Quem buscou diversificar seus investimentos em dólar viveu “mixed feelings” desde a metade de 2024: ou a moeda americana não parava de subir, como no ano passado, ou manteve uma queda constante, como neste ano. E aí, ficava difícil acertar a hora de aplicar. Mas agora chegou a hora de tirar da gaveta os planos de investir no exterior.

Desde meados do ano, a moeda americana tem estado muito mais comportada. A volatilidade praticamente sumiu e o dólar se estabilizou em um patamar bem mais baixo do que o visto no início de 2025.

De julho para cá, o dólar acumulou uma leve queda de 1% frente ao real. No ano, a moeda dos EUA recua 14,74%, ou seja, a queda se concentrou, basicamente, na primeira metade do ano. Além disso, a perspectiva da taxa de câmbio é se manter abaixo de R$ 5,40, pelo menos, nos próximos meses.

É justamente a volatilidade que traz um dos principais riscos e atrapalha a vida dos aplicadores que ficam tentando acerta o melhor momento de investir. Por isso, a calmaria cambial ajuda quem tem planos de manter uma parcela do patrimônio em moeda forte.

A estrategista-chefe da Nomad, Paula Zogbi, cita oportunidades, por exemplo, em títulos de renda fixa emitidos tanto pelo governo americano quanto por empresas de maior qualidade de crédito. “É uma chance de travar, em dólar, taxas prefixadas ainda elevadas.”

Uma possibilidade para o investidor brasileiro é aplicar em bonds de companhias brasileiras com melhor perfil de crédito. “Lá fora, o mercado enxerga nossas gigantes, como Petrobras e Vale, como empresas de mercados emergentes que precisam pagar um prêmio maior comparadas aos pares americanos”, explica. Mas, para os brasileiros, são os grupos mais sólidos do mercado.

A Petrobras tem um bond com vencimento em 2029 que hoje está sendo negociado com uma taxa de retorno (yield) de 5,80% ao ano. Outro papel com prazo em 2035 oferece um yield de 6,10% anual.

O bond da Vale com vencimento em 2034 é negociado a uma taxa de 8,20%. Outro título em dólar da mineradora com prazo até 2039 paga atualmente um yield de 6,87% ao ano.

No caso dos títulos públicos americanos, os chamadas Treasuries, os retornos prefixados se mantêm perto dos 4% ao ano. O papel de 5 anos, por exemplo, está pagando uma taxa de 3,74%. Já o de 10 anos está com um retorno de 4,15% anuais.

Para quem busca investir em dólar, mas quer manter a possibilidade de sacar o dinheiro a qualquer momento, a estrategista da Nomad cita como opção de aplicações os ETFs de títulos públicos americanos de curto prazo. São fundos de índices com cotas negociadas na bolsa. Esses veículos mantêm uma carteira com até 80% aplicada em papéis do Tesouro dos EUA com prazos de até 3 meses.

Como as cotas são negociadas na bolsa, o investidor pode entrar e sair a qualquer momento. O ETF VBILL da Vanguard, por exemplo, tem hoje um retorno em 12 meses de 3,44%. Outro fundo o TBLL, da Invesco, tem um yield em 12 meses de 3,89%. “Funciona de maneira parecida com o nosso CDI.”

Zogbi enxerga ainda oportunidade de diversificação em ações internacionais. Na visão da estrategista, o investidor brasileiro pode aplicar em vários mercados também por meio de ETFs. Há vários fundos de índice que seguem referenciais com os índices globais da MSCI. Um ETF do MSCI World ex-US, por exemplo, possibilita ao investidor ter exposição a 22 mercados desenvolvidos, mas tira os EUA da lista.

Por outro lado, quem busca manter um pé nas bolsas americanas encontra fundos de índice que replicam referenciais amplos do mercado acionário dos EUA, como o S&P 500 e o Russell 2000. “O setor de tecnologia lá fora pode até estar caro, mas há muitos outros entregando resultados acima das expectativas. Tem ainda muitas oportunidades nas ações dos Estados Unidos.”

Os títulos de renda fixa e os fundos são oferecidos em plataformas digitais e podem ser acessados por meio de contas globais de investimentos.

A especialista da Nomad lembra ainda que pensar em investimentos lá fora é muito diferente de comprar dólar para viajar. “Na viagem, o melhor é fazer um câmbio médio. Mas no caso de diversificação internacional, o quanto antes começar, melhor.”

Isso porque a oscilação cambial é atenuada pelo efeito dos juros compostos, então quanto mais tempo o dinheiro ficar investido maior a vantagem na rentabilidade da carteira. Zogbi ressalta ainda que manter os recursos no longo prazo ainda ajuda a aproveitar os melhores dias do mercado, que podem representar um reforço significativo na hora de resgatar.

De qualquer modo, essa janela de calmaria provavelmente tem um prazo de validade. A estrategista-chefe da Nomad vê a partir do ano que vem uma chance cada vez maior da volta da volatilidade. “A questão fiscal tende a influenciar mais o câmbio no ano que vem, principalmente quando o tema das eleições ficar mais no foco.”

A economista lembra que no fim de 2024 o dólar subiu para a casa dos R$ 6,18 principalmente por conta das preocupações com o desequilíbrio fiscal. Na visão da estrategista da Nomad, esse fator ganhou um contrapeso com o enfraquecimento global da moeda americana ao longo do ano e o grande diferencial de juros existente entre Brasil e EUA.

Para 2026, o cenário pode mudar. Essa virada pode acontecer porque o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tem sinalizado para uma redução de ritmo ou até mesmo uma pausa nos cortes de juros a partir do ano que vem. Além disso, o BC brasileiro pode começar seu próprio ciclo de redução de taxas, o que reduzia a diferença entre os rendimentos de ativos locais e americanos. Essa diminuição do diferencial de juros tende a fortalecer a moeda americana.

Além disso, o Brasil tem suas próprias incertezas internas. A principal tem a ver com a trajetória do endividamento público e a menor disposição para enfrentar o problema em um ano de eleições. São incertezas que elevam o prêmio de risco pedido pelos investidores globais e, com um fluxo menor de dinheiro de fora vindo para o país, tendem a enfraquecer o real.