A utopia de Cristie North é feita de milhares de tijolinhos de plástico e ocupa a maior parte do porão.
Tem uma rua principal movimentada e uma praia com banhistas. Tem uma montanha-russa e uma roda-gigante em movimento. Tudo feito de Lego.

A casa da moradora de Salt Lake City, de 55 anos, já passou por várias obras, inclusive derrubar paredes, para abrir espaço para seus projetos com brinquedos. North, executiva de uma empresa de hipotecas, diz ter gasto US$ 100 mil para construir seu mundo de Lego e o espaço para exibi-lo. Isso sem contar os custos de um grande mosaico de Lego que ela encomendou para a área externa do cômodo do porão que virou seu “covil” do Lego.

“Eu queria deixar tudo cada vez maior e melhor”, disse North sobre a cidade, que começou a montar em 2022, pouco depois de comprar seu primeiro kit de Lego para espantar o tédio durante a pandemia. “Isso alimenta a minha alma.”

North abre a porta da sala de Lego por um leitor de impressão digital. Ela cogita instalar câmeras ao redor do cenário para poder vê-lo quando estiver viajando.

Nos últimos anos, a Lego cultivou uma base devotada de fãs adultos, que talvez não pudessem bancar os caros kits dinamarqueses quando crianças, mas agora vêm munidos de fervor e renda disponível.

Isso cria um novo problema, já que os maiores conjuntos de Lego têm milhares de peças e rapidamente consomem o espaço de exposição disponível. Alguns montadores dedicam cômodos inteiros ao Lego. Outros decoram aparadores de lareira, estantes e paredes com suas construções de plástico — muitas vezes para desgosto dos cônjuges.

Lego: Adobe Stock

“Acho que vou ter é que comprar uma casa maior”, diz Steve Isom, 39, diretor financeiro de uma empresa de tecnologia em Omaha, Nebraska. Sua mesa de jantar e o aparador foram tomados por conjuntos de Lego montados por ele e três de seus filhos, assim como seu escritório. Naves espaciais pendem do teto presas por fio de pesca.

Isom montou pessoalmente 275 conjuntos nos últimos quatro anos, incluindo um Titanic titânico atracado numa longa prateleira e uma Torre Eiffel de 10 mil peças, com quase 1,5 m de altura.
“Não é brinquedo, é um sistema sofisticado de blocos interligados”, diz Isom. O hobby o ajuda a relaxar depois de dias corridos.

Sua esposa, Preston Isom, diz que os tijolinhos de plástico não combinam necessariamente com a estética “farmhouse moderna” da casa, mas fica feliz que o marido e as crianças encontrem prazer neles. Ainda assim, ela baniu exposições de Lego no quarto. “É uma bola de neve”, brinca.

O arquiteto de Seattle Jeff Pelletier diz que ajudou a projetar cerca de 25 casas desde a pandemia com salas de Lego, 90% delas para adultos. Fã de Lego ele mesmo, Pelletier aconselha clientes a evitar cômodos com muito sol — para não desbotar as peças — e a usar armários envidraçados para exibir as criações, evitando poeira.

Um banho rápido no chuveiro, diz ele, é seu truque usual para limpá-las.
Pelletier tem uma sala de Lego para os filhos e planeja outra para si em uma casa de piscina no quintal.

Em outros espaços, tenta cultivar “pequenos momentos de Lego” — um arranjo botânico de tijolinhos sobre um armário ou versões em Lego de quadros famosos, como “A Grande Onda”, de Hokusai, incorporadas a uma parede-galeria.

Niko Cejic, corretor da Douglas Elliman que já vendeu várias casas com salas de Lego, diz que esses toques dão personalidade. Em recentes visitas abertas de uma casa de US$ 2 milhões nos Hamptons, o vendedor deixou seu Lamborghini e suas Ferraris de Lego à mostra, encantando vários compradores. “Temos tantas casas estéreis, sem graça”, diz Cejic. “Isto aqui é bem mais divertido.”

Evan Rubin, 41, concorda. Entre levar os filhos para esportes e escola e fazer o trajeto até seu trabalho em uma empresa de equipamentos médicos no sudeste da Pensilvânia, “a vida pode ficar monótona”.
“Isto traz de volta um pouco da nossa infância”, diz Rubin. “Ninguém quer realmente crescer.”

Ainda assim, por deferência à esposa, ele mantém a maioria de suas construções confinadas a um único cômodo no andar de baixo. “Minha esposa fica com a casa e eu fico com o porão”, diz, embora às vezes tente encaixar um conjunto em outro lugar. Uma vez ele escondeu uma casa na árvore de Lego acima do aparador da louça por mais de um mês antes de ela notar. Muitas salas de Lego acabam em porões, que têm a vantagem da discrição, diz Brodie Overton, 40, enfermeiro e fã de Lego no centro de Iowa.

“Quando o cara da climatização ou o encanador vem, eles perguntam: ‘O que está acontecendo aqui?’”, diz ele sobre sua própria sala subterrânea de Lego. “Aí passam 20 minutos olhando tudo.”

A base de fãs adultos da Lego explodiu desde 2020, quando a empresa passou a mirá-los com conjuntos embalados elegantemente em preto. Hoje, suas ofertas para “crescidinhos” incluem desde uma Estrela da Morte de US$ 1 mil até itens mais apropriados para a sala, incluindo flores e decoração sazonal.

Especialmente para quem tem cônjuges céticos, estes últimos são uma mão na roda, diz Ridwan Adhami, 45, que se apaixonou por Lego quando começou a montar com a filha, então com 4 anos. Hoje, ela tem 17 e há muito perdeu o interesse. Ele continuou montando, mesmo com os revirar de olhos dela.

Sua esposa insiste que ele restrinja o hobby a um cômodo de depósito no porão. Ainda assim, Adhami segue tentando ganhar terreno. No ano passado, o diretor de criação de Montclair, Nova Jersey, comemorou quando ela concordou em deixá-lo montar uma vila de inverno de Lego na lareira. “Foi como um pitch. Eu tive que levar os conjuntos lá”, diz ele. “Ela falou: ‘Não gosto desse boneco de neve. Esse correio pequenininho é fofo, pode ficar.’”

Recentemente ele mostrou a ela a foto de uma guirlanda de outono de Lego para tentar ganhar aprovação. Ele espera tomar outra parte do porão, atualmente reservada para os gatos da família. “Só estou tentando acostumá-la com a ideia para começar a enfiar mais coisas”, diz.

Escreva para Te-Ping Chen em Te-ping.Chen@wsj.com

Traduzido do inglês por InvestNews