O bitcoin (BTC) cai mais de 10% no dia e 15% na semana, para US$ 82.753,90, o menor preço desde abril, segundo o gráfico do InvestNews. A criptomoeda já está 34% distante de sua máxima história de US$ 126 mil, registrada no início de outubro.
As altcoins – termo usado para identificar criptos diferentes do BTC – sofrem ainda mais hoje, com algumas criptos menores desvalorizando mais de 20%. Entre as maiores altcoins, a queda foi semelhante a do bitcoin – ethereum (ETH) e bnb (BNB) caem 10%.
Dois principais fatores explicam o cenário.
Dados dos EUA e juros
O relatório de empregos dos EUA (payroll), divulgado ontem, mostrou uma economia aquecida, criando novos empregos. Por que isso assustou o mercado? Porque sugere que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) pode adiar os cortes de juros para controlar uma possível inflação.
“O ponto central é que estamos navegando um ambiente em que expectativa pesa mais do que realidade, e onde microgatilhos produzem macromovimentos”, disse Fernando Martines, head de research da Vault Capital.
Juros altos por mais tempo são um cenário ruim para investimentos de risco, como as criptomoedas, porque eles mantêm a atratividade de títulos de renda fixa, como as treasuries.
Saída em massa dos ETFs
Outro impulsionador da queda foi o movimento de capital nos ETFs à vista de bitcoin dos EUA. Os 11 fundos negociados em bolsa registraram a maior retirada mensal desde que foram lançados, em janeiro de 2024. Foram US$ 3,79 bilhões em retiradas entre o dia 1º de novembro e a quinta-feira (20), segundo dados da plataforma SoSoValue.
Quem mais sofreu foi o IBIT, o fundo da gigante de investimentos BlackRock. O badalado produto financeiro, que ano passado ganhou um BDR no Brasil, viu US$ 2 bilhões em saídas ao longo deste mês.
Os ETFs à vista de ethereum (ETH) não ficaram de fora e registraram saídas líquidas de US$ 1,79 bilhão em novembro, ampliando a pressão vendedora.
Analistas do JPMorgan, liderados pelo diretor-gerente Nikolaos Panigirtzoglou, disseram que, diferente da queda de outubro, ocasionada por investidores antigos do setor cripto, essa derrapada pode ter sido culpa dos novos investidores.
“Foram os investidores não-cripto, em sua maioria investidores de varejo, que tipicamente usam ETFs de bitcoin e ethereum à vista para investir no mercado de criptoativos, que parecem ter sido os principais responsáveis pela continuação da correção do mercado de criptomoedas em novembro.”
US$ 2 bilhões em liquidações
A queda do bitcoin respingou forte nos traders de derivativos – aqueles produtos que permitem apostar no preço futuro do ativo. Nas últimas 24 horas, cerca de US$ 2 bilhões em posições foram liquidadas, um dos maiores volumes do ano. Essa onda, somada ao clima de aversão ao risco, empurrou o valor total do mercado cripto para abaixo dos US$ 3 trilhões.
Veja as cotações das principais criptomoedas às 10h:
Bitcoin (BTC): -10,75%, US$ 82.753,90
Ethereum (ETH): -10,23%, US$ 2.713,10
XRP (XRP): -11,13%, US$ 1,88
BNB (BNB): -10,14%, US$ 810,47
Solana (SOL): -11,59%, US$ 125,38
Outros destaques do mercado cripto
Empresas brasileiras que investem em cripto sentem o baque. A forte derrapada do bitcoin atingiu em cheio as bitcoin treasury companies brasileiras – empresas que mantêm parte relevante do caixa alocado na maior criptomoeda do mercado. A OranjeBTC (OBTC3), que chegou à B3 em outubro ostentando mais de R$ 2,4 bilhões em bitcoin, recua 6% no dia e já acumula uma queda de 27% no mês. A Méliuz (CASH3) acompanha o movimento: caiu 2% no dia e soma perdas de 16,5% nos últimos 30 dias.
Gigante das stablecoins quer aumentar presença no Brasil. Apesar de o mercado estar em queda, os negócios no setor cripto não param. A Tether – emissora da USDT, a maior stablecoin do mundo – quer acelerar a adoção do seu token no Brasil, especialmente em soluções de tokenização (transformação de ativos tradicionais em tokens na blockchain) e em pagamentos internacionais. Para fazer isso acontecer, a empresa investiu na fintech brasileira Parfin, especializada em infraestrutura cripto para o mercado financeiro. O valor do investimento não foi revelado.