Em resumo, essa atualização reúne 12 propostas de melhorias no código do projeto cripto, que vale hoje US$ 524 bilhões – equivalente ao PIB de 2024 do Chile, Equador e Uruguai somados. O objetivo das mudanças é tornar a rede mais escalável – capaz de crescer sem travar -, mais eficiente e “dramaticamente” mais barata, segundo o roadmap (plano de desenvolvimento) publicado pela Ethereum.org.
Entre as alterações previstas, uma das mais significativas impactará os rollups, nome dado às soluções tecnológicas que rodam em cima do ethereum e ajudam a dar vazão ao sistema – sim, é um termo estranho e quase um palavrão, mas vamos te explicar.
Para entender bem, lembre-se que o ethereum, diferente do bitcoin (BTC), não é só uma criptomoeda. Ele funciona também como uma espécie de grande programa de computador global, em que desenvolvedores de todo o mundo criam seus próprios projetos – desde novos tokens (as famosas memecoins que o digam) até plataformas de empréstimos sem bancos no meio do caminho.
Por ter um monte de gente usando, esse ecossitema gigante acaba ficando super congestionado, quase como uma Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo, às 18h. Os tais rollups seriam, portanto, como estradas menores que se conectam à via principal, desafogando o tráfego e dando mais fluidez. Algumas das principais são a arbitrum (ARB), a optimism (OP) e a base (BASE).
O grande problema é que, para se conectar à rodovia principal, essas soluções precisam conferir todos os carros (verificar trodos os dados) que passam por ela – uma exigência de segurança da blockchain, que acaba tornando o processo mais caro e lento. Com a Fusaka, no entanto, será possível participar dessa brincadeira dando uma olhada apenas em trechos da avenida, sem precisar analisar o trânsito inteiro.
“As implicações do Fusaka são significativas”, disse a gestora VanEck em relatório sobre o projeto. “A atualização deve reduzir os custos para as rollups da Camada 2 (esse termo, bastante usado no mercado cripto, se refere a blockchains secundárias que rodam em outra blockchain principal), o que se traduz em transações mais baratas para os usuários finais. Mantendo-se tudo o mais constante, isso deve trazer mais atividade econômica onchain (dentro da blockchain) para a órbita do ethereum”.
Dankrad Feist, co-líder da equipe de arquitetura de protocolo da Fundação Ethereum, disse na semana passada, em entrevista ao Yahoo, que a Fusaka é tão importante quanto a Merge, aquela grande atualização feita em 2022, que alterou a forma como a criptomoeda é minerada (emitida), dando um ar mais “eco friendly” para o projeto.
Qual o impacto para o usuário de ethereum?
Para quem usa ethereum no dia a dia – seja comprando e vendendo criptomoedas, negociando tokens não fungíveis (NFTs) ou acessando plataformas de finanças descentralizadas (DeFi), aquelas que permitem tomar empréstimos, por exemplo, sem passar por bancos -, a principal mudança esperada é a redução das taxas de transação, chamadas de gas fees.
Essas taxas funcionam como um pedágio digital: cada vez que alguém envia ETH ou interage com um contrato inteligente (programa autoexecutável que permite criar tokens e montar outros projetos dentro de blockchains), precisa pagar um valor para que a operação seja processada na rede. O custo depende da complexidade da transação.
Hoje, segundo dados do YCharts, a taxa média em dólares para uma transação do Ethereum processada por um minerador e confirmada está na casa dos US$ 0,45. Durante picos de congestionamento, como no auge dos NFTs, esse valor já passou de US$ 3,20. A expectativa é que a Fusaka ajude a manter esses custos bem mais baixos de forma consistente.
E qual o impacto no preço?
O ethereum é negociado a US$ 4.341 na manha desta sexta-feira (10), com queda de 1% do dia. Murilo Cortina, diretor de novos negócios da QR Asset Management, disse ao InvestNews que a Fusaka é vista como uma mudança positiva para o ethereum, mas é difícil afirmar que ela trará um impacto direto e imediato no preço.
“O efeito tende a ser mais estrutural, reforçando a tese de longo prazo do ativo do que provocando um movimento específico agora”, falou. “Dados macroeconômicos dos EUA, os riscos do shutdown atual e até a política das chamadas tarifas Trump têm pesado mais nas decisões dos investidores do que qualquer atualização isolada”.