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Saber mais sobre o risco altera decisões? Um estudo sobre calorias e mercado
Entenda as semelhanças de comportamento entre alimentação e escolhas financeiras.
Junto com a observação de como gastamos ou guardamos dinheiro, nossa relação com a comida é um dos temas favoritos dos estudiosos que juntam economia e comportamento. Nenhuma surpresa. Há mesmo muitas semelhanças entre as duas atitudes. Todo mundo quer economizar o máximo que puder dentro de certos padrões de consumo. Mais ou menos a mesma regra que a maioria segue para emagrecer.
Seja por razões estéticas ou de saúde, boa parte da humanidade se esforça o tempo todo para perder peso, assim como outro grande grupo tenta garantir a segurança financeira. Não é fácil em nenhum dos casos. Pesquisas no Brasil e no exterior costumam mostrar o mesmo percentual de fracasso tanto nas dietas como em poupar dinheiro: impressionantes 95%.
O motivo seria uma falha de informação? Três economistas e professores, Barton Willage (Louisiana), John Cawley e Alex Susskind (ambos de Cornell), montaram um estudo para averiguar. E os resultados, recentemente publicados no Journal of Policy Analysis and Management são um exemplo de como lidamos com o risco.
Estudos anteriores examinaram o impacto das informações nutricionais nos cardápios nos pedidos dos consumidores em restaurantes de fast-food e cafeterias. Este trabalho fornece a primeira evidência sobre o efeito de se divulgar as calorias em restaurantes de serviço completo, onde os pratos são escolhidos e servidos nas mesas.
Os autores foram a dois restaurantes de Washington, a capital americana, que servem a comida a la carte. Os clientes chegavam para comer, escolhiam os pratos no menu, ditavam os pedidos aos garçons e só tinham de aguardar o preparo. E não foram poucos os que aceitaram participar do estudo: 4.701.
Eles foram divididos em dois grupos. Um grupo recebeu os cardápios sem contagem de calorias. Já um segundo grupo fez a escolha com as mesmas opções no cardápio, mas com as calorias informadas junto dos pratos. Se a pessoa escolhia, por exemplo, uma porção de bolinhos fritos em vez de uma salada, sabia quantas calorias iria ingerir a mais.
É uma situação vivida por muitos investidores. Ao tomar decisões, nem sempre a informação necessária sobre as consequências negativas envolvidas está disponível. Mas vamos imaginar que, ao comprar uma ação, você fosse informado, com base no histórico e em outros indicadores, do risco de obter uma baixa rentabilidade ou mesmo prejuízo. Suas decisões seriam as mesmas?
Era algo que os economistas esperavam encontrar. E encontraram. Diante da informação de que os bolinhos eram mais calóricos, muitos clientes pediram salada ou algo menos pesado. No total, consumiram 3% menos calorias. Ou seja, destacar a informação negativa fez com que corressem 3% menos risco de sabotar a dieta. Mas de maneira seletiva. Elas poupavam calorias nas entradas e nos aperitivos, mas não nas bebidas e na sobremesa.
Pode parecer pouco, mas vamos considerar o volume médio do Ibovespa por dia, de R$ 32,7 bilhões em fevereiro. Caso o fenômeno se repetisse entre investidores, que correriam 3% a menos de risco com as informações negativas sendo destacadas, quase R$ 1 bilhão iria para outros negócios. E é provável que fossem seletivas, poupando os ativos que prometiam um ganho mais alto e mais provável, apesar do risco maior.
Os americanos vivem uma epidemia de obesidade. Quatro em cada dez adultos são obesos e quase dois em cada 10 podem ser definidos como casos graves. O estudo, ressaltam os autores, não é a bala de prata que ajudará as pessoas a ter hábitos mais saudáveis de alimentação. Mas ter mais informação ajuda. Uma regra que vale para tudo na vida, principalmente, investimentos.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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