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Coluna do Samy

Por que decidir sozinho um investimento nos faz correr mais riscos

Excesso de confiança pode ser prejudicial, aponta estudo.

Gráfico de ações

Existe um jargão do mercado que diz que comprar uma ação em forte queda é como pegar uma faca caindo. A possibilidade de sair machucado, no bolso ou literalmente, é grande. Mas é o que costumam fazer muitos investidores, remando contra a maré, seja por enxergarem uma oportunidade, seja por se acharem capazes de adivinhar o ponto de virada no preço. Às vezes, os dois.

Se a lei da eficiência dos mercados está certa, há uma tendência maior à decisão não ser boa. Se uma ação está caindo, seu preço expressa as informações negativas de momento sobre ela. Por que, então, as pessoas preferem ignorar estas informações? Há várias explicações. Mas uma certamente é o excesso de confiança.

Confiança em excesso costuma ser apontada como um dos fatores que mais elevam os riscos. Na Austrália, os serviços de ambulâncias, por exemplo, dispõem de um manual para conter os motoristas confiantes demais. É consenso no país que quando eles se sentem melhores do que os demais são mais propensos a cometer erros, muitas vezes fatais.

Vale para motoristas, mas também para investidores. Golpistas como Bernie Madoff e Sam Bankman-Fried dificilmente teriam causado tanto estrago não fosse a crença de suas vítimas de que os ganhos irreais que supostamente obtinham se deviam à própria capacidade de achar um gestor acima da média. Não estavam sozinhos. Se achar acima da média é um hábito comum.

Em um estudo clássico, de quase cinco décadas atrás, 94% dos professores universitários americanos disseram que se consideravam acima da média. Resultado que se repetiu com vendedores, estudantes de administração e CEOs de empresas. E não adianta esperar que a realidade mude alguma coisa. Em outro estudo famoso, 50 motoristas envolvidos em acidentes graves, muitos deles hospitalizados, e outros 50 que nunca bateram seus carros avaliaram a própria habilidade e cautela.

Era de se esperar que entre os acidentados a confiança fosse menor. Mas os motoristas continuavam se considerando tão bons quanto aqueles que nunca sofreram um acidente. Como diz o grande Richard Thaler, todo mundo se acha mais inteligente do que os outros. Sentindo-se mais esperto, é mais fácil superestimar as chances de sucesso e subestimar as de fracasso. O que aumenta a tendência a correr riscos e as chances de erro.

Mas pelo menos quando se trata de investidores há uma saída: falar com outras pessoas. Trocar ideias sobre investimentos, seja com um especialista ou simplesmente um amigo, reduz o efeito da superconfiança e melhora nossas decisões de investimento, segundo estudo recente da Universidade de Sussex, no Reino Unido.

De autoria de um professor de marketing, Dominik Piehlmaier, um pesquisador com outros estudos sobre excesso de confiança, e publicado no prestigiado Journal of Consumer Research, o trabalho examina o papel do excesso de confiança em uma estratégia arriscada de investimento: comprar ativos em queda forte. Para isso, examina dados de dois mil investidores, 6.494 consumidores e 657 voluntários – estes últimos também foram entrevistados.

O foco era avaliar se investidores, decidindo sozinhos, tendem mais ao excesso de risco, no caso, comprando ativos em queda livre, a tal “faca caindo”. Os resultados demonstram que sim. Sem compartilhar suas decisões, a probabilidade de entrar em papéis mais arriscados era duas vezes maior do que quando consultavam outra pessoa sobre a sabedoria do investimento.

O estudo ressalta a relação entre o excesso de confiança e as decisões solitárias. E é o primeiro trabalho a demonstrar que investidores lucram bem mais quando compartilham dúvidas sobre se estão se arriscando demais.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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