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3 regras para atravessar a Era Pós-Digital, com Lital Marom
Para a israelense Lital Marom, consultora em negócios de inovação e fundadora do The Academy of Tomorrow, precisamos acelerar o processo de aprendizagem e deixar de lado as habilidades tradicionais para que as tecnologias não nos substituam.
Na última década, acompanhamos uma verdadeira revolução no mercado com o surgimento de novas organizações e startups. De gigantes do varejo aos aplicativos de mobilidade e delivery, as companhias da era digital transformaram os modelos de negócios que estávamos acostumados e estão obrigando as empresas tradicionais a se reinventarem. Mas qual o impacto desse movimento no mercado de trabalho? Que habilidades estão sendo demandadas por essas organizações disruptivas e com atuação baseada nas novas tecnologias?
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Essa transformação do mercado tem se acelerado ainda mais por conta da pandemia da Covid-19, e aumentado ainda mais a necessidade de entendermos o papel das pessoas dentro dos novos modelos de atuação das companhias. Foi com esse objetivo que conversei com uma das maiores visionárias em relação ao futuro do trabalho, a israelense Lital Marom, CEO da consultoria de inovação Unfold, e fundadora do The Academy of Tomorrow, projeto voltado à capacitação de líderes para os novos tempos do mercado.
Para encarar de frente as mudanças do mercado e conseguir se adaptar às novas ferramentas e funções que estão surgindo no mercado, Lital aponta três regras que são fundamentais para iniciar o processo de transição:
- não ter medo de atuar com tecnologia pois nem todos profissionais ou mesmo empresas conseguem integrar as inovações ao dia a dia do trabalho;
- não ter resistência a fazer coisas novas ou se arriscar em uma nova investida só porque a vida atual está indo bem;
- ter uma nova mentalidade para conseguir enxergar as oportunidades ou reformular os negócios.
O próximo passo é se sobrepor ao trabalho das máquinas focando nas capacidades humanas. Enquanto as tecnologias são definidas pela eficiência da Era Industrial, onde o foco é fazer mais por menos, as pessoas precisam reinventar o trabalho usufruindo das habilidades que são os nossos diferenciais, como imaginação, criatividade, empatia e curiosidade. Só dessa forma é que vamos conseguir criar novos trabalhos, desenvolver novas funções, impor novos valores e, acima de tudo, construir uma nova sociedade que seja ainda melhor para as pessoas.
Nessa linha, Lital prega muito a necessidade do aprendizado, onde as corporações – principalmente as mais tradicionais – têm obrigação de incluir essa mentalidade no centro de suas atuações. Pois enquanto as empresas mais antigas ainda têm seus valores criados pelos próprios funcionários, que atuam divididos em departamentos, que por sua vez estão separados por paredes ou divisórias, as novas corporações e startups são abertas, conectadas, e, o mais importante, com mentalidade de aprendizagem. Nelas, o foco não é produzir mais por menos, mas sim aprender mais, mais rápido e mais a fundo.
Ela cita como exemplo a Amazon, que nos primeiros anos de atuação era apenas uma empresa que vendia livros para clientes. Era muito boa pois era ágil e com preços abaixo da média do mercado, mas que atuava no modelo tradicional. Entretanto, a companhia se tornou a gigante varejista de hoje depois que adotou uma nova mentalidade de atuação dando origem à Amazon Marketplace, que permitiu que qualquer pessoa fizesse parte e pudesse usufruir da plataforma. Além disso, automatizaram todo o processo sem perder um único funcionário para a automação.
A gigante varejista também é citada como exemplo por Lital para um fator que parece inusitado para se obter sucesso no mercado que é o fracasso. O próprio Jeff Bezos, por exemplo, afirma que a Amazon é “o melhor lugar no mundo para falhar” devido à mentalidade aberta e voltada à aprendizagem que foi incorporada pela companhia. Foi para auxiliar outras empresas a adotarem esse processo que a consultora israelense criou a The Academy of Tomorrow, cujo pilar de atuação é colocar em prática esses experimentos dentro das corporações visando a inovação dos negócios.
E dentro desse processo de reposicionamento das companhias há vários exemplos de sucesso. O CEO da AT&T, Randall Stephenson, prega que qualquer pessoa da organização precisa passar de cinco a dez horas por semana de seu próprio tempo aprendendo novas habilidades. Caso contrário, a função do profissional será substituída pelas novas tecnologias. O esforço nesse sentido é tamanho que a gigante americana do setor de telecomunicações investiu mais de US$ 1 bilhão para dar acesso a todos os seus funcionários a diferentes plataformas de aprendizagem. Já o lendário ex-CEO da Unilever, Paul Polman, diz que todos os colaboradores da companhia, independente do cargo, devem aprender novas habilidades e desaprender as atividades antigas que não estão mais servindo para o mercado atual.
Na conversa com Lital, aprofundei mais esse interessante tema com algumas questões sobre as tendências para a atuação das companhias globais, as novas habilidades que serão necessárias para as lideranças e a importância da aprendizagem para esse novo mercado.
Sabemos que algumas empresas globais criaram cargos executivos para cuidar especificamente do bem-estar e até mesmo da felicidade de seus funcionários. Você acha que isso é uma tendência?
Em sua opinião, quais habilidades as novas lideranças das corporações devem ter?
O mais importante hoje é entender que a definição da própria liderança mudou. Está começando a desaparecer aquele tipo de líder que dizia o que fazer e todo mundo seguia. Um líder hoje não é nada disso. O que faz a diferença hoje é elevar o desempenho da equipe e todos o seguem porque acreditam nele e sabem que esse líder se preocupa com eles. E essa equipe vai fazer o melhor trabalho que pode porque também se importa com o líder. Essa dinâmica é muito diferente da que estávamos acostumados, e esse novo jeito de liderar cria segurança psicológica. Ou seja, em uma reunião não é só o chefe que fala silenciando todos que estão ao redor da mesa. É dar a todos a oportunidade de dizerem o que pensam, dizer algo que pode abalar o sistema ou a equipe, mas que foi dito porque essa pessoa se importa com aquele problema. Estamos começando a aprender que as pessoas podem abalar o sistema, e não é porque elas não se importam e querem criar tensão, muito pelo contrário, é porque elas realmente se importam. Liderar é também escutar e dar vozes a essas pessoas, isso é trabalho em equipe. E isso diz muito sobre diversidade e inclusão, que são palavras que estão na moda mas sempre tivemos esses problemas e precisamos resolver.
Lital, sabemos que o ambiente de aprendizagem nessas empresas mudou muito. Vimos em corporações, universidades, e o RH é o centro do treinamento e decisões de capacitação, parece não fazer mais sentido. Na sua opinião, quais são os novos horizontes quando pensamos em educação e aprendizagem corporativa?
Como as empresas podem criar esses espaços de aprendizagem? Ou seja, fazer com que esses funcionários sejam atraídos para esses espaços de aprendizagem. Como construir isso dentro das corporações?
Para mim, trata-se de criar espaço para isso. Você não pode esperar que seu funcionário seja um explorador e procure por coisas novas, pois ele já tem várias tarefas no dia e é avaliado por elas. Isso precisa ser realmente parte do sistema. E para mim isso é permitir que as pessoas tenham acesso a todos esses cursos, que irão enriquecer seus aprendizados, mas depois precisam trazê-los para o local de trabalho para ser aplicados nos produtos e serviços, e serem testados com os clientes no mundo real. Não adianta fazer tudo isso e depois não aplicar, isso não funciona. Todas as grandes inovações ocorreram com empresas que ousaram a fazer algo, e é assim que se trabalha. Startups e empreendedores sabem que o modelo é esse, e foi assim que construí minhas empresas. Eu não pensei muito, apenas criei e o mercado foi me ensinando. Precisamos sempre experimentar e colocar em prática tudo o que aprendemos, não importa se é dentro ou fora da empresa.
Como vimos, a aprendizagem de novas habilidades e aplicação desses novos conhecimentos no dia a dia do trabalho serão fundamentais para o sucesso nos próximos anos. Em uma sociedade que está sendo caracterizada pelas transformações exponenciais, Lital deixou quatro lições para lidarmos com essas mudanças: ser imaginativo, essencial para sermos mais criativos e inovadores; se tornar um polímata, para aprender coisas diferentes e ter domínios amplos; ser mais conector, para ter a capacidade de reunir os diferentes aprendizados para criar algo novo; e ser amador, pois quanto mais a gente sente que sabe a resposta, mais distante ficamos de resolver o problema. Essa é a base para não deixarmos as tecnologias nos substituir.