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Investimento em tempos de guerra

Impacto dos eventos bélicos sobre os investimentos de longo prazo tem demonstrado ter duração muito limitada.

Axel Christensen

Em tempos normais, os mercados costumam movimentar-se no ritmo das cifras econômicas e indicadores financeiros mais recentes. Em tempos de guerra, ao contrário, como no caso da invasão da Ucrânia pela Rússia, são as notícias geopolíticas que movimentam os preços. Para a maioria dos investidores, que costumam ter objetivos de investimento no longo prazo, são tempos de incerteza, pois as guerras, a menos que muito rápidas e assimétricas, tendem a trazer grandes consequências financeiras. 

Para os especuladores, no entanto, os temores da guerra são enormes oportunidades. Se corretamente posicionados, podem alcançar lucros altos. Ainda assim, podem durar pouco, caso os mercados se ajustem mais rapidamente do que o conflito é resolvido. Uma análise histórica dos conflitos bélicos mostra que, na maioria dos casos, após declínios iniciais significativos, os mercados tendem a recuperar suas perdas com relativa rapidez. Por exemplo, em média, o S&P 500 corrigiu 6,5% nos três meses após uma guerra (global ou regional) e depois viu um ganho de 13% um ano após o evento. 

Considerando o acima exposto para o longo prazo, no que devemos nos atentar de imediato? O conflito russo-ucraniano foi uma surpresa para os mercados. Os ativos de risco tiveram correções drásticas, com as ações dos Estados Unidos e da Europa atingindo novos mínimos para o ano. Os rendimentos dos títulos do governo diminuíram, mas não tanto quanto as quedas da bolsa poderiam implicar, o que indica que são menos atrativos como diversificadores em um cenário inflacionário. Além disso, a escalada, incluindo sanções financeiras e restrições tecnológicas, para um impasse prolongado entre a Rússia e o Ocidente, provavelmente levará a novas correções, como os ativos têm refletido claramente.

O principal impacto macroeconômico a curto prazo é a elevação da inflação através do rápido aumento dos preços da energia e dos alimentos provenientes da Rússia e da Ucrânia, respectivamente. Isto ocorre exatamente quando os bancos centrais fazem esforços para conter as pressões sobre os preços impulsionadas por problemas de oferta, atrasando e elevando seu pico. 

Mas, ao mesmo tempo, pode ser a desculpa perfeita para os bancos centrais, em vez de buscar a normalização de suas políticas monetárias aos níveis pré-covid para conter a inflação, estarem dispostos a viver com um pouco mais de inflação, por causa dos altos custos para o crescimento e o emprego que taxas mais altas implicam. Os bancos centrais se moverão com mais cautela ao aumentar as taxas, especialmente o Banco Central Europeu. Paradoxalmente, a guerra pode ter reduzido o risco de que os bancos centrais desacelerem de repente, ou de que os mercados pensem que isso irá acontecer.

Em resumo, o impacto dos eventos bélicos sobre os investimentos de longo prazo tem demonstrado ter duração muito limitada. Entretanto, não se deve perder de vista o impacto macro sobre a inflação e as consequências para as ações dos bancos centrais. Antes da escalada da guerra, havia certa atratividade da exposição acionária a mercados que descontavam muitas altas de taxas. A prudência aconselha adiar – mas não cancelar – essa mudança até que haja mais clareza sobre a evolução do conflito. 

*Axel Christensen é diretor de estratégia de investimentos para a América Latina da BlackRock.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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