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Coluna do Samy

Por que as pessoas são enganadas por golpistas como o do Tinder?

Em centenas de estudos sobre o comportamento e confiança, pessoas se mostraram dispostas a dar dinheiro a completos estranhos.

Fonte: Unsplash

Um documentário e uma série de sucesso, ambos da Netflix (NFLX34), levantam aspectos sobre por que as pessoas caem em golpes. O golpista do Tinder (filme) e Inventando Anna (série) contam a história de dois aproveitadores que, usando histórias mirabolantes, abusaram da credulidade alheia para obter centenas de milhares (em um caso) ou milhões de dólares (em outro) de suas vítimas.

Na história real que inspirou Inventando Anna, a imigrante russa Anna Sorokin, fingindo ter outro nome, Anna Delvey, e ser uma herdeira alemã interessada em abrir um clube para artistas, obteve mais de US$ 275 mil de conhecidos ricos e empresas de luxo de Nova York enquanto vivia o melhor que a cidade pode oferecer: roupas de grife e jatinhos de luxo, isso até ser descoberta devido ao excesso de cheques sem fundo e de dívidas não pagas.

Uma história que tem seu espelho na maneira como Simon Hayut, israelense que se apresentava como Simon Leviev, supostamente o herdeiro de um império de diamantes, levantou estimados US$ 10 milhões enganando mulheres que conheceu no Tinder. Na internet, exibia um estilo de vida luxuoso, pago com os empréstimos que pegava com elas. Três das vítimas contam sua história em O golpista do Tinder.

São golpes que lembram as pirâmides financeiras. Hoje, a maioria parece envolver bitcoins ou outras criptomoedas, a considerar casos como do Faraó do Bitcoin, suspeito de montar um esquema fraudulento na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Mas poderíamos estar falando também de Bernard Madoff, morto no ano passado, que causou um prejuízo de US$ 65 bilhões entre os clientes prometendo rendimentos irreais.

É fácil em todos os casos culpar as vítimas e isso é o que a internet invariavelmente faz. Mas a verdade é que os picaretas exploram os processos sociais que fazem as pessoas confiarem umas nas outras no dia a dia. Confiar, afinal de contas, é humano, lembra um artigo recente da psicóloga social Vanessa Bohns, professora associada da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, e autora de um livro sobre o poder da persuasão.

Uma série de estudos demonstra que as pessoas preferem acreditar na história alheia, evitando duvidar do mentiroso a desmascará-lo, gerando constrangimento para si e para o outro. Elle Dee, uma DJ a quem Anna Delvey enganou pedindo dinheiro emprestado para pagar uma conta de bar de quase US$ 40 mil, descreve que as pessoas confiavam facilmente na golpista. E Anna, segundo sua vítima, nem teve de se esforçar tanto.

As pessoas estavam ansiosas para acreditar em sua história. E não há muita defesa contra charmosos vigaristas. Em centenas de estudos sobre o comportamento e confiança, pessoas se mostraram dispostas a dar dinheiro a completos estranhos. A regra básica era dizer a elas que podiam emprestar dinheiro aos outros participantes e receber de volta com juros. Mas havia o risco que não fossem pagos.

A maioria estava longe de ser do tipo ingênuo. Eram no geral pessoas cuidadosas com o dinheiro. Alguns até, curiosamente, acreditavam que, tendo feito o empréstimo, não voltariam a ver o valor novamente. Mesmo assim, aceitaram. O que não é tão estranho assim. O que seria de serviços como o Airbnb (AIRB34) ou Uber (U1BE34) se não fosse a confiança como princípio básico?

E no fim pessoas mentem bem menos do que parece. No ano passado, David Markowitz, professor da Universidade do Oregon, verificou, em um grupo de 250 pessoas, quantas vezes mentiam online por semana. A maioria mentia pouco ou não mentiu. Dizer a verdade sobre um investimento ou sobre a própria condição financeira é o normal. E mentirosos compulsivos como Madoff ou os dois personagens das séries são raros.

Ponto para a honestidade.

*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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