Colunistas
Como manter as promessas criadas para o ano novo?
O desejo de mudança, que se renova a cada dezembro, é um dos maiores exemplos de otimismo que muita gente pratica.
Poucas coisas representam mais nossas expectativas positivas sobre o futuro do que as promessas ou resoluções que são feitas para o ano novo. É a época do ano em que refletimos sobre nossas falhas e sobre as mudanças que precisamos promover para o ano que virá. Traçamos rotas para o que queremos e metas a alcançar. Seremos mais responsáveis financeiramente, mais saudáveis, experientes e, principalmente, seremos mais felizes do que fomos em 2021.
É por isso que Sendhil Mullainathan, professor de Computação e Ciência Comportamental da Universidade de Chicago Booth e autor do livro “Escassez: uma nova forma de pensar a falta de recursos”, diz que janeiro é um bom período para os estudos que unem economia e comportamento. Infelizmente, como ele também aponta, em estudos a respeito, entre 81% e 92% das pessoas confessaram que trapacearam em suas resoluções do ano anterior.
A diferença entre promessa e realidade é um exemplo de como, antes da economia comportamental, os livros de economia falhavam em explicar algumas consequências de nossas escolhas. Promessas de Ano Novo são feitas para nos beneficiar. Se cumpridas, é o que acabará acontecendo. O lógico é pensar que cada um vai dar um jeito de cumprir as expectativas, fazendo os sacrifícios necessários, e ter um dezembro de 2022 mais satisfatório.
Tomando como base, os antigos livros de Economia, as escolhas são as mesmas ao longo do tempo. Em um sábado, depois do almoço, a pessoa olhará para a sobremesa e decidirá, com base no desejo de emagrecer. Numa sexta à noite, vai abrir mão de mais uma cerveja com os amigos em nome da saúde. Ou vão se manter aferradas o ano inteiro à promessa de gastar menos esse ano em nome da tranquilidade financeira.
Mas sete em cada dez brasileiros relatam que não guardam dinheiro e, de um modo geral, admitem um estilo de vida pouco saudável, segundo pesquisa de 2020 da fintech Acordo Certo. As pessoas não fazem isso porque querem fracassar nas promessas ou não se importam. O desejo de mudança, que se renova a cada dezembro, é um dos maiores exemplos de otimismo que muita gente pratica.
Assim como a antiga teoria econômica, quase todo mundo também acredita que seus objetivos vão prevalecer no longo prazo. Mas é pouco levado em consideração que durante o ano serão milhares de trocas afetando esses mesmos objetivos. E que o tempo todo seremos tentados a desfrutar já os frutos da decisão de sabotar nossos planos de mudança em vez de esperar um ano, mesmo com um ganho maior no futuro.
No mercado financeiro, cada investidor estará exposto ao desejo de não ficar de fora de uma alta ou de fugir de uma queda, de vender as ações (ou outro título) que vêm subindo para cobrir o prejuízo de continuar mantendo os papéis que estão caindo, de confiar demais na própria capacidade de tomar decisões e de analisar cenários confiante de que o desfecho mais positivo é sempre o mais provável quando se trata de você.
Mas tendência não é destino e Daniel Kahneman, pai da economia comportamental a ganhador do Nobel de Economia, tem algumas dicas. Para evitar gastos e se alimentar de maneira saudável, ele sugere pré-agendar suas compras em plataformas e aplicativos, evitando ceder a algum impulso de momento. Para guardar dinheiro, programar que o desconto seja feito direto na conta todo mês. Para investir, uma estratégia parecida, programando pontos de entrada mais baratos e fugindo da tentação de pagar mais caro.
Óbvio que nem sempre será possível, mas são estratégias razoáveis para que ao menos no seu caso janeiro seja melhor do que fevereiro, o mês favorito dos estudiosos sobre o comportamento. É quando as promessas costumam ser descumpridas.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
Veja também
- Investir em Barbie, Lego ou Super Homem é divertido, mas não é brincadeira
- Como os resultados da Copa do Mundo mexem com as bolsas de valores?
- A psicologia por trás da febre dos NFTs
- Bolsas internacionais: como elas afetam o Ibovespa e em quais ficar de olho
- Madrugador x ‘corujinha’: por que investir logo cedo pode não ser o ideal
- Falsas lembranças podem levar a prejuízos, diz estudo