Os pesos-pesados de Wall Street não conseguiram impedir que os eleitores de Nova York elegessem um prefeito socialista democrático. E agora?

Havia um clima de derrota na noite de terça-feira nas altas esferas de Nova York quando ficou claro que Zohran Mamdani havia vencido a disputa pela prefeitura. Alguns nomes de ponta do setor financeiro da cidade achavam impensável a ideia de uma administração Mamdani e gastaram milhões para impulsionar outros candidatos.

Agora, eles terão de trabalhar com o novo prefeito — e torcer para que seus piores temores sobre o impacto dele no ambiente de negócios da cidade não se confirmem.

“Trata-se de segurança pública e de qualidade de vida de forma mais ampla. Se essas coisas caminham na direção errada, qualquer empregador vai ter dificuldade para atrair e reter gente boa”, disse Ed Skyler, executivo do Citigroup que foi vice-prefeito na gestão de Michael Bloomberg.

Mamdani, de 34 anos, ascendeu rapidamente de um parlamentar de segundo escalão, vindo de bairros periféricos, na Assembleia estadual, à eleição como chefe do Executivo municipal ao canalizar o amplo descontentamento de muitos nova-iorquinos com o custo de vida. Ele prometeu um imposto adicional de 2% sobre milionários e aumento de tributos sobre empresas para financiar ônibus gratuitos, ampliar a oferta de creches e criar mercados municipais administrados pela prefeitura.

Tais propostas não caíram bem em Wall Street. A princípio, as chances de vitória de Mamdani pareciam remotas, mas sua surpreendente vitória nas primárias democratas em junho sacudiu o setor financeiro. Com a campanha pegando fogo, firmas como a Apollo Global Management e a Citadel incentivaram seus funcionários a irem às urnas. O bilionário dos hedge funds Bill Ackman gastou mais de US$ 2 milhões para tentar barrar Mamdani, embora esteja longe de ter sido o único a despejar dinheiro em alternativas pouco competitivas.

“Ele está gastando mais dinheiro contra mim do que eu cobraria de imposto dele”, disse Mamdani sobre Ackman em um episódio de podcast exibido recentemente. “Todo dia é um milhão de dólares, um milhão de dólares — eu nem quero tanto assim!”

Surpreendentemente, foi Ackman quem estendeu um ramo de oliveira na noite de terça, publicando no X uma nota de congratulações a Mamdani. “Agora você tem uma grande responsabilidade”, escreveu. “Se eu puder ajudar Nova York, é só dizer o que posso fazer.”

Outros grandes nomes estavam em outro humor. O bilionário Cliff Asness, da AQR Capital, postou no X uma cena de “O Planeta dos Macacos” em que o personagem de Charlton Heston avista os restos da Estátua da Liberdade na praia e percebe que a Terra foi destruída, gritando: “Seus maníacos! Vocês explodiram tudo!”

Acrescentou o evangelista e investidor de cripto Anthony Pompliano: “É insano que um socialista tenha sido eleito prefeito da capital financeira do mundo.”

A reação também foi sombria entre incorporadores e proprietários de imóveis, que se opuseram ferrenhamente às propostas de Mamdani, incluindo um congelamento dos aluguéis em apartamentos com aluguel estabilizado. Billy Macklowe, que recentemente inaugurou um empreendimento residencial e comercial no Brooklyn, disse que ainda planeja tocar vários novos projetos. “Espero que não haja um choque no sistema”, afirmou.

Foto: Bloomberg

Historicamente, Wall Street se beneficiou quando a cidade prosperou. E parcerias entre firmas de Wall Street e a prefeitura ajudaram a consertar infraestrutura deteriorada e a revitalizar o Central Park.

Para alguns que se preocupam com as políticas de Mamdani, o crime de rua aleatório é a principal preocupação. Os homicídios caíram de um pico de mais de 2.000 em 1990 para a mínima moderna de 292 em 2017. Os crimes de ódio no estado de Nova York subiram 12,7% em 2023, com quase 44% de todos os incidentes registrados e 88% dos crimes de ódio de motivação religiosa tendo como alvo vítimas judias, segundo relatório do gabinete do controlador do estado.

Alguns empresários se confortam com o fato de Mamdani ter indicado que pretende pedir à comissária do Departamento de Polícia de Nova York (NYPD), Jessica Tisch, que permaneça no cargo. Tisch, servidora pública de longa data e filha de um bilionário, ganhou forte aprovação do mundo dos negócios por conduzir uma ampla queda no crime e pela forma como enfrentou incidentes como o assassinato de quatro pessoas em um edifício comercial em Midtown, em julho. Resta saber se ela aceitará.

Se Mamdani não conseguir recrutar e reter Tisch, seria um mau sinal, disse Rob Wiesenthal, CEO da empresa de helicópteros on-demand Blade. “No que diz respeito ao crime, para muitos de nós, o ‘canário na mina de carvão’ é a Jessica Tisch”, afirmou.

A Citadel, firma de hedge funds comandada pelo bilionário Ken Griffin, enviou um e-mail em junho incentivando seus funcionários em Nova York a votar e alertando sobre “candidatos com visões extremas incompatíveis com seus valores”, segundo uma cópia vista pelo The Wall Street Journal.

Mamdani criticou Israel e defendeu o “defund the police” (cortar financiamento da polícia), posição da qual desde então recuou. Griffin transferiu a Citadel de Chicago para Miami há alguns anos, citando o crime em Chicago como um fator.

Outros se preocupam com a instabilidade que pode advir da dinâmica de Mamdani com o presidente Trump, que deu um endosso de última hora ao principal adversário de Mamdani, o ex-governador democrata Andrew Cuomo. Trump ameaçou aumentar a presença de agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) e da Guarda Nacional na cidade, além de reter US$ 18 bilhões em verbas federais para projetos de infraestrutura.

Antonio Weiss, ex-chefe de banco de investimento do Lazard, disse que a relação da cidade com Washington provavelmente será o desafio mais imediato.

“Eu certamente espero que os nova-iorquinos se unam em prol dos interesses da cidade”, disse Weiss, que, ao contrário de muitos de seus pares nas finanças, apoiou Mamdani em parte por seu foco na questão da acessibilidade do custo de vida.

Como está, Nova York continua sinônimo de ambição desmedida, uma das forças críticas que por muito tempo sustentaram a dominância do setor financeiro. Na Park Avenue, em Midtown, o JPMorgan Chase acaba de cortar a fita de uma nova torre de US$ 3 bilhões. O CEO do banco, Jamie Dimon, nascido no Queens, é praticamente um mascote da indústria — e promete ficar. Quem não suportar a era Mamdani pode fazer outro cálculo.

Um dos financistas que cogitam se continuará em Nova York é Michael Gontar, CEO da InterVest Capital Partners, uma gestora de investimentos imobiliários. Seu trajeto a pé até o trabalho, em Manhattan, passa por um abrigo masculino para pessoas em situação de rua, onde, segundo ele, há consumo aberto de drogas e, ocasionalmente, aparentes surtos de sofrimento mental.

Uma conta de impostos mais alta não fará Gontar ir embora, mas ele é cético em relação ao plano de Mamdani de criar uma nova agência que daria prioridade a serviços de saúde mental e prevenção da violência.

“Você vai chamar um assistente social porque tem um cara que abaixou as calças e começou a defecar na frente de uma escola?”, disse. “Boa sorte.”

Traduzido do inglês por InvestNews