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8 ‘criptoteses’ para 2023
Confira o que pode acontecer com o mercado de criptoativos no próximo ano.
Sabemos que 2022 foi um ano difícil para as criptos, mas as perspectivas para 2023 estão bem melhores.
Hoje, trago 8 teses, de forma bem resumida, que deverão permear nosso mercado já nesse próximo ano.
1 – Bear Market: qual é o fundo?
A tese de que 2022 seria de correção para o mercado de cripto se confirmou, tornando realidade uma das maiores “esquizofrenias” do mercado de cripto até o momento: os ciclos de halving do bitcoin (BTC), que representa 42% do total de market cap do mercado, continua cravando os ciclos de valorização e desvalorização das outras mais de 22 mil criptos que em nada têm a ver com esse movimento.
Sobre a correção, minha opinião é que já chegamos no momento de capitulação de mercado e que a maior probabilidade é que tenhamos um 2023 muito mais propício para investimentos em criptoativos, com algumas valorizações importantes, inclusive das maiores iniciativas do mercado.
Há, contudo, aqueles que ainda acreditam que uma nova queda é possível. O principal argumento para isso é que investidores estariam aguardando a virada do ano para marcarem os criptoativos a mercado com o bitcoin a US$16,8k, para fins de balanço, e, após, despejariam boa parte deles no mercado.
Vale dizer que essa hipótese confirmaria esse bear cycle como algo muito similar ao de 2014/15, quando isso também ocorreu (vide a movimentação do bitcoin em janeiro de 2015, por exemplo).
2 – Macroeconomics x cripto
A escalada dos juros durante 2022 como medida de controle à inflação no mundo todo fez a atratividade dos ativos de renda variável, incluindo cripto, cair drasticamente. Tanto é que vivemos boa parte do ano com uma inédita correlação direta entre o preço do bitcoin e o S&P500.
A correlação, contudo, é temporária na minha opinião.
Primeiro porque mesmo o aumento crescente dos juros não tem sido suficiente para repor a inflação com investimentos de renda fixa – o que fará, inevitavelmente, com que o investidor retorne gradativamente para a renda variável durante 2023.
Segundo, porque, no momento em que isso ocorrer, haverá ativos mais descontados e oportunidades de compra mais claras que outras. No mercado tradicional, sabemos que há verdadeiras pechinchas atualmente se comparado aos valuations anteriores. Contudo, muitos desses valuations se baseavam em múltiplos extremamente esticados (ex: de receita), que podem não fazer mais sentido nos dias atuais.
O bitcoin, por sua vez, está há meses sendo negociado abaixo de custo. O ethereum (ETH), após a introdução da política de queima de tokens com o EIP 1559 e o triplo halving ocorrido com o The Merge termina o ano de 2023 deflacionário. Ou seja: 2 super teses com indiscutível percepção de valorização futura.
3 – Construindo em meio ao caos
Já comentei que isso ocorreu no passado e nesse bear market não tem sido diferente: esses momentos de correção no mercado são geralmente um divisor de águas em termos de desenvolvimento de soluções para o criptomercado.
Em 2014/15, vimos o surgimento do ethereum. Em 2018/19, vimos o nascimento do DeFi. E agora, em meio ao caos, tenham a certeza: há soluções sendo desenvolvidas que possibilitarão a muitos terem ganhos expressivos nos próximos anos. Portanto, fiquem ligados!
4 – ETH “flippando” o BTC
Além da mudança drástica no tokenomics do ETH, que termina o ano como um criptoativo deflacionário, as atualizações do ethereum e a evolução das soluções de 2ª camada têm consolidado esse protocolo como o queridinho do mercado.
É importante frisar que a tese de valorização do ETH tem por principais pressupostos (i) o tokenomics, e (ii) o critério utilitário da rede. Com essas duas variáveis “em alta”, é de se esperar começarmos a ver o ETH ameaçar a hegemonia do BTC como #1 do mercado em breve.
5 – Ethereum Killers x soluções de 2ª camada
Dados os desafios de escalabilidade com segurança e taxas baixas vividos pelo ethereum desde 2017, outros protocolos para desenvolvimento de contratos inteligentes (os chamados “Ethereum Killers”) surgiram no mercado: solana, a rede BSC e cardano estão entre os principais.
Ocorre que essas soluções também tiveram problemas ao longo do tempo: solana viu sua rede ser interrompida por pelo menos 5 vezes durante 2022. A rede BSC é extremamente centralizada atualmente, contando apenas com 21 nodes. E cardano possui um pipeline tão extenso e complexo de desenvolvimento que ainda não virou uma realidade.
Fato é que, nesse meio tempo, tanto o próprio ethereum evoluiu, quando soluções de escalabilidade denominadas de Layer 2 (2ª camada) surgiram para dar vazão às transações que precisam ser processadas no protocolo a preços mais singelos.
O que devemos ver durante esse ano é um “teste de estresse” dessas soluções de 2a camada versus o desenvolvimento dessas Ethereum Killers, em uma competição quase que direta entre ambas.
6 – M&As e falências
O ano de 2022 deixou algumas lições bem amargas para o criptomercado: não bastasse a correção drástica do mercado, acelerada pelo cenário global, a quebra da FTX afetou o mercado inteiro em uma espécie de “efeito dominó”.
Por conta disso, muitas iniciativas, especialmente as que detinham fundos depositados naquela corretora, viram seus recursos desaparecerem e se encontram atualmente em uma frágil situação financeira.
Assim, é de se esperar que 2023 seja marcado pela tentativa de resgate daquelas iniciativas que outros players entendam que vale a pena tentar salvar, por meio de fusões e aquisições, e que outras simplesmente sucumbam à falta de caixa e ao momento péssimo para captação no mercado e simplesmente deixem de existir.
7 – CEx x DEx
Não bastasse a quebra de terra / luna e a quebra da FTX terem gerado um resgate massivo de criptoativos depositados em corretoras centralizadas, o FUD em torno da Binance nas últimas semanas também ocasionou resgates na casa dos bilhões de dólares da corretora.
Ao meu ver, isso não é temporário. Esses casos, todos, trouxeram uma grande lição para os atuais HODLers do mercado: a autocustódia é fundamental e o único meio de se manter seguro em meio a todo o caos.
Por conta disso, acredito cada vez mais na redução do papel das exchanges centralizadas (CEx) como intermediadoras de transações de criptoativos, sendo possível que o volume de transações cada vez mais migre para os ambientes de negociação descentralizados (DEx). E, dado o estágio atual do mercado, é bem possível que já tenhamos indícios dessa migração durante o ano de 2023.
8 – Regulação, regulação, regulação
Ainda que o bitcoin tenha sido desenvolvido para não depender de qualquer intervenção governamental, fato é que negócios que lidam com criptomoedas e, especialmente, aqueles que mantêm custódia de clientes, começaram a apresentar um risco sistêmico considerável, já que esse mercado já beira a casa de US$ 1 trilhão.
Impulsionado pela quebra da FTX, que estima-se tenha lesado mais de 1 milhão de clientes, incluindo investidores americanos, e cujo prejuízo está na casa dos US$ 8 bilhões, é de se esperar que 2023 seja marcado por sucessivas tentativas de regular esse mercado, não só nos EUA como no mundo todo.
Por um lado, isso tende a frear a inovação em determinados campos – especialmente se licenças e capital social mínimo forem impostos para que determinados tipos de empresas possam operar. Por outro, é de se esperar que haja uma contrapartida no sentido de conferir maior segurança aos clientes e investidores, que ao depositar recursos nessas empresas poderão se valer de salvaguardas adicionais.
*Helena Margarido é especialista em blockchain e moedas digitais e sócia da Monett |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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