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Dinheiro todo mês: estratégia de dividendos pode ir muito além de ações
Mercado de renda variável apresenta outras opções com dinâmica semelhante e que ajudam a fortalecer e diversificar investimentos.
Imagine a cena: você sai para trabalhar pela manhã e, no caminho, percebe que chegou uma notificação no celular. É uma mensagem da corretora: “Parabéns! Você recebeu dividendos. O
dinheiro já está disponível na sua conta”.
No dia seguinte, a história se repete. Outra empresa distribuiu lucros aos seus acionistas – inclusive você. E não para por aí. Na verdade, é uma rotina: todo os meses, as notificações se acumulam no smartphone e os proventos caem um atrás do outro na sua conta corrente.
Parece atrativo, não é? Para milhares de investidores, esta dinâmica é uma realidade proporcionada pela estratégia de investimento baseada em dividendos (como chamamos a parcela do lucro líquido que as empresas listadas em bolsa destinam aos seus sócios) e outras formas de pagamentos fixos.
Entre os principais chamarizes desta estratégia, apropriada para investidores com objetivos de longo prazo, estão as possibilidades de formar uma renda passiva para quem quer fortalecer as finanças do dia a dia; e de construir um patrimônio robusto para quem topa reinvestir os ganhos.
Os benefícios de alocar capital com foco em dividendos já são bem conhecidos e buscados no mercado. Ainda assim, há uma informação importante que muitas vezes escapa do investidor: o fato de que existem cada vez mais ativos de renda variável que funcionam de forma semelhante às ações e que permitem ampliar e diversificar a estratégia de receber pagamentos fixos em conta.
- Descubra a história de Luiz Barsi, o “Rei dos Dividendos”
Hora de diversificar
Um dos produtos que pagam dividendos (ou, no caso, “rendimentos”) de forma regular são os Fundos de Investimentos Imobiliários (FIIs). Ao comprar cotas de um FII, você se torna sócio de um empreendimento imobiliário – como um prédio comercial, shopping ou galpão de logística – e recebe a parte que lhe cabe no rendimento do imóvel, que geralmente vem de aluguel.
Os Fundos Imobiliários se destacam em três aspectos:
- a obrigatoriedade dos administradores de distribuir pelo menos 95% dos lucros para os cotistas;
- a prática adotada majoritariamente pelo mercado de fazer pagamentos mensais, em vez de seguir o mínimo previsto pela legislação, que fala em distribuição semestral;
- e a isenção de imposto de renda (IR) sobre dividendos.
Outro produto que segue a mesma lógica são os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais. Os Fiagros, como são mais conhecidos, foram inspirados nos Fundos Imobiliários, mas investem em imóveis rurais, em sociedades que explorem atividades relacionadas à cadeia produtiva agroindustrial e em instrumentos financeiros de direitos creditórios do agro, como os CRAs. E também não tem desconto de IR!
Por fim, há ainda os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) – recibos que representam ações de uma empresa estrangeira e são negociados em bolsa no Brasil. É por meio desta classe de ativos que se pode investir localmente, por exemplo, em empresas como Apple e Google, que não têm ações emitidas no país, mas contam com BDRs em circulação na B3.
Embora nem todas as empresas estrangeiras distribuam dividendos, é possível encontrar boas oportunidades nos dois principais tipos de BDRs: os patrocinados, aqueles em que os recibos são emitidos pela própria empresa representada pelos papéis; e não patrocinados, quando um custodiante compra as ações internacionais e emite os recibos no Brasil de forma independente. Somando as duas classes, são mais de mil ativos disponíveis na B3.
É preciso estar atento, no entanto, ao aspecto tributário. Diferentemente dos FIIs e Fiagros, os dividendos originados por BDRs são sujeitos a cobrança de IR no Brasil e no país de origem. No caso de empresas americanas, a alíquota que incide nos EUA é de 30%, o que faz com que o valor que chega ao acionista brasileiro seja menor.
Como montar sua carteira
O caminho mais curto para montar uma posição focada em dividendos é recorrer à palavra dos especialistas. Geralmente, as corretoras fornecem recomendações de estratégia, que incluem uma carteira de ações formada só por empresas que são boas pagadoras de proventos, dicas sobre os Fundos Imobiliários de maior destaque e outras análises.
No entanto, caso você queira fazer sua própria seleção, o primeiro passo é identificar quais ações, fundos e BDRs realizam pagamentos fixos aos investidores e com qual periodicidade. Esta informação pode ser encontrada na página de Relações com Investidores das empresas listadas em Bolsa e na lâmina dos fundos (um resumo que mostra as principais informações sobre o funcionamento e características de um fundo de investimentos), disponibilizada pelas corretoras.
De olho nas novidades
No final de setembro, a B3 anunciou a criação do Ibovespa Smart Dividendos B3, o primeiro índice derivado do Ibovespa para acompanhar empresas que mais pagam dividendos. O IBSD B3, como também é chamado, reúne empresas que pagam os maiores valores proporcionais em relação ao preço da ação, com frequência e valor constantes ao longo dos anos.
Para o investidor, a grande notícia é que o mercado já conta com dois ETFs (Exchange Traded Funds ou fundos passivos) que seguirão o índice: o Nu Renda Ibov Smart Dividendos (NDIV11), que replica o índice e paga os dividendos para o cotista, e o Nu Ibov Smart Dividendos (NSDV11), que traz como adicional o fato de reinvestir os dividendos no próprio ETF. Ou seja: dá para comprar uma carteira diversificada com os melhores pagadores de
dividendos investindo em um único produto, de forma simples.
Para melhorar, o IBSD B3 já chega ao mercado com um “retrospecto” positivo. Um estudo elaborado pela B3 mostrou que, caso existisse desde 2013, o índice teria acumulado uma variação positiva de 142% até o final de agosto desse ano. O desempenho supera o Ibovespa B3 no mesmo período, que obteve variação positiva de 87%.
O IBSD B3, agora, passa a fazer companhia a outro índice de proposta similar: o Índice Dividendos, ou IDIV B3, que também reúne empresas que são boas pagadoras de dividendos, mas com critérios diferentes – inclusive o universo de análise.
Em vez de olhar para as empresas do Ibovespa, que reúne os papéis mais líquidos do mercado, o IDIV faz sua seleção dentro do Índice Brasil Amplo (IBRA B3), voltado a todas as empresas com níveis mínimos de liquidez e presença em pregão. E o IDIV também tem um
ETF que replica sua carteira, o DIVO11, do Itaú.
Da teoria à prática!
Como é possível notar, a estratégia de investimento baseada em dividendos e outras formas de pagamentos fixos está cada vez mais acessível para o investidor, com a liberação de BDRs para o varejo em 2020, o lançamento dos Fiagros em 2021 e a chegada do ISBD B3 no
mercado de ações neste ano.
Avalie se este caminho atende suas necessidades, objetivos e apetite de risco. Caso a resposta seja sim, não deixe de se informar mais sobre o assunto. A sua corretora de confiança e os cursos gratuitos do Hub de Educação da B3 são ótimos começos. Quem sabe em breve a notificação sobre o depósito de dividendos não chega também ao seu celular!
* Thalita Forne é gerente de Produtos Listados da B3
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