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Os exemplos da vida real que venceram o Nobel de Economia 2021

Trabalhos demonstram que a vida é uma grande fonte de conhecimento econômico.

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Como economista, uma preocupação é mostrar que economia não é apenas o estudo dos números do Produto Interno Bruto (PIB), do desemprego ou da inflação. Não que não importem – importam muito –, mas não resumem a economia. Como gosto de dizer, economia é vida. Fenômenos econômicos se manifestam no dia a dia das pessoas. E, muitas vezes, são condicionantes dele.

Essa preocupação é compartilhada pelo trabalho dos três ganhadores do Nobel de Economia de 2021, anunciados na última segunda-feira (11). David Card, Joshua Angrist e Guido Imbens dividiram o prêmio pelo uso do que o comitê do Nobel, ao anunciar os ganhadores, chamou de experimentos naturais. Isto é, exemplos da vida real, usados para calcular relações de causa e efeito no mercado de trabalho e na educação.

Até a pesquisa de Card, nos anos 80, trabalhos que usam exemplos particulares para sugerir efeitos maiores não eram bem vistos no estudo de economia. Considerava-se que não eram capazes de chegar a conclusões precisas. Mas ele e Alan Krueger, que viria a ser secretário assistente do Tesouro americano no governo de Barack Obama, demonstraram que essa era uma premissa errada.

Em vez de recorrer a números amplos, Card, professor da Universidade da Califórnia de Berkeley, nos Estados Unidos, analisou se os aumentos do salário mínimo reduzem o emprego estudando restaurantes no estado americano de Nova Jersey. Concluiu que não há impacto. Uma conclusão que ainda hoje muitas vezes é ignorada no debate sobre salário/benefícios x emprego, mas é considerada uma revolução na economia do trabalho.

Seus trabalhos posteriores mostraram que a chegada de imigrantes nos Estados Unidos também não piorou a taxa de desemprego e apontou como as políticas das empresas criam gaps de gênero e de raça. É um trabalho pouco ortodoxo, mas que mudou dramaticamente o entendimento da desigualdade e das forças econômicas e sociais que afetam a renda dos trabalhadores.

Já Imbens, de Stanford, dedicou a carreira a explorar como os dados do mundo real podem ajudar a entender problemas da economia – ele inclusive dá aula na faculdade de ciências sociais da universidade, além de em seu próprio departamento. Neste campo, teve a parceria de Angrist, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), co-autor de um estudo de 1984 citado pelo comitê do Nobel por ter estabelecido novos métodos para conduzir experimentos naturais.

Com a premiação de 2021, o Nobel confirma uma guinada nos últimos anos para o reconhecimento de estudos e autores que trouxeram novos olhares sobre a economia. Em 2017, o premiado foi Richard Thaler, um dos principais nomes da economia comportamental. No ano passado, Paul Milgrom e Robert Wilson, criadores de formatos de leilão para bens difíceis de vender, como ondas de rádio.

Em todos os casos, os trabalhos demonstram que a vida é uma grande fonte de conhecimento econômico. E que tem ajudado a ampliar o entendimento sobre os problemas e fenômenos de hoje não só na economia como em muitos outros campos.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

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