsto para a atividade neste ano.

Do total orçado para 2026, os investimentos em manutenção serão de R$ 2,9 bilhões e os desembolsos em projetos receberão R$1,8 bilhão.

A companhia afirmou ainda que prevê um resultado operacional anual medido pelo Ebitda de R$ 1,5 bilhão derivado dos principais projetos de investimento.

Entre os principais projetos está o da mina de minério de ferro em Miguel Burnier (MG), que deve consumir R$ 5,2 bilhões, dos quais R$ 4 bilhões já foram desembolsados, conforme declarado no fato relevante. O montante de R$ 1,2 bilhão restante será aplicado até 2027.

Em Miguel Burnier, a Gerdau informa que o projeto de mineração deve gerar um Ebitda adicional de R$ 400 milhões em 2026, considerando uma curva de aprendizado de 12 meses e que depois disso o ganho estimado é de R$1,1 bilhão por ano.