Em 2022, os bancos centrais das economias desenvolvidas começaram a aumentar as taxas pela primeira vez desde o início da pandemia. Mesmo com essa decolagem, esperamos uma resposta moderada à inflação em comparação aos ciclos anteriores. Isto é, devemos ficar atentos aos sinais que possam confundir os mercados.
Depois de um 2021 em que as ações registraram lucros sólidos e os bônus caíram – um padrão visto apenas em alguns poucos anos desde 1977 — vemos uma repetição em 2022, ainda que com rendimentos de ações mais moderados (e a continuação de um ano difícil para boa parte da renda fixa).
O reinício potente da atividade econômica em 2021 trouxe pressões graves de preços não observadas há décadas. Em um desvio claro da prática anterior de ações preventivas frente a essas pressões, a maioria dos bancos centrais de economias desenvolvidas não responderam quando a inflação e o crescimento dispararam.
Esta tolerância maior às pressões dos preços, que trouxe um forte reinício econômico, manteve os ativos de risco prósperos. A exceção a isto foi em algumas economias emergentes – especialmente na América Latina – onde os bancos centrais atuaram perante a inflação e, consequentemente, o desempenho desse tipo de ativos foi, em muitos casos, negativo.
A fase seguinte dessa história, que é a decolagem nas taxas, acontecerá este ano. A maioria dos bancos centrais estão preparados para isso, mas será mais uma questão de tirar o pé do acelerador monetário do que de pisar no freio.
Acreditamos que a forma como os bancos centrais, em particular o Fed, dos EUA, e o Banco Central Europeu, respondam à inflação será a história chave para 2022. Ainda que esperemos que a Fed aumente a taxa de política monetária, sua resposta diante da inflação acumulada desde o ano passado será muito mais restrita do que o que se observou no passado.
No entanto, é importante advertir sobre o risco de que tanto os responsáveis pela formulação de políticas econômicas quanto os mercados financeiros interpretem mal a situação, motivo pelo qual entramos, em 2022, reduzindo nossa exposição a ativos de risco em comparação a nossa posição em 2021.
Uma convergência única de eventos (o reinício, novas cepas de vírus, inflação) traz o risco de gerar confusão, já que não há paralelos históricos. É fundamental navegar essa confusão, o que nos leva a considerar cenários alternativos ao indicado e, com isso, ser mais prudentes na gestão dos riscos.
Entre os mais importantes que devemos acompanhar de perto está o perigo de que alguns bancos centrais possam retornar às respostas políticas anteriores diante das pressões inflacionárias mais persistentes e arrastar a economia global para uma situação de “estagflação” (uma inflação que não cede, mas com uma atividade econômica estagnada).
Compreender esses resultados em potencial acerca da inflação e as implicações do mercado é crucial para discutir o tema da perspectiva da confusão.
Ainda assim, esse cenário de decolagem moderada das taxas de juros durante 2022, em um regime de inflação maior e crescimento sólido, será positivo para os ativos de risco como as ações ou bônus de países emergentes, porém negativo para os bônus de países desenvolvidos.
*Axel Christensen é diretor de estratégia de investimentos para a América Latina da BlackRock. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
Veja também
- 3 lições sobre investimentos que aprendemos em 2021