Embora possa ter insinuado que poderia discutir sobre os chips de inteligência artificial Blackwell da norte-americana Nvidia, de última geração, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que o assunto não foi abordado na reunião com o presidente da China, Xi Jinping.

Após o encontro desta quinta-feira (3) na Coreia do Sul, Trump afirmou a repórteres a bordo do Força Aérea Um que semicondutores foram discutidos e que a China “iria conversar com a Nvidia e outras empresas sobre a aquisição de chips”. No entanto, ele acrescentou: “Não estamos falando do Blackwell”.

Um dia antes, Trump havia elogiado o chip Blackwell como algo “superlegal”, acrescentando que poderia conversar com Xi sobre o assunto. Os comentários provavelmente ajudaram a Nvidia a fazer história como a primeira empresa a atingir uma avaliação de US$5 trilhões.

Em declarações feitas em Seul, o CEO da Nvidia, Jensen Huang, afirmou que as negociações entre Washington e Pequim estavam nas mãos de Trump e Xi.

“Como você sabe, ele é um grande negociador e um excelente articulador de acordos, e o presidente Xi, os dois têm um ótimo relacionamento”, disse Huang.

“Está nas mãos deles, e tenho plena confiança de que farão tudo o que estiver ao seu alcance para conseguir os melhores acordos para os seus países.”

Huang, vestido com sua inconfundível jaqueta de couro preta, disse ainda estar honrado por sua empresa ser a primeira na história a atingir US$5 trilhões, acrescentando que ainda havia espaço para crescimento.

Tema difícil

O grau de acesso da China aos chips da Nvidia tem sido um ponto crucial de atrito com os Estados Unidos.

Washington impõe controles de exportação sobre os chips de IA mais avançados da Nvidia para a China, buscando limitar o progresso tecnológico do país asiático, particularmente em aplicações que poderiam ajudar as forças armadas.

Huang, da Nvidia, tentou persuadir o governo Trump a afrouxar os controles, dizendo que a dependência da IA chinesa em relação ao hardware norte-americano era benéfica para os Estados Unidos.

A Nvidia está trabalhando em um novo chip para a China baseado em sua mais recente arquitetura Blackwell. Ele será menos potente que o modelo vendido fora do país, mas mais poderoso que a versão mais avançada que a empresa está atualmente autorizada a vender ao país asiático, o H20, segundo fontes.

Porém, embora se acredite que empresas privadas chinesas estejam muito interessadas em adquirir esse chip, Pequim se mostrou indiferente à Nvidia, desencorajando a compra do H2O e, em vez disso, promovendo fabricantes nacionais de chips, como a Huawei.

Huang afirmou esta semana que sua empresa não solicitou licenças de exportação dos EUA para enviar seus chips mais recentes à China devido à posição chinesa.

“Eles deixaram bem claro que não querem a Nvidia lá agora”, disse ele durante evento para desenvolvedores, acrescentando que a empresa precisa de acesso ao mercado chinês para financiar pesquisa e desenvolvimento nos EUA.

Pelo menos nesta quinta-feira, Trump não pareceu querer se envolver profundamente na questão.

“Eu disse (a Xi) que isso é realmente entre você e a Nvidia, mas nós somos uma espécie de árbitro ou juiz”, disse ele.

Parlamentares norte-americanos, tanto democratas quanto republicanos, manifestaram oposição à possibilidade de dar à China maior acesso a chips avançados como o Blackwell.

A Nvidia se recusou a comentar.

Um relato da reunião publicado pela agência de notícias oficial chinesa Xinhua não mencionou chips, mas citou Xi dizendo que ambos os lados tinham boas perspectivas de cooperação em IA.

Incertezas

Em abril, o governo Trump proibiu as exportações do chip H2O da Nvidia para a China, uma decisão revertida em julho, sob a alegação de ter chegado a um acordo com a empresa para conceder licenças de exportação em troca de 15% das vendas do H2O no país asiático.

Enquanto os EUA afrouxavam o cerco à Nvidia, Pequim apertava. Nos últimos dois meses, seus reguladores pediram à fabricante norte-americana que explicasse se o chip H20 representava riscos de segurança ocultos, alertando empresas nacionais sobre a compra do produto.

Em um evento da Citadel Securities neste mês, Huang lamentou que as ações de retaliação tenham reduzido drasticamente a participação de mercado da Nvidia em chips avançados de IA na China, de 95% em 2022 para praticamente zero.

O representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, também falando a bordo do Força Aérea Um, disse que, após o encontro de Trump com Xi, a Nvidia conversaria com a China para avaliar as possibilidades.

“Já enviamos muitos chips para a China, muitos chips avançados.”

No entanto, duas pessoas familiarizadas com as discussões no mercado chinês disseram estar céticas quanto à possibilidade de Pequim mudar rapidamente sua posição em relação aos chips da Nvidia, acrescentando que a China não queria se contentar com chips inferiores, visto que o H20 estava muito atrás do Blackwell em desempenho. A expectativa é de que os concorrentes nacionais possam alcançá-lo em breve.

Uma das fontes disse ainda que os chineses estariam dispostos a considerar a versão inferior do chip Blackwell, chamada de B30A, caso Washington aprovasse sua venda para a China.

As fontes falaram sob condição de anonimato.

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