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Por que a China está atacando seu ‘Vale do Silício’?

Dificilmente, o regime poderia abrir mão da vantagem que as big techs chinesas possuem sobre os concorrentes americanos, vide o TikTok.

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Durante as duas últimas décadas, analistas se acostumaram a ver as empresas de tecnologia chinesas como uma versão asiática do Vale Do Silício, berço do Google, da Apple, do Facebook e muitas outras entre as companhias mais inovadoras do mundo.
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O ‘Vale do Silício’ chinês curiosamente não fica na China, mas no Caribe. Na Grande Cayman, a maior das ilhas Cayman, a sede da Didi, dona do aplicativo 99, fica quase ao lado da sede da Baidu e da Alibaba, entre várias outras. É lógico que o comando destas empresas não está no Caribe. As sedes são quase só uma caixa postal, mas servem de uma ponte entre investidores ocidentais e o capitalismo chinês.

Ou melhor, uma ponte entre o Ocidente e um setor de tecnologia vibrante, tolerado pelo Partido Comunista chinês. Uma ponte que, como aponta a agência “Bloomberg” esta semana, começa a ruir. As intervenções do governo no setor de tecnologia não poupam nenhuma grande empresa, derrubaram o valor delas nas bolsas e começam a construir, segundo notam analistas, um novo mercado de tecnologia.

Por duas décadas, até o final do ano passado, as empresas chinesas gozavam de uma liberdade surpreendente. Muitas delas, como nos Estados Unidos, são comandadas por bilionários que também são celebridades. Jack Ma, do Alibaba, por exemplo, criou um gigante do varejo online imitando a Amazon e é tão popular no país quanto Jeff Bezos, criador da empresa americana.

Podiam comprar concorrentes e criar monopólios. Ou adquirir empresas inovadoras, mantendo os próprios negócios longe da competição. A desculpa sempre era a necessidade de competir com as empresas americanas. Com o tempo, foram criando as mesmas distorções no mercado conhecidas que hoje geram debate na Europa e nos Estados Unidos. A intervenção da ditadura chinesa muda tudo.

Cerco regulatório

A Alibaba terá de colaborar com o governo na criação do yuan digital, concorrente de seu lucrativo sistema de pagamentos Alipay. E também terá de contratar os entregadores do seu aplicativo de entregas, que funciona no modelo do iFood, Uber Eats e outros aqui no Brasil, pagando por serviço. Já a Tencent, gigante dos videogames, pode perder direitos sobre conteúdo. Isso para ficar em duas das maiores empresas.

Na visão de especialistas, essas empresas vão continuar gigantes. Dificilmente, o regime poderia abrir mão do papel delas em impulsionar a inovação e na vantagem que hoje possuem sobre os concorrentes americanos, vide o TikTok. Há, no entanto, uma ruptura clara no modelo de desenvolvimento de tecnologia.

Por duas décadas, o foco esteve nos criadores e na eficiência em atender aos consumidores. Estratégia com relativa liberdade de mercado que faz com que hoje as empresas americanas corram atrás das inovações chinesas. Agora, passa a ser balizado pelo que as empresas podem e não podem fazer. E quem decide os limites é o Partido Comunista.

O resultado pode ser um mercado menos monopolista, como quer o governo. Mas, com um modelo intervencionista, também será menos inovador. E a vantagem tecnológica recente impulsionada por Alibaba, TikTok e outros serviços certamente vai pagar o preço.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

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