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O que Pat Dorsey e a Supreme podem ensinar sobre moats

Investidor também deve atentar-se aos possíveis primeiros sinais de que os moats estão erodindo.

Tiago Reis

De acordo com a tradução livre do dicionário, “moat” significa um profundo fosso aos arredores de um castelo ou cidade, que tipicamente providencia uma linha preliminar de defesa.

Graças a Warren Buffett e uma legião de outros value investors, a palavra moat se tornou uma metáfora excelente para identificar companhias com vantagens competitivas duradouras.

Ainda assim, pouquíssimas pessoas conseguiram desenvolver e sintetizar uma estrutura que, sistematicamente, ajude a identificar vantagens competitivas duráveis pela perspectiva de investimentos.

Pat Dorsey, ex-diretor de análise de ações da Morningstar e fundador Dorsey Asset Management, contribuiu de maneira significativa tentando solucionar exatamente isso. No livro de sua autoria intitulado “The Little Book That Builds Wealth”, ele compartilhou valiosas lições acerca do tema.

Segundo Dorsey, para o real entendimento sobre moats, primeiramente é necessária a consciência sobre a base fundamental na qual o capitalismo funciona: o capital empregado pelos investidores procura os maiores retornos possíveis. Ou seja, altos lucros atraem competição.

Intuitivamente isso faz bastante sentido: se lhe encaminharmos uma transferência em dinheiro sob a condição de que inicie um negócio, provavelmente você irá procurar alguma atividade reconhecidamente lucrativa para alocar o capital.

Assim, subentende-se que os negócios com maiores retornos tendem a observar a atratividade de suas atividades decrescendo ao longo do tempo. Isso ocorre, pois, um bolo aparentemente grande atrai outras empresas famintas por aproveitar suas fatias.

Porém, existe uma minoria de negócios que desafiam essa estatística, aproveitando altos retornos sobre capital investido durante muitos anos. A resposta para isso, conforme relata Dorsey, são as vantagens estruturais que conseguem criar, de forma que ficam praticamente imunes à competição.

Dessa forma, podemos observar moats se manifestando por força de marca: os clientes da Supreme, marca americana de skate e streetwear, enxergam tanto valor em seu icônico logo retangular que chegam a recorrer ao mercado secundário e pagar preços que superam em cinco vezes os valores de lançamento dos produtos esgotados.

Um dos casos mais emblemáticos para demonstrar esse fato é o do tijolo (isso mesmo!) lançado a US$ 30 em 2016 como um item colecionável da marca, que teve sua última venda por US$ 210 na StockX (um marketplace de produtos do nicho):

Uma imagem contendo Interface gráfica do usuário

Descrição gerada automaticamente
Fonte: StockX

Para além da força de marca, outras formas nas quais os moats podem se revelar são por meio de:

  • Custos de troca: quando a troca de um produto ou serviço não compensa, mesmo quando a empresa não cobra o preço mais atrativo de todos;
  • Efeitos de rede: quando o valor percebido por usuários aumenta conforme cresce o número de participantes da rede;
  • Vantagens de custo: quando é possível oferecer produtos e serviços mais baratos através de cortes de custos sustentáveis ou de escala.

O que vale destacar é que moats não podem ser traduzidos, simplesmente, por um produto que está na moda, a maior participação de mercado por parte de uma empresa, ou uma nova peça interessante de tecnologia que está sendo vendida.

Afinal, qualquer produto tecnológico pode ser replicado por outro grupo de engenheiros inteligentes, a não ser que exista algum custo de troca ou outro efeito que prenda os usuários.

De acordo com Dorsey, os reais fossos que protegem os castelos das companhias têm sua essência em pricing power (poder de precificação). De forma geral, uma companhia que não consegue aumentar seus preços, muito provavelmente não possui vantagens competitivas fortes o suficiente no longo prazo.

Deixando de lado o quanto o caso da Supreme e seu tijolo é incomum e até engraçado, é inegável constatar que a empresa possui um largo poder de precificação – que é demonstrado na prática pelos hábitos de seus consumidores durante muitos anos.

Entendendo o quanto o poder de precificação é importante para a indicação de vantagens competitivas duradouras, o investidor também deve atentar-se aos possíveis primeiros sinais de que os moats estão erodindo.

Se uma companhia que tipicamente aumenta seus preços anualmente, subitamente deixar de tomar a mesma atitude de um ano para o outro, um sinal de alerta deve ser ligado pelo investidor.

Na visão de Pat Dorsey, isso é um dos sinais mais claros de que, provavelmente, algo mudou na indústria em questão. Mesmo que não se saiba exatamente o que ocorreu, é razoável assumir que o cenário competitivo está ficando mais acirrado e que o retorno no longo prazo pode ser comprometido.

Orientando de que forma os moats se manifestam e sobre qual o principal sinal que é emitido quando eles podem estar deixando de existir, Dorsey mune todos os entusiastas do value investing de ensinamentos que os guiam para alocar capital em empresas que têm potencial de propiciar altas taxas de retorno em jornadas de tempo relevantes.

Adicionalmente, também demonstra que o dever de casa deve ser feito constantemente, visto que a avaliação constante protege o investidor de casos em que até as vantagens competitivas significativas podem ser postas em xeque, comprometendo a performance desejada.

*A Suno é uma casa de análise especializada em conteúdo sobre investimentos e educação financeira para o pequeno investidor pessoa física.

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