Uma amiga me mandou recentemente o curta da Pixar “Purl”, que retrata de uma forma inteligente a masculinidade tóxica no ambiente de trabalho em que muitas de nós estamos inseridas.
A Pixar é conhecida por produções que conseguem contar em metáforas inteligentes o que é o ser humano. “Purl” conta a história do primeiro dia de trabalho de uma personagem representada por um novelo de lã cor de rosa, que poderia ser qualquer uma de nós, mulheres, em nosso primeiro dia de trabalho.
A personagem de Purl é a mais nova funcionária contratada em um escritório majoritariamente masculino. Fica claro no filme o quanto ela se sente deslocada e a falta de representatividade. Ela não é vista, ouvida, muito menos percebida. A forma que Purl encontra para pertencer ao grupo é se adaptando aquele padrão único de pessoas, ou seja, se masculinizando.
O filme é cheio de significados e nos provoca a refletir sobre uma série de padrões de comportamento. Inclusive sobre o estereótipo da mulher, no caso um novelo de lã cor de rosa. Quantas vezes nós mulheres não deixamos nossa essência para trás para nos adaptar e pertencer a um padrão?
Em um momento do filme, quando a personagem já está totalmente adaptada aquele cenário e padrão de comportamento, chega uma nova colega.
Esse foi o momento do filme que eu me identifiquei. Pensei em muitas das histórias e mulheres que me conectei nos últimos tempos. Nós mulheres fizemos avanços incríveis nas últimas décadas. Sim, nós vencemos muitas barreiras e conquistamos o nosso espaço. Mas e o legado? O que nós fizemos para quem vem depois da gente?
Não gosto de me colocar na posição de julgar, pois o que eu acredito é que todas nós estamos de certa forma tentando ganhar o nosso espaço e sobreviver. Porém é inevitável questionar: quais os caminhos abrimos para as futuras gerações? Ou será que só abrimos os nossos próprios caminhos?
Esse filme me despertou o senso de urgência de que diversidade requer ampliar o olhar sobre o outro. Não basta sermos simpáticos, precisamos desenvolver a nossa empatia.
Empatia
Purl olhou com empatia para sua colega, diferentemente do que os seus colegas fizeram com ela. Esse olhar permitiu com que sua colega não precisasse mudar para se enquadrar. Ou seja, esse olhar transformou a ela, a eles e todo aquele lugar.
Brené Brown, que se tornou famosa por falar e escrever sobre vulnerabilidade, coragem, vergonha e a empatia, afirma que empatia é uma habilidade que pode unir as pessoas e fazer com que se sintam incluídas, enquanto a simpatia cria uma dinâmica de poder desigual e pode levar a mais isolamento e desconexão.
Ela diz também que a simpatia traduz um sentimento de pena por alguém, enquanto a empatia envolve se colocar no lugar do outro e compreender essa dor através de uma conexão emocional.
Segundo Brené Brown, a empatia consiste em quatro qualidades: a capacidade de assumir a perspectiva de outra pessoa; de afastar-se do julgamento; de reconhecer a emoção nos outros e de comunicá-la.
Nós não precisamos sentir pena, mas sim nos colocar mais no lugar do outro. O que nós como sociedade precisamos compreender é que o responsável por essa mudança somos todos nós. Precisamos ter mais consciência sobre nossa responsabilidade.
Em seu livro “Own it”, Sallie Krawcheck diz: “Nós precisamos de mais mulheres agindo mais como mulheres. E isso não se aplica apenas para CEOs ou mulheres em cargos de liderança sênior, mas para todas as mulheres”
O poder da diversidade não está em contratar mulheres para treiná-las a serem como homens. Nós mulheres temos que criar o nosso próprio espaço seguro no mercado de trabalho. Você não consegue pertencer se estiver traindo a si mesmo, fugindo a sua essência e verdade.
Acredite, essa é uma jornada que começa em você.
Como mais uma meta para 2021, eu quero ser menos simpática e mais empática.
Você me acompanha nessa jornada?
*Co-fundadora do Fin4she, atualmente é responsável por liderar e implementar os projetos para promover o protagonismo das mulheres no mercado e a independência financeira feminina. É a idealizadora do Women in Finance Summit Brazil, com mais de 800 mulheres do mercado inscritas. Foi executiva da Franklin Templeton por 10 anos e trabalha no mercado financeiro desde 2006. É mãe do Tom e do Martin e através do Fin4she tem a missão de promover uma transformação na carreira e vida das mulheres, para que iniciativas como essa não precisem existir mais no futuro. |
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