A falta de equidade no mercado corporativo é amplamente conhecida e começa a ser documentada de forma sistemática, revelando abismos de presença em cargos de liderança, na cadeia produtiva e de oportunidades de investimento. Ao considerar dados que demonstram o quanto há para se avançar, vem a oportunidade de implementar mudanças. Nesse sentido, a sociedade civil, governos e formadores de opinião, contribuem para potencializar a agenda ESG, em especial no Brasil, onde temos um passivo de colonização, discriminação e massiva desigualdade de raça.
Os avanços da legislação antirracista no Brasil, conquista indiscutível da luta centenária da população negra e movimentos negros por igualdade e justiça, são concretas e impactam na sociedade, ainda que lentamente. Para além de novembro, o trabalho de formiguinha para reduzir desigualdades e construir coletivamente uma democracia real é um imperativo social, moral e jurídico.
Essas premissas impulsionam ações que buscam empoderar a população negra, tanto como parte integrante do ESG quanto como resposta às demandas sociopolíticas dessa parcela da população. Não estamos mais num momento histórico em que se pode levar a sério questionamentos de que o racismo não existe, ou se incide ou não sobre todos os espaços, esse já é um fato reconhecido e demonstrado, agora o momento é de ação para mudar essa realidade.
![mãos negras sobre teclado de notebook com gráficos financiros na tela do computador.](https://investnews.com.br/wp-content/uploads/2023/11/close-up-of-business-trader-man-working-on-crypto-2022-01-19-00-15-09-utc-1024x640.jpg)
Nos últimos anos, iniciativas em prol do empoderamento negro já foram criadas levando em conta essa realidade, se distanciando do mito da democracia racial, que impedia encarar o racismo de frente e sanar suas consequências. Aqui, temos orgulho sem disfarces de fazer parte dessa vanguarda no mercado corporativo, e aproveitamos o Novembro Negro para sermos negros e orgulhosos, sim, por que não? O tempo de humildade e humilhação forçada precisa – definitivamente – ficar para trás.
É para frente que andamos, por exemplo, ao convocar para a participação no “MBM Inovahack: Inovação, ESG e Impacto!”. E andamos para o futuro, sem esquecer as lições do passado recente, mas atuando sobre esse passivo ativamente, jogando a pá de cal na negação do racismo, lidando diretamente para reverter seu legado nefasto de escassez seletiva.
Iniciativas
Grandes organizações não-negras, a exemplo do Google for Startups, por meio de iniciativas como Black Founders Fund Brasil, também reconhecem essa potencialidade – e a necessidade de mudança social – e investe recursos financeiros, sem qualquer contrapartida ou participação societária, resultando em apoio prático para ajudar empreendedores negros e negras a construírem e expandir negócios.
A Potencia Ventures é outra organização global atuando no país, com a expertise de pioneira de venture capital focada em investimentos de impacto. Fundada há vinte anos, quando impacto social e ESG não eram prioridades nas agendas globais, abriu caminhos para essa visão. Em 2022, a empresa lançou um programa no Brasil em que selecionou 20 startups e, durante este ano, essas empresas acessam mentorias e trocas de experiências com empreendedores, investidores e executivos.
Segundo a Potencia Ventures, 100% dessas startups tem cofundadora mulher, 75% têm um cofundador preto ou pardo. Ao final do programa, 5 destas empresas receberão investimentos a partir de 100 mil dólares, a depender da necessidade da startup.
Outra iniciativa que destacamos é o MOVER – Movimento pela Equidade Racial, que reúne 49 empresas atuantes no Brasil, que empregam juntas 1,3 milhão de colaboradores e que realizam um trabalho impactante. As ações incluem distribuição de bolsas, atividades de formação, capacitação, divulgação de artigos, mobilização interna nas organizações em prol do empoderamento negro e de construção da equidade. O MOVER descreve: “Nosso trabalho inclui o compartilhamento de boas práticas e aceleração dos processos já em curso nas empresas, além do investimento social coletivo voltado a criação de impacto positivo na educação, geração de emprego e na conscientização da sociedade quanto ao racismo”.
Ao dar prioridade a grupos raciais minorizados em grandes empreendimentos, movimentos de pessoas negras e não-negras contribuem para a promoção da igualdade racial num nicho em que predomina o estereótipo branco, nascido rico, com lastro social e financeiro, como dizem nas redes: a cara do privilégio.
Mudar a cara do mercado de investimentos e das grandes organizações, mudar o lugar onde a pessoa negra atua nesses espaços, também contribui para transformar e democratizar a sociedade. Assim como nós, coletivamente, por meio de legislação e pressão social, mudamos a cara das universidades brasileiras, após décadas da lei de Cotas. O país viu essa mudança acontecer e trazer para o mercado de trabalho, aeroportos, veículos de jornalismo, governos, parlamento, uma leva de gente com a cara do Brasil que os dados estatísticos indicam como maioria da população. Esse é o futuro pelo qual trabalhamos e queremos ver o mais breve possível.
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