Elliott Hill quer recuperar a liderança da Nike na corrida por inovação — e o tênis de corrida mais volumoso da história da marca pode ser o modelo a ser seguido, diz ele.

Com mais de cinco centímetros de altura de sola), o Vomero Premium, de US$ 230, é hoje o tênis de corrida mais alto à venda desde que chegou às prateleiras no mês passado. Mas é a forma como o tênis superamortecido foi desenvolvido — em cerca de oito meses, em vez dos 18 habituais — que o presidente da Nike deseja replicar em toda a gigante de calçados esportivos.

“É uma oportunidade para ficarmos mais rápidos”, disse Hill, um veterano da Nike, trazido de volta da aposentadoria pelo cofundador Phil Knight pouco mais de um ano atrás para liderar a virada da empresa.

Ganhar velocidade é crucial para a recuperação da Nike. Para uma companhia que construiu sua marca na corrida há mais de meio século, a Nike perdeu terreno para rivais em ascensão como On e Hoka nos últimos anos, enquanto dependia em excesso da franquia Air Jordan e de outros clássicos. No primeiro dia de Hill como CEO, em outubro de 2024, ele disse a uma sala cheia de funcionários que a Nike estava numa situação difícil.

“Nossos concorrentes — e nossos consumidores, mais importante — não estão sentados esperando por nós”, disse ele na época.

Desde então, as medidas de virada de Hill incluíram recompor relações com varejistas como Foot Locker e lojas especializadas em corrida após a tentativa frustrada da Nike de priorizar mais o e-commerce próprio. Hill também redobrou a aposta em reorganizar as equipes de produto da Nike por esportes específicos, como corrida e basquete, em vez de recorte por gênero e idade, e deslocou o foco da empresa de volta para atletas, e não para o casual e a moda.

Para acelerar esses planos, Hill reorganizou sua equipe sênior em torno de três marcas — Nike, Jordan e Converse — e achatou a estrutura de liderança. E a companhia tenta sinalizar aos consumidores que está colocando a inovação séria no centro, depois de a Nike, segundo Hill, ter “perdido sua obsessão pelo esporte”.

Nesse sentido, a Nike revelou uma “blitz” de engenhocas ao lançar o novo Vomero no mês passado — um desvio da tradição da empresa de introduções de produto mais espaçadas. Esses produtos, que a Nike pretende lançar a partir do ano que vem, incluem um sistema motorizado para calçados que aumenta a velocidade ao correr e caminhar, um novo tecido Aero-FIT que resfria o corpo e uma jaqueta inflável com regulação de temperatura.

Outro produto, uma base de calçado desenvolvida pela equipe de “Mind Science” da Nike, traz nódulos arredondados de espuma projetados para ativar receptores sensoriais no pé e intensificar a conexão mente-corpo dos atletas, e pode chegar ao mercado já em janeiro.

Cortando um ano do desenvolvimento

Um movimento-chave foi agrupar inovação, produto e design sob Phil McCartney, veterano da Nike que tem liderado o esforço para encurtar o cronograma de desenvolvimento de tênis de corrida como o Vomero.

Hill aponta para a maneira como McCartney e um grupo de designers e engenheiros trabalharam em conjunto com parceiros fabris da Nike na Ásia antes de ele assumir o cargo. A equipe passou três semanas em Busan, cidade portuária da Coreia do Sul, testando vários tênis de corrida, incluindo o Vomero, fazendo ajustes no ato para eliminar os atrasos usuais de desenvolvimento.

O CEO da Nike, Elliott Hill. Foto: Clayton Cotterell/WSJ

“Trabalhávamos à noite, depois calçávamos os tênis e corríamos rio acima e rio abaixo, em Busan”, disse McCartney, que representou a Grã-Bretanha como fundista júnior antes de entrar na Nike. Testar o Vomero Premium às vezes os deixava com as panturrilhas doloridas, contou, porque a altura da entressola estava alta demais inicialmente.

A Nike conseguiu encurtar em um ano o desenvolvimento de cada tênis. No caso do Vomero Premium, o ciclo levou cerca de oito meses. O cronograma acelerado inicialmente bagunçou a cadeia de suprimentos da empresa, já que significou dar prioridade ao trabalho de tênis de corrida em algumas fábricas, mas a produção desde então se alinhou.

Agora, diz Hill, ele quer aplicar a mesma abordagem a outras categorias esportivas. A próxima é a equipe global de futebol (soccer) da Nike, que está acelerando a produção para lançar novos uniformes durante a Copa do Mundo de 2026. Eles incluirão o sistema de resfriamento Aero-FIT revelado pela Nike no mês passado. A empresa também mira consumidores mais jovens com várias linhas de streetwear de futebol a tempo do torneio.

Ciência do cérebro

Em janeiro, dois modelos com a tecnologia Nike Mind — um tênis e um mule — também chegam às lojas. O cientista-chefe da Nike, Matthew Nurse, disse que os 22 nódulos na base dos calçados transmitem informações sensoriais que podem ajudar atletas a relaxar e “entrar no estado de fluxo” antes da competição.

Ao criar a base do calçado, Nurse e sua equipe examinaram como monges tibetanos alcançam o estado de ondas alfa durante a meditação. Em seguida, testaram a tecnologia em milhares de pessoas, incluindo jogadores profissionais de basquete e socorristas, analisando como os calçados afetavam a atividade das ondas cerebrais e a sensação de estabilidade.

Claro, “não é inovação até que alguém compre”, disse Nurse.

O plano centrado em inovação de Hill começa a dar frutos. As vendas no segmento de corrida cresceram 20% no trimestre mais recente e as vendas totais ficaram estáveis, em vez de cair — o que alguns investidores viram como sinal de que a erosão da fatia de mercado da Nike estancou.

Ainda assim, a ação caiu 20% em um ano, ante alta de 12% do S&P 500, enquanto a empresa enfrenta tarifas e aumento de custos de materiais e frete, além de uma concorrência ainda formidável de outras marcas esportivas.

Para superar esses desafios, Hill disse que a Nike terá de melhorar ainda mais a relação com parceiros varejistas e promover suas marcas com narrativas que coloquem “o atleta no centro de tudo o que fazemos”. A Nike retomou recentemente as vendas na Amazon após testar a plataforma seis anos atrás, mas há mais a fazer, afirmou.

“É assim, no fim das contas, que vamos recuperar participação de mercado”, disse Hill.

Traduzido do inglês por InvestNews