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As teorias da conspiração e seus efeitos no mercado de ações
Quem acredita em teses fantasiosas tem menos chances de investir em ações.
A covid-19 é um plano de Bill Gates, criador da Microsoft (MSFT34), para vender vacinas ou implantar chips nas pessoas. Já o 5G, em vez de melhorar o sinal das telecomunicações, seria uma forma de espalhar vírus, já que em grande parte depende de equipamentos chineses. A eleição de 2016 nos Estados Unidos? Foi manipulada pela Rússia em parceria com Donald Trump. Mas também há o QAnon, ligado aos supostos adoradores de Satanás, pedófilos e canibais.
São todas teorias da conspiração que estão ou estiveram em voga nos últimos anos, com efeitos negativos sobre a saúde da população, como na recusa às vacinas, à democracia e à própria vida de quem acredita nelas. Mas um estudo recentemente publicado por um jovem psicólogo na Alemanha sugere que as supostas conspirações também têm um efeito prejudicial sobre a saúde financeira de seus defensores.
Michael Edem Fiagbenu, um estudante em seu último ano de doutorado na Universidade de Jena e pesquisador do prestigiado Instituto Max Planck, ambos na Alemanha, tem feito algumas boas contribuições para entender a psicologia do mercado e, também, as ideologias. Em tempo de polarizações tão radicais como o que estamos vivendo, contribuições úteis, sem a menor dúvida.
No estudo, publicado em junho no Wiley Online Library, um grande repositório de artigos, livros e publicações científicas, ele examinou três pesquisas para tentar entender se acreditar em conspirações afasta alguém do mercado financeiro. As respostas demonstram uma influência dos teóricos da conspiração sobre a decisão de ter ou não ações entre os investimentos.
Na primeira pesquisa, entre 8% e 19% dos entrevistados, em um total de 65 mil pessoas em 25 países que acreditavam em teorias da conspiração envolvendo os ataques do 11 de setembro ou a participação da Rússia em fraudes na eleição presidencial de 2016 disseram não investir em ações. Mas os resultados variaram conforme a renda. Quanto mais aumentava, acreditando ou não em conspirações, maior a chance de entrar na bolsa.
A segunda pesquisa usou dados de entrevistas realizadas em 2020 com eleitores em uma grande pesquisa nacional nos Estados Unidos, os American National Election Studies, sobre a economia e a política sendo controladas por um pequeno número de poderosos. Mais uma vez o aumento da crença em conspirações estava associado a menos investimentos em bolsa. De 16% em média.
E a terceira pesquisa usou as mesmas entrevistas com eleitores, porém realizadas em 2012. Já as conspirações envolviam se o ex-presidente americano Barack Obama nasceu no Quênia, como acreditam alguns eleitores do Partido Republicano, ou se o governo de George W. Bush, antecessor de Obama, ajudou a causar a enchente que destruiu a cidade de Nova Orleans depois do furacão Katrina, em 2005, como acreditam alguns eleitores do Partido Democrata.
Ambas são teses fantasiosas, mas quem acredita nelas, segundo os resultados, tem menos 20% de chance de investir em ações. Só que mais uma vez a renda importava. Conforme ia aumentando, a possibilidade de ter ações na carteira subia até 62%.
O estudo é um poderoso recado sobre como a confiança na sociedade é importante. Quando é questionada, as pessoas são mais propensas a atitudes e decisões irracionais. E, como investidores, a perder oportunidades e prejudicar o próprio futuro financeiro se a recusa a ter ações ocorre em um momento favorável às bolsas.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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