Colunistas

Bitcoin pode sair mais forte do cenário macro desafiador

Em meio às diversas crises na economia mundial, criptomoeda se destaca e mostra ter ainda mais relevância.

Publicado

em

Tempo médio de leitura: 7 min

Desde o início de 2022, o bitcoin (BTC) e o mercado cripto encaram uma verdadeira “prova de fogo”.

Isso porque, até o ano passado, as condições macroeconômicas eram favoráveis para uma classe de ativos de alto risco. Principalmente depois de 2010, com taxas de juros próximas de 0%, crescimento do PIB global acima de 2,5% e inflação controlada nas principais economias, não faltava liquidez para a diversificação em ativos com alto potencial.

A pandemia pôs um primeiro desafio nessa trajetória. Entre fevereiro e março de 2020, com as evidências do impacto que seria imposto pela covid-19, os criptoativos seguiram o mercado de ações numa sequência de quedas impressionantes – nos 30 dias até 13 de março, a capitalização de cripto decaiu mais de 50%.

Mas a crise global ainda seria adiada, principalmente com a emissão monetária empenhada nos Estados Unidos e na Europa. Grande parte da liquidez oferecida seria aplicada no mercado financeiro, oferecendo novo fôlego aos mercados de risco – não à toa, cripto e as bolsas não só se recuperaram rápido como alcançariam máximas históricas em 2021.

Foi em 2022 que a conta, de fato, chegou. Com o estouro da guerra da Ucrânia em fevereiro; a progressão na taxa de juros norte-americana a partir de março; e o recrudescimento das disputas econômicas entre EUA e China, com implicações inéditas no comércio e no padrão monetário mundial, ficou clara a transição para um novo ciclo econômico.

E é neste cenário que cripto, hoje, realiza muitas promessas dos seus idealizadores. Veremos, a seguir, o porquê da instabilidade econômica e do enfraquecimento do dólar serem, na verdade, grandes oportunidades para cripto e suas tecnologias.

O bitcoin na guerra da Ucrânia

Notas de rublo russo ao lado de representações de bitcoin (01/03/2022 REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração).

A guerra da Ucrânia trouxe algumas validações importantes para o uso do bitcoin.

Para começar, centenas de milhões de dólares em BTC e outros criptoativos foram doados para apoiar a resistência à invasão. Nesse ínterim, as blockchains demonstraram o potencial do seu caráter transfronteiriço, permitindo transações mais rápidas, baratas e verificáveis em tempo real.

Também foi recorrendo à criptomoeda que muitos refugiados ucranianos conseguiram conservar seu patrimônio. As negociações online (24 horas por dia e 7 dias por semana), independentes de fronteiras permitiram a conversão da sua riqueza para uma moeda que pudesse ser aceita ou convertida em praticamente qualquer país de destino.

Muitos russos também aderiram a esse uso, é verdade. Mas, aqui, o frequentemente esquecido elemento “pseudo” do pseudoanonimato das blockchains mostrou o seu valor. Para impedir que as oligarquias locais contornassem as sanções internacionais à Rússia, os bitcoins que passaram pelas exchanges do país foram rejeitados por diversas instituições do mundo cripto – e, até, por muitos protocolos descentralizados.

O bitcoin na guerra das moedas

Excluída do mercado internacional e com fortes restrições no sistema financeiro, a Rússia ampliou seus laços comerciais com a China para superar o baque econômico.

O novo alinhamento político se refletiu nas reservas russas, que, pelo menos desde 2019, já vinham trocando posições em dólar por euro, yuan e ouro. Mais recentemente, o banco central russo ainda despejou seu estoque em moeda europeia para mitigar a sua exposição ao Ocidente.

O cenário é perfeito para a China, que tem aproveitado cada oportunidade de questionar a hegemonia do dólar. Em um tratado do mês passado, por exemplo, a potência oriental estabeleceu que não haverá mais conversão para dólar nas transações bilaterais com o Brasil.

E outros países veem com bons olhos o enfraquecimento da moeda estadunidense. Índia, Emirados Árabes e Arábia Saudita são algumas das nações buscando alternativas para a precificação de petróleo e gás em dólar, enquanto os BRICS (acrônimo para as cinco principais economias emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estudam a criação de uma moeda própria.

Mas e o bitcoin nesse meio? A criptomoeda pode parecer pequena nessa briga, dada a sua capitalização de “apenas” US$ 500 bilhões. Mas o BTC não precisa substituir o dólar para mudar de patamar.

O uso em transações internacionais não exigiria mudanças drásticas no comércio para trazer grandes avanços para o bitcoin. Os exportadores que aceitassem pagamentos na criptomoeda seriam incentivados a manter parte da sua riqueza em BTC, o que, por sua vez, significa um estímulo a também vender por BTC.

A exposição ao bitcoin via comércio exterior também abriria caminho para o investimento dos Bancos Centrais (BCs) – já que, para proteger suas balanças comerciais, os exportadores líquidos de BTC precisariam garantir a sua capacidade de compra dos produtos que importam.

E essa seria, sem dúvidas, a conquista mais importante da história do bitcoin: o status de moeda de reserva.

Aqui, claro, caberia uma pergunta: se a chave das disputas monetárias é o uso para transações e reservas, por que um governante trocaria o dólar por uma moeda que ele também não controla?

A resposta, sem paralelo no universo das moedas estatais, é o fato de o bitcoin não ser controlado por ninguém. Substituindo as cotações em dólar por preços denominados em euro ou yuan, por exemplo, um exportador de petróleo ainda está sujeito à política monetária de algum BC.

Mas chega de hipóteses. Vamos ver por que o hedge para inflação é um campo de batalha importante para a principal criptomoeda – e como ela está se saindo.

O bitcoin na guerra à inflação

Para calar os críticos da tese de ativo de reserva, o bitcoin precisa provar que o seu valor resiste à inflação.

Essa tese sofreu duros ataques desde a pandemia. Tendo se tornado mais correlacionado às ações do que nunca, o bitcoin agiu de acordo com a tese de investimento mais geral de cripto: a de ativo arriscado com alto potencial de valorização, andando em desalinho com as escaladas dos preços.

Mas o cenário, hoje, parece estar mudando. Os últimos anos marcaram a entrada de grandes investidores institucionais no bitcoin – incluindo fundos de pensão e outros agentes interessados na tese de longo prazo.

O horizonte temporal desses investimentos, a decrescente importância do varejo e o aumento da clareza regulatória em torno do bitcoin tendem a favorecer um comportamento mais estável na evolução de preços, gerando ainda mais incentivo para o uso como reserva.

A cripto hoje

O bitcoin enfrenta, hoje, desafios que dificilmente teriam sido imaginados em 2008. Na virada de ciclo econômico, com tensão geopolítica crescente e o fantasma da estagflação, a criptomoeda pode finalmente provar que não é mais um ativo de risco.

Para isso, conta com um histórico de solidez tecnológica e crescimento resiliente; com a validação de investidores e instituições do mundo todo; e com o crescimento de um ecossistema cripto cada vez mais maduro.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

Veja também

Mais Vistos