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O que fez o desempenho dos papéis da Magalu cair tanto no último ano?

Inflação e a concorrência prejudicaram fortemente a varejista.

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Na primeira sexta-feira (3) do mês, as ações do Magazine Luiza (MGLU3) caíram 74,73% no ano. Um senhor tombo comparado com a alta de 104% em 2020, quando a empresa viveu um ano excepcional, beneficiada pela explosão de vendas pela internet durante o isolamento, que fechou as lojas físicas levando os consumidores para o varejo digital.

Foi uma queda que pegou o mercado no contrapé. Apenas alguns meses atrás, as recomendações eram positivas em relação ao papel. Havia ressalvas de que a concorrência havia aumentado, mas nada que antecipasse o terremoto deste segundo semestre. O que mudou? Um dos fatores foi a inflação, obviamente.

Desde o fim de 2020 o Banco Central e o Ministério da Economia declararam seguidas vezes que os preços iriam se acalmar logo adiante. Não aconteceu. O mercado, que apoiava a expectativa do BC, passou por um ajuste, acompanhando a alta dos juros, que mais do que quadruplicaram desde fevereiro, de 2% para 9,25% ao ano. As ações das empresas varejistas, como Magalu, estão entre as mais penalizadas.

Trata-se de um movimento normal de mercado ajustando expectativas – de juros, de inflação e de incerteza – a novos cenários. Mas também é um bom caso para voltar à mais tradicional teoria sobre finanças – a dos mercados eficientes. Toda informação do que iria acontecer com a ação estava nos preços? Obviamente que não. A intensidade do aumento da concorrência, por exemplo, foi inesperada.

Foi o ano em que Magalu perdeu a primazia de ser a empresa que melhor entende o digital, com os concorrentes evoluindo. Houve ainda duas novidades importantes: o crescimento do Ali Express no Brasil e a entrada da Shopee, concorrente de Singapura que vem ganhando musculatura global. Chegou no fim de outubro a 1 milhão de vendedores no país.

Em resumo, a concorrência ficou mais dura e exige mais gastos em marketing para atrair consumidores, apertando as margens de lucro. Em meio a um cenário de subida de preços, com o desemprego ainda em alta e a economia parada, os juros subindo forte, encarecendo o crédito aos consumidores, ajudaram a criar uma tempestade perfeita para o varejo. Até as ações do Mercado Livre (MELI34), maior varejista da América Latina, caíram 25% no ano.

Mas em 15 de julho, com a ação do Magazine Luiza em queda de 5,2% até então – e em plena recuperação depois de chegar a recuar 25% –, nada disso estava nos preços. E as decisões de investimento envolviam perspectivas positivas para o papel. As informações disponíveis indicavam a compra, mas não eram as informações que importavam.

O que aponta para uma grande desvantagem que os investidores médios enfrentam. Muitos estudos demonstram que eles exageram na confiança sobre os próprios conhecimentos do mercado. Seja por uma falsa memória, porque não dispõem dos recursos de grandes casas gestoras ou por outra razão, o fato é que muitas vezes sabem menos do que acham que sabem. E descobrir que estava errado geralmente custa caro.

As lacunas normalmente são um fenômeno temporário, que será corrigido mais adiante, quando as informações estiverem disponíveis. Porém, a trajetória do papel, como de qualquer outra ação, demonstra uma falha na eficiência do mercado em alguns momentos, quando todas as informações determinantes para o futuro da ação não estavam expressas nos preços.

Além de que reafirma a importância de estratégias que não são propriamente novas, mas, sim, eficientes, como comprar aos poucos e buscar as fontes mais variadas de informação. Até mesmo um pouco de cautela natural, que sempre é bom.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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