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Criptomoedas

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O que é Bitcoin e o que é Ethereum?

Conheça diferenças entre as criptomoedas mais importantes do mercado

Bitcoin, criptomoedas e criptoativos.
Ilustração: João Brito

O Bitcoin (BTC) e o Ethereum (ETH) são as duas principais criptomoedas do mercado. Juntas, elas representam cerca de 75% da trilionária indústria de ativos digitais. Apesar de compartilharem o protagonismo, elas são bem diferentes. O Bitcoin foi idealizado como uma moeda de troca, enquanto o Ethereum funciona como uma plataforma para desenvolvimento de outras aplicações.

Além disso, as duas moedas digitais funcionam por meio de mecanismos diferentes, são criadas de formas distintas, têm regras próprias e apresentam várias outras peculiaridades.

Neste guia, o InvestNews explora as principais diferenças entre as criptomoedas mais importantes da indústria cripto, explicando em detalhes o funcionamento de cada uma delas.

O que é Bitcoin?

O Bitcoin é um dinheiro eletrônico que permite pagamentos on-line diretamente entre duas pessoas, sem a intermediação de uma instituição financeira, como um banco. Essa foi a definição dada por Satoshi Nakamoto, pseudônimo da pessoa ou grupo por trás da criptomoeda, no whitepaper (manual) do projeto, publicado no final de 2008. Até hoje, ninguém sabe a identidade de Nakamoto, apesar de muita gente ter tentado descobrir.

Diferente das moedas fiduciárias, como dólar, real e euro, que são emitidas por um banco central, o Bitcoin é descentralizado — ou seja, não é controlado por nenhum governo. Ele funciona dentro de um sistema chamado blockchain, uma espécie de livro contábil virtual que registra as movimentações de criptos dos usuários. Além disso, é protegido por criptografia, um método de segurança e codificação de dados.

“O ponto da descentralização traz muito mais autonomia e controle do ativo para as pessoas, sendo possível, inclusive, fazer a autocustódia (guardar suas próprias criptomoedas). Já a universalidade do BTC favorece transações em qualquer lugar no mundo, sem a necessidade de conversão para dólar ou euro. Isso não só é mais eficiente, como muito mais rápido e barato quando comparamos os meios de pagamentos mais tradicionais”, explica João Canhada, fundador da exchange Foxbit.

Como os Bitcoins são criados?

Os Bitcoins são criados dentro da blockchain e, em essência, são códigos de computador. Esse processo, chamado de mineração, é regido por um algoritmo conhecido como Proof of Work (prova de trabalho, em português). Na prática, computadores espalhados pelo mundo, chamados mineradores, competem para resolver problemas matemáticos complexos.

O minerador que obtém êxito verifica e registra as transações no sistema. Essas transações são organizadas em blocos, que se conectam uns aos outros. É dessa estrutura que vem o nome blockchain, que significa “cadeia de blocos” em português.

Quando um minerador resolve um desses problemas e finaliza um bloco de transações — algo que leva, em média, 10 minutos — ele recebe unidades de Bitcoin como recompensa. Essas novas criptomoedas, oferecidas como “pagamento” pelo trabalho dos mineradores, são fundamentais para manter o Bitcoin em circulação. Entre abril de 2024 e o início de 2028, a recompensa é de 3,125 Bitcoins por bloco, resultando em uma média de 450 Bitcoins emitidos por dia.

Esse valor é reduzido a cada 4 anos em um evento conhecido como halving. No primeiro halving, ocorrido em 2012, a recompensa para os mineradores caiu de 50 para 25 Bitcoins; em 2016, foi reduzida para 12,5 Bitcoins; em 2020, para 6,25 Bitcoins; e, em abril de 2024, atingiu o valor atual de 3,125 Bitcoins por bloco.

Esse modelo, projetado por Satoshi Nakamoto, limita a oferta de novas criptomoedas. “Em outras palavras, de 4 em 4 anos, a emissão da criptomoeda no mercado é reduzida pela metade, o que tende a aumentar seu valor e não deixar o fluxo de moeda saturado”, diz Canhada.

Apenas 21 milhões de unidades de Bitcoin poderão ser mineradas, um limite que deve ser alcançado por volta do ano 2.140. “Ou seja, haverá um momento em que todos os BTCs estarão em circulação, sem que seja possível emitir novos tokens e ‘re-inflacionar’ novamente o ativo”, afirma Canhada. Até o final de 2024, segundo dados da plataforma CoinGecko, cerca de 19,8 milhões de Bitcoins já haviam sido minerados e estavam em circulação globalmente.

Para que o Bitcoin é usado?

O Bitcoin pode ser usado de diversas formas: como meio de pagamento alternativo, investimento, reserva de valor e instrumento de especulação para lucrar com a volatilidade da moeda. Confira, abaixo, os principais usos da maior criptomoeda do mercado:

Pagamentos e transferências: Segundo Canhada, o Bitcoin atua como uma moeda. “Ou seja, sua proposta é ser utilizada no dia a dia para compras e pagamentos, sem se preocupar com fronteiras governamentais, políticas e geográficas”.

Reserva de Valor: Devido à sua oferta limitada, muitos investidores usam o Bitcoin como uma reserva de valor. “É uma espécie de ‘ouro digital’ que funciona sem depender de governos ou bancos”, aponta Fabricio Tota, diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin (MB).

Investimento e especulação: Apesar de sua volatilidade ter diminuído ao longo dos anos, o Bitcoin ainda apresenta mais volatilidade do que classes tradicionais de ativos, como ações e commodities, segundo a empresa de investimentos Fidelity. Isso cria oportunidades de trading e atrai investidores em busca de altos retornos.

Representação ilustrativa do Bitcon. Foto: Dado Ruvic/Reuters

O que é Ethereum?

O Ethereum, diferente do Bitcoin, é mais do que uma simples criptomoeda. Sua blockchain, que leva o mesmo nome de seu token nativo, revolucionou o mercado de ativos digitais ao permitir que desenvolvedores criassem seus próprios projetos dentro da plataforma, por meio de smart contracts (contratos inteligentes, na tradução para o português).

“Em vez de criar uma conta poupança descentralizada, como Bitcoin, os desenvolvedores do Ethereum aspiram desenvolver uma loja de aplicativos descentralizada de código aberto”, explicam estrategistas do Morgan Stanley.

Esses contratos inteligentes são programas de computador que executam certas regras de forma automática assim que determinadas condições são atingidas sem a necessidade de um intermediário. Aqui vai um exemplo: o Pedro precisa de dinheiro e o João pode emprestar. Como não se conhecem, seria muito arriscado realizar essa transação pessoalmente, já que o Pedro poderia dar um calote no João. Em um contrato inteligente, no entanto, seria possível registrar o empréstimo e manter uma garantia do devedor. Se o Pedro não cumprir os pagamentos, o contrato executa automaticamente a liquidação da garantia.

“O Ethereum tem o potencial de revolucionar setores inteiros com os contratos inteligentes. Graças a eles, nasceram as finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês), que permitem empréstimos e investimentos sem intermediários, por exemplo. Ao invés de utilizar uma estrutura centralizada, como a de um banco, é possível contratar um empréstimo diretamente de um contrato inteligente”, diz Fabricio Tota, diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin (MB).

O Ethereum foi idealizado em 2013 pelo programador russo-canadense Vitalik Buterin, um entusiasta das criptomoedas. Sua ideia inicial era modificar a própria rede do Bitcoin, de modo a permitir que outros desenvolvedores pudessem usá-la para criar seus próprios projetos. Os usuários do Bitcoin da época, porém, não curtiram muito a ideia. Após a recusa, Buterin decidiu criar sua própria blockchain.

O whitepaper do projeto foi publicado em 2024. Em meados daquele ano, o Ethereum lançou seu token nativo – que pode ser chamado tanto de Ethereum como de Ether – por meio de uma Oferta Inicial de Criptomoedas (ICO, na sigla em inglês). Um ICO é o equivalente no mercado cripto a uma Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês). O projeto conseguiu vender cerca de 50 milhões de tokens, cada um valendo US$ 0,31, e arrecadou cerca de US$ 16 milhões, segundo o portal especializado em criptomoedas CoinDesk. O Ethereum, no entanto, só foi oficialmente lançado em julho de 2015.

Como o Ethereum é criado?

Nos primeiros anos de existência, o Ethereum era criado da mesma maneira que o Bitcoin, por meio do processo de mineração e do algoritmo de prova de trabalho. Ou seja, os computadores, chamados de mineradores, competiam entre si para resolver problemas matemáticos complexos. Os vencedores, como recompensa pelo esforço computacional, ganhavam unidades de Ether, alimentando a circulação da moeda digital.

A partir de setembro de 2022, no entanto, o projeto passou por uma grande reformulação, chamada “The Merge”, e adotou um novo algoritmo chamado Proof of Stake (Prova de Participação, na tradução para o português). Esse novo método
substituiu os mineradores por um processo chamado “staking”. Funciona da seguinte maneira: os usuários que desejam “trabalhar” na rede ajudando a validar transações precisam depositar 32 unidades de Ether em um contrato inteligente específico. Como recompensa, eles ganham criptos. O retorno médio é de 4% ao ano, segundo dados da empresa Blocknative. DIferente do Bitcoin, a emissão do Ethereum não tem limite.

Por que o Ethereum trocou o processo? Porque a mineração tradicional do Bitcoin gera muito gasto de eletricidade. Como os mineradores usam máquinas potentes para minerar, o processo consome 168.7 Terawatt-hora (TWh) por ano de energia, mais do que a Polônia (158.2 TWh) e o Egito (168.3 TWh), segundo dados do Cambridge Bitcoin Electricity Consumption Index (CBECI), órgão da Universidade de Cambridge que fornece estimativa anualizada do consumo de eletricidade do BTC. O processo do Ethereum, por outro lado, não depende da força computacional.

Ethereum é usado em quais situações?

Assim como o Bitcoin, o Ethereum pode ser usado para transferência de valores. Mas lembra dos contratos inteligentes? Pois é, eles abriram um leque de possibilidades para os desenvolvedores, que criaram diversos tipos de projetos. Veja algumas abaixo.

Finanças descentralizadas (DeFi): É o principal caso de uso do Ethereum. São plataformas que oferecem serviços financeiros, como empréstimos, transferências de recursos e renda passiva, de forma descentralizada, sem a presença de bancos ou outras instituições. Até o final de 2024, o valor total de ativos mantidos nessas plataformas era de US$ 105 bilhões, sendo metade no Ethereum.

Novos tokens: O Ethereum estabeleceu um padrão técnico conhecido como ERC-20, que define um conjunto de regras para a criação e gestão de tokens em sua blockchain. Na prática, esse padrão simplifica o desenvolvimento de novos criptoativos, garantindo que sejam compatíveis com a infraestrutura do projeto. Tokens populares no mercado, como Uniswap (UNI) e Shiba Inu (SHIB), foram criados utilizando essas diretrizes.

Stablecoins: As stablecoins são criptomoedas cujo valor é atrelado a outro ativo, como o dólar ou o euro. As duas maiores stablecoins do mercado, a Tether (USDT) e a USD Coin (USDC), seguem o padrão do Ethereum. Esses criptoativos combinam a estabilidade de preços das moedas tradicionais com as vantagens da tecnologia blockchain, como transferências rápidas e custos menores.

NFTs: O Ethereum também desempenhou um papel central no mercado de tokens não fungíveis (NFTs, na sigla em inglês), ativos digitais únicos que representam objetos do mundo real, como quadros, música ou itens de jogos. Em 2021, a obra de arte “Everydays: The First 5.000 days”, do artista Beeple, foi vendida em formato de NFTs por US$ 69 milhões. O negócio foi fechado na prestigiosa casa de leilões Christie’s.

Games: O desenvolvimento de jogos baseados em blockchain, chamados de “play to earn” (jogar para ganhar, na tradução em português), também foi impulsionado no Ethereum. A tecnologia da criptomoeda permitiu que itens digitais, como personagens, armas e imóveis virtuais, passassem a ser representados por NFTs e tivessem registro único. Isso deu aos jogadores posse real sobre seus ativos virtuais, podendo negociá-los livremente. Um dos jogos mais famosos associados ao Ethereum é o Axie Infinity.

Quais os riscos de investir em Bitcoin e Ethereum?

Tota, do Mercado Bitcoin, diz que investir em Bitcoin e Ethereum tem um grande potencial de valorização, especialmente para quem pensa a longo prazo, mas é importante entender alguns riscos, principalmente a alta volatilidade. Segundo o especialista, o ideal é que os investidores aloquem em cripto uma parcela de capital que tenha conforto em manter investida por bastante tempo.

“É sempre bom começar aos poucos, entendendo a dinâmica do mercado, sem ceder ao ‘FOMO’ (fear of missing out, ou medo de ficar de fora, em português). A ideia é encarar o investimento em cripto de forma séria, com uma parcela importante de sua carteira, buscando retornos significativos mas com riscos controlados. Uma medida que pode funcionar para boa parte dos investidores é algo como 10% do total da carteira de investimentos”.

Segundo Canhada, da Foxbit, uma das possibilidades de investir em criptomoedas é por meio da estratégia Dollar Cost Averaging (DCA), que consiste na compra regular do ativo por um determinado período de tempo. “Por exemplo, comprar R$ 200 por mês durante um ano. A ideia aqui é que você possa comprar tanto na alta quanto na baixa, criando um preço médio no fim que equilibra essa volatilidade”.

Além do sobe e desce de preços, Tota aponta que o maior desafio do Ethereum na atualidade é a escalabilidade. “A rede se tornou cara e lenta em momentos de alta demanda, e novas soluções de segunda camada (novos protocolos que ajudam a dar mais escalabilidade e velocidade a um projeto) vêm disputando espaço para solucionar esses problemas”. No caso do Bitcoin, diz o diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin (MB), os desafios estão mais ligados ao debate sobre sua aceitação regulatória em muitos países, algo que evoluiu significativamente após a vitória de Donald Trump nas eleições de 2024.

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