Colunistas
Igualdade de gênero também é uma questão econômica
Mais que uma questão social, a diferença entre homens e mulheres tem impacto nas empresas e no mercado.
A pandemia e o ano de 2020 trouxeram muitas coisas à tona e, sinceramente, a maioria delas não foi muito boa. Ficou muito claro que essa crise impactou as pessoas de forma diferente dependendo do gênero, classe social e idade. Não restam dúvidas que a desigualdade muda o nosso jeito de viver.
Essa semana eu ouvi o termo “she-cession” para descrever como a recessão causada pelo coronavírus afetou de forma drástica o desemprego feminino globalmente. O estudo recente “Women are maxing out and burning out during COVID-19” da LeanIn.Org relatou que mulheres que trabalham em tempo integral e têm um parceiro e filhos estão gastando pelo menos 71 horas por semana com trabalho não remunerado em decorrência do covid-19.
2020 ensinou mais: a importância e o poder de falarmos sobre justiça e diversidade racial, a potência e capacidade das mulheres de se reinventarem e se adaptarem. Eu mesma tive a oportunidade de conhecer e me conectar com várias dessas mulheres que estão empreendendo, empregando, criando e lutando para promover mudanças ou simplesmente continuar.
As questões de gênero são discutidas por toda parte e se tornou um tema “trend”. Isso todos nós já sabemos. Mas qual a sua relação com economia? Eu costumo dizer que não é uma questão de causa, mas sim vantagem competitiva. Mais do que uma questão social, a falta de igualdade de gênero pode impactar a economia e as empresas.
Segundo a ONU, igualdade de gênero “não significa que mulheres e homens se tornarão iguais, mas que os direitos, responsabilidades e oportunidades de mulheres e homens não dependerão de eles nascerem homens ou mulheres”. Eu acredito muito na importância de sermos diferentes e de que é exatamente essa diferença que é a chave para o sucesso.
Por que essa diferença é importante para economia e para as empresas?
- 93% é a probabilidade de empresas com diversidade de gênero superarem a performance financeira de seus concorrentes (Fonte: Mckinsey, 2020)
- 83% dos millennials são mais engajados quando acreditam que a empresa em que trabalham têm cultura inclusiva (Fonte: Delloite, 2015)
- 19% a mais de receita é gerada por equipes de gestão diversificadas devido à capacidade de inovação (Fonte: BCG, 2018)
- 24 meses após contratação, mulheres CFO geram aumento de 6% no lucro e 8% no preço das ações (Fonte: S&P Global Market Intelligence, 2019)
Por que o tema ganhou força somente agora?
Sim, estamos todos falando sobre diversidade, promovendo ações, eventos e isso é ótimo. Há uma necessidade clara das organizações abordarem essas questões socialmente.
Porém, o mercado tem mostrado fortes sinalizações para o tema. No último mês de dezembro, a Nasdaq apresentou à SEC uma autorização para instaurar uma regra de diversidade. O que se propõe é que as mais de 3,2 mil empresas listadas tenham pelo menos uma mulher e um representante de grupo sub-representado no conselho.
Aqui no Brasil, o tema “ESG” e as respectivas melhores práticas ambientais, sociais e de governança ainda estão em evolução, mas já viraram pauta fundamental no ambiente corporativo e de investimentos. Porém, a diversidade ainda não ganhou relevância, ou melhor, segue quase invisível, principalmente na questão de equidade racial.
Eu não me lembro de perceber esse movimento em nenhum começo de ano. 2021 é praticamente uma estrada escura onde todos nós buscamos uma luz. É tempo de coragem, de ousar sonhar e transformar.
A diversidade é uma pauta urgente, com potencial para um impacto econômico e social muito poderoso. Um tema sem volta.
E a equidade de gênero não é somente a coisa certa a se fazer. É, principalmente, a mais inteligente.
*Co-fundadora do Fin4she, atualmente é responsável por liderar e implementar os projetos para promover o protagonismo das mulheres no mercado e a independência financeira feminina. É a idealizadora do Women in Finance Summit Brazil, com mais de 800 mulheres do mercado inscritas. Foi executiva da Franklin Templeton por 10 anos e trabalha no mercado financeiro desde 2006. É mãe do Tom e do Martin e através do Fin4she tem a missão de promover uma transformação na carreira e vida das mulheres, para que iniciativas como essa não precisem existir mais no futuro. |