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No terceiro trimestre, a JBS registrou a maior receita da história, mas lucro e margens caíram, em um momento em que o ciclo do gado aperta nos Estados Unidos e no Brasil e corrói parte dos ganhos vindos de frango, suínos e da operação na Austrália.

A companhia reportou receita líquida de US$ 22,6 bilhões, aumento de 13%. Mas o lucro líquido caiu para US$ 581 milhões, uma retração de cerca de 16% na comparação com o mesmo período de 2024.

Essa compressão aparece com força nas margens. O Ebitda ajustado recuou de US$ 2,15 bilhões para US$ 1,84 bilhão, queda de 14,8%, e a margem passou de 10,8% para 8,1%. O lucro operacional ajustado minguou ainda mais, caindo 22%, para US$ 1,25 bilhão, com margem de 5,5% ante 8,1% no terceiro trimestre do ano passado.

A estrutura de capital refletiu um período de maior pressão sobre o caixa. A dívida líquida alcançou US$ 16,6 bilhões, ante US$ 13,7 bilhões no ano passado, e a alavancagem medida por dívida líquida sobre Ebitda ajustado em doze meses evoluiu de cerca de 2,2 vezes para 2,4 vezes.

A cobertura de juros continua confortável, com o Ebitda superando em 6,8 vezes a despesa financeira líquida em doze meses, mas a posição de liquidez encolheu: o caixa e equivalentes recuaram de US$ 5,6 bilhões em dezembro para US$ 3,6 bilhões em setembro, em meio a maior consumo de capital de giro, pagamento de juros, dividendos e recompras de ações.

No fluxo de caixa, o retrato é de geração ainda positiva, mas mais apertada. As operações geraram US$ 1,32 bilhão antes de juros no trimestre, e cerca de US$ 1,04 bilhão após os pagamentos e recebimentos financeiros.

Os investimentos consumiram US$ 620 milhões, majoritariamente em capex, enquanto novas emissões de dívida superaram as amortizações, garantindo algum reforço na frente de financiamento. A empresa admite que o consumo de capital de giro aumentou, principalmente pela alta de estoques pressionados por inflação de insumos e pela própria dinâmica de uma operação global complexa, o que ajuda a explicar por que o fluxo de caixa livre ficou bem mais curto do que no mesmo período de 2024.

Brasil

No Brasil, o negócio de bovinos combina receita forte com margem comprimida. A operação brasileira aumentou a receita líquida em 27,7%, para US$ 4,16 bilhões, impulsionada por exportações mais robustas, com avanço de volume e preços, e por reajustes no mercado interno.

O Ebitda ajustado, porém, caiu 18,7%, para US$ 307 milhões, e a margem recuou de 11,6% para 7,4%, reflexo de um custo de gado mais alto que não foi totalmente repassado aos clientes.

A Seara, braço de aves, suínos e alimentos processados no Brasil, viveu um trimestre de expansão em volume e receita, mas com queda relevante de rentabilidade. A unidade registrou receita líquida de US$ 2,36 bilhões, alta de 7,6%, mas o Ebitda ajustado recuou 30%, para US$ 323 milhões, com margem de 13,7% contra 21,0% no mesmo período de 2024.

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No mercado interno, o crescimento veio da combinação de preços e volumes, apoiado em inovação e disciplina comercial. A base de comparação excepcional do ano passado e custos mais altos ajudam a explicar a compressão da margem.

A Seara atingiu o maior volume de exportações da sua história, apesar de restrições temporárias impostas por China e Europa após um caso isolado de gripe aviária no Brasil em maio; a resposta foi redirecionar produção e abrir novos mercados.

EUA e outros países

Quando se observa o mapa operacional, fica claro onde o trimestre apertou e onde a JBS conseguiu compensar. Em Beef North America, o negócio mais sensível ao ciclo de gado, a receita cresceu 14,8%, para US$ 7,25 bilhões, mas o Ebitda ajustado virou para o vermelho: um prejuízo de US$ 42 milhões, contra um ganho de US$ 117 milhões no ano anterior, com margem de –0,6% ante 1,9%.

O motivo, como a própria companhia reconhece, é um ciclo de gado claramente desfavorável, com oferta reduzida e preços do boi vivo em patamares historicamente elevados, o que consome as margens mesmo com o “cutout” — o preço da carne ao consumidor americano — em máximas e demanda doméstica resiliente.

Na Pilgrim’s Pride, braço de frango da JBS que atua nos Estados Unidos, Europa e México, o quadro é bem mais confortável. As vendas líquidas somaram US$ 4,76 bilhões, alta de 3,8%, e o Ebitda ajustado ficou em US$ 770 milhões, praticamente estável, com margem ainda muito robusta de 16,2%.

A empresa destaca que a demanda por frango continua sólida em todas as regiões, pela melhor relação custo-benefício frente a outras proteínas. Nos EUA, os produtos frescos mantiveram bom desempenho, enquanto a linha de alimentos preparados cresceu mais de 25% em vendas. Na Europa e no México, a estratégia passa por estreitar relações com grandes clientes, fortalecer marcas e usar promoções para ganhar espaço em categorias de maior valor agregado.

Em suínos, a operação de JBS USA Pork reforça a leitura de que o grupo tenta empurrar o portfólio para categorias de maior valor agregado. A receita líquida cresceu 8,7%, para US$ 2,22 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado recuou 11,5%, para US$ 218 milhões, com margem de 9,8% ante 12,1% um ano antes.

Durante o trimestre, a empresa anunciou a compra de uma planta em Iowa e uma expansão orgânica no mesmo estado, ambas voltadas à produção de bacon, salsichas e processados, consolidando uma presença mais forte em produtos de marca e maior margem.

O contraponto mais positivo vem da Austrália. A operação local aumentou a receita líquida em 22,9%, para US$ 2,19 bilhões, e o Ebitda ajustado em 42,7%, para US$ 249 milhões, o que levou a margem de 9,8% para 11,4%.

O desempenho foi puxado pelo negócio de carne bovina, com preços e volumes maiores tanto no mercado interno quanto em exportações. Ganhos de eficiência operacional conseguiram compensar um aumento de 26% no custo do gado em relação ao ano anterior, segundo dados da Meat & Livestock Australia, e suínos e pescados também contribuíram com margens melhores.

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