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Com Selic acima de 10%, onde investir na renda variável?
Especialista cita 3 pontos para considerar antes de mudar a estratégia de alocação.
Pergunta: Com a Selic acima de 10%, onde encontrar opções mais rentáveis na renda variável?
Resposta de Wander Vicente:
Em fevereiro de 2022 o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa Selic para 10,75% ao ano, como parte da estratégia do Banco Central na tentativa de frear o aumento da inflação.
Essa “manobra” está fazendo muitos investidores questionarem as suas estratégias de investimentos e buscarem informações para decidir se este não seria o momento de procurar investimentos mais rentáveis ou então rever sua carteira de investimentos e focar a maior parte do seu patrimônio (se não todo ele) em renda fixa.
Se isso também passa pela sua cabeça, leia essa matéria até o final! São 3 pontos importantes que você precisa levar em consideração antes de mudar a sua estratégia atual de investimentos em busca de mais rentabilidade com a Selic elevada:
1 – Definir prazos para cada um dos seus investimentos
O grande ponto aqui é ponderar nesta sua análise o curto prazo, mas também o longo prazo.
Aplicações financeiras destinadas a objetivos de até 2 anos deveriam estar alocadas em investimentos menos voláteis como, por exemplo, a renda fixa. Na modalidade de renda fixa, aplicações financeiras com expectativa de retorno vinculadas ao CDI ou a Taxa Selic naturalmente parecem boas opções, considerando o cenário da Selic hoje.
Contudo, para investimentos de longo prazo, normalmente associados a formação de patrimônio, liberdade financeira ou mesmo aposentadoria, é importante você isolar as pontualidades de mercado. Historicamente, percebemos que em um curto espaço de tempo o que é chamado “melhor investimento” muda constantemente. Normalmente, o melhor investimento do último ano não é o melhor investimento do ano seguinte.
Considerando isso, você não pode supor que a Taxa Selic será o melhor investimento para seus objetivos de longo prazo com base no curto prazo, ou que será a renda variável, multimercados, previdência etc. Ao decidir não se influenciar pelas métricas de curto prazo, você atuará de uma forma muito importante na gestão dos seus investimentos.
Os anos de 2016 e 2017 são provas disso. O CDI rendeu 14% e 9,90% respectivamente, enquanto o Ibovespa chegou a 38,9% e 26,9% nestes mesmos anos. Observe que, mesmo com taxas de retorno elevadas na renda fixa, não significa que outros investimentos não terão melhores retornos. Mas apontar um tipo de investimento e “se jogar nele” é praticamente jogar na loteria e esperar ser premiado. Buscar resultados audaciosos hoje, com base em recomendações pontuais, já se mostrou por diversas vezes um erro enorme.
Essa análise nos leva ao segundo ponto de reflexão.
2 – Ter metas de retorno para seus objetivos
Metas de retorno para objetivos de curto prazo normalmente estão atreladas a investimentos mais seguros e com menor volatilidade, como a renda fixa, pois o grande foco não é o alto retorno, mas a minimização de riscos e preservação de capital com possibilidade de algum ganho real.
Quando falamos de algo maior, de longo prazo, as metas de retorno têm sim alta relevância.
Vou exemplificar com um cenário hipotético: imagine que você tenha o objetivo de alcançar uma renda passiva de R$10.000 por mês (fruto dos seus investimentos e aporte recorrentes) daqui a 20 anos e, para isso, você precisa que seus investimentos entreguem, em média, um retorno real de 8% ao ano.
Qual é o seu grande desafio aqui? É criar uma estrutura de investimentos que entregue, em média, esses 8% ao ano em um período de 20 anos, esteja a taxa Selic em 2% (como chegou no segundo semestre de 2020) ou em 10,75%, como está na data de hoje.
Perceba que, a oscilação da Taxa Selic não interfere na sua necessidade de retorno de longo prazo. É a sua estratégia de investimento que é relevante para atingir suas metas de retorno e chegar aos seus objetivos. Por isso, ter apoio profissional na definição dessa estratégia é fundamental para que você construa algo sólido e estratégico, independente do momento de mercado.
Essa segunda análise nos leva ao terceiro ponto de reflexão.
3 – Ter uma carteira estrategicamente diversificada de investimentos
A maior parte dos investidores acredita que tem uma carteira diversificada de investimentos, mas na prática, isso não é verdade. Ter o COE “X”, o Fundo “Y” e a Previdência “A”, não significa que, no final, você está estrategicamente posicionado para atingir suas metas de retorno e chegar nos seus objetivos.
Você pode ter tudo isso que citei acima e, apesar de serem tipos diferentes de investimentos, eles podem ter estratégias parecidas, o que descaracteriza uma diversificação de fato.
Construir uma verdadeira carteira de investimentos é uma tarefa difícil e depende de uma série de fatores para lidar com as mudanças de cenário, conhecimentos setoriais, simuladores, análises específicas etc. Por isso, a sua capacidade em fazer boas escolhas na hora de definir profissionais ou empresas para gestão de patrimônio será fundamental para você criar uma carteira estrategicamente diversificada de investimentos.
A criação de uma carteira adequada de investimentos permitirá que, no longo prazo, você tenha resultados acima da média, alinhados ao que você provavelmente está buscando hoje.
Particularmente, acredito que empresas que atuam no modelo fiduciário, que tem características de um Family Office, têm estruturas mais preparadas para ajudar você a construir isso da maneira certa.
Por fim, uma recomendação extra para você que está buscando resultados melhores, mesmo com a taxa Selic alta, é procurar e encontrar o suporte profissional correto para te ajudar a entender as reais possibilidades que você tem, considerando a sua realidade hoje.
Ter a direção certa hoje trará muito mais resultado amanhã.
*CFP® – Planejador Financeiro na Fiduc.
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