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Como fazer uma boa análise de desempenho das empresas?

Entenda qual é a importância de desenvolver uma percepção apurada sobre a cultura das companhias.

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Com o desenvolvimento local do financial deepening (aprofundamento financeiro), termo que se refere ao aumento da oferta de serviços financeiros e o consequente entendimento maior sobre eles por parte do público, a atividade de análise e escolha de ações se tornou popular entre os brasileiros. 

Os números divulgados pela bolsa não mentem. Há dez anos (2011), as pessoas físicas com contas ativas na B3 eram pouco menos de 600 mil, número que atualmente já ultrapassou a casa de 3,8 milhões. No mesmo período, a posição financeira do grupo saiu de pouco mais de R$ 100 bilhões para em torno de R$ 550 bilhões.

Ao passo em que as iniciativas de educação financeira e conteúdo especializado em análise de empresas foram difundidos democraticamente através da internet, servindo como promotores do fenômeno observado, a exposição prática a ações também foi um propulsor que não deve ser ignorado.

Hoje, jovens entusiastas são adeptos da importantíssima vertente quantitativa da análise, a qual foi facilitada pelo desenvolvimento de ferramentas que compilam dados sobre as empresas de maneira amigável e eficiente (como faz o Status Invest e o Suno Analítica).

Adicionalmente, conforme desenvolvem ainda mais suas aptidões, esses investidores também passam a considerar temas como vantagens competitivas e suas ramificações, como força de marca, estratégias de distribuição ante os competidores, entre outras.

Contudo, como a relevância desses temas ainda é recente no Brasil, naturalmente existem lacunas menos óbvias nos passos da análise de ações que devem ser evidenciadas. O terceiro passo que precisa ser dado por esses novos investidores, portanto, deve ser o de desenvolver uma percepção apurada sobre a cultura das companhias.

Invariavelmente, o capital humano é o que guia todas as estratégias empregadas e, consequentemente, os resultados que podem ser quantificados. Isso deriva do fato de que, no final das contas, todos os negócios são feitos por pessoas.

De início, é necessário ter clareza sobre exatamente o que é cultura quando estamos falando de empresas. No artigo que inspirou esse texto (The Softer Side of Value Investing), o investidor Vitaliy Katsenelson conceituou o tema de uma forma bastante acertada: “Cultura é o que as pessoas fazem quando não há ninguém supervisionando.”

Isto nada mais é do que o conjunto de princípios que alinha o comportamento de todas as pessoas envolvidas na operação de uma empresa. Dessa forma, uma cultura positiva faz com que a união dos colaboradores exceda sua soma meramente matemática, propiciando sinergias.

Negativamente, uma cultura problemática causada por deficiências de liderança e controles internos, ou até mesmo por burocracias desnecessárias, tende a destruir valor ao longo do tempo.

Um belo exemplo é a história contada por Warren Buffett, que citou que os colaboradores de uma seguradora simplesmente pararam de informar contratempos para seus superiores na medida em que perceberam que sempre que traziam más notícias, eram recebidos com gritos. Nesse caso, a agilidade na solução de problemas foi comprometida por uma cultura negativa.

Para avaliar um ponto tão subjetivo, Katsenelson destaca que as pequenas medidas que os executivos e colaboradores fazem importam. 

Assim como crianças prestam mais atenção às atitudes dos pais que suas palavras, perceber como as pessoas que representam a empresa que você está analisando agem é o mais importante. Visto que as pessoas tendem a emular as atitudes de sua gerência, na maior parte das vezes, a cultura vem de cima.

Sendo assim, observar o quão bom parece ser o ambiente de trabalho das companhias pode trazer bons indicativos. Nas empresas com exposição ao varejo, por exemplo, isso é bastante fácil de ser observado.

Do mesmo modo que uma cultura positiva pode indicar um potencial gigantesco, dado que essa é a característica que guia todas as estratégias e os resultados de companhias extraordinárias, culturas negativas tendem a puxar até ótimos negócios para baixo.

Portanto, o quanto antes os investidores começarem a incorporar essa camada em suas análises, mais próximos estarão de concluir a jornada que é necessária para executá-la com a maestria dos mais experientes.

*A Suno é uma casa de análise especializada em conteúdo sobre investimentos e educação financeira para o pequeno investidor pessoa física.

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