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Conheça a teoria da reflexividade dos mercados financeiros, de George Soros
Entenda como a narrativa influência na realidade e faz com que a narrativa se torne a própria realidade.
Nesta edição, trataremos de um dos maiores investidores da atualidade, tão bom como alocador de recursos, é também um exímio filósofo, sendo bastante influenciado por Karl Popper.
Nascido na Hungria, na década de 30, George Soros logo na adolescência (1944-1945) viveu uma ocupação nazista, que resultou no assassinato de mais de 500 mil húngaros.
Em meio a ocultações de identidades, assunção de documentos falsos, George e sua família conseguiram sobreviver ao massacre, conseguindo também ajudar algumas outras pessoas.
À medida que os comunistas consolidavam o poder na Hungria após a Grande Guerra, Soros deixou Budapeste em 1947 e foi para Londres, onde trabalhava meio período como carregador de ferrovias e garçom de boate para sustentar seus estudos na London School of Economics.
Na década de 50, emigrou para os Estados Unidos, ingressando no mundo das finanças e dos investimentos, onde fez sua carreira e fortuna.
Em 1973, ele lançou seu próprio fundo de hedge e se tornou um dos investidores mais bem-sucedidos da história dos Estados Unidos, chegando a ser conhecido como “o homem que quebrou o banco da Inglaterra”.
Os horrores vividos por Soros e sua família na década de 40 fizeram com que ele se tornasse um árduo defensor da liberdade de expressão e dos conceitos de equidade e justiça social. Com o intuito de defender essas causas, fundou a Open Society Foundations (de novo, sob inspiração do filósofo alemão Popper).
Para se ter ideia, a fortuna do investidor é avaliada em US$ 8 bilhões, porém, ele já doou 4x esse valor para a sua fundação.
Qual é a teoria de Soros?
Uma das principais ideias de Soros, também bastante complexa, é a sua teoria da reflexividade dos mercados financeiros, em que o investidor, basicamente, defende que a narrativa influência na realidade e faz com que a narrativa se torne a própria realidade por sua influência.
Por exemplo, se os investidores acreditam que os mercados são eficientes, essa crença mudará a forma como investem, o que por sua vez mudará a natureza dos mercados em que participam (embora não necessariamente os tornem mais eficientes).
A reflexividade tem íntima ligação com a falibilidade, ou seja, em situações com participantes pensantes, as visões de mundo dos participantes nunca correspondem perfeitamente ao estado real das coisas.
Esses dois princípios estão ligados como gêmeos siameses, mas a falibilidade é o primogênito: sem falibilidade não haveria reflexividade. O interessante da teoria de Soros é que ambos os princípios podem ser observados no mundo real.
A falibilidade propõe que numa única situação pode haver diversos tipos de pessoas envolvidas, com pensamentos e visões diferentes umas das outras, e que não há por que isso se tornar um problema.
A reflexividade, por sua vez, é a ideia que diversas opiniões sobre a realidade podem alterar o mundo real no qual as pessoas com diversas opiniões estão envolvidas.
É possível entender o processo de reflexão nos mercados financeiros usando um exemplo de macroeconomia. Imagine que os principais economistas de um país estão pessimistas com a situação econômica atual. Com isso, fazem previsões e produzem relatórios alertando os potenciais riscos. Com isso, as expectativas de taxas de juros sobem, a moeda desvaloriza.
Com uma moeda desvalorizada, inicia-se um processo inflacionário. Em um ambiente com inflação alta, o consumo diminui e a quantidade de emprego também cai, uma vez que fábricas e lojas vendem menos.
Note que, tudo se iniciou com uma narrativa (de que a situação econômica está adversa), e a narrativa influenciou de fato no mundo real.
O mesmo pode acontecer com bolhas no mercado de ações. Cria-se uma história de que a empresa X irá crescer de forma acelerada nos próximos anos, e vários investidores compram as ações dessa empresa.
Com isso, a empresa consegue fazer sucessivos aumentos de capital a preços mais altos para financiar suas operações, e, eventualmente, de fato consegue crescer.
É importante que os investidores entendam esses fenômenos, para que consigam se defender desses movimentos, onde as ideias sobre o mundo real podem acabar os influenciando.
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