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Imóveis mundiais perderão 9% do seu valor por conta de tragédias climáticas 

As questões climáticas não estão sendo precificadas nos valores dos imóveis, muito menos na cota dos fundos imobiliários e de outros ativos financeiros relacionados

Em 1972, a ONU – Organização das Nações Unidas – reuniu pela primeira vez 113 países e 400 delegações governamentais e não governamentais para discutir o cuidado com o meio ambiente na Conferência de Estocolmo na Suécia. 

Nesse conclave, foi decretado o Dia do Meio Ambiente, dia 5 de junho, marcado pela data de início da conferência. Mas não se trata de um evento celebrativo anual, serve como um alerta sobre o cuidado que todos devem ter com a natureza, uma vez que a vida humana é dependente dela.

Seguindo a mesma linha, resolvi nessa coluna também apresentar alguns alertas diante dos impactos do meio ambiente em nossas vidas, recentemente, dragadas por tragédias como no Rio Grande do Sul que deveriam ser evitadas, utilizando como fio condutor os impactos do aquecimento global no ativo imobiliário, o mais valioso no mercado financeiro mundial.

Segundo a revista The Economist o valor de 1 a cada 10 imóveis no mundo será impactado pelo aquecimento global. Em números, a publicação estima que as alterações climáticas podem eliminar 9% do valor dos imóveis mundialmente até 2050, US$ 25 trilhões perdidos em pouco mais de 25 anos. 

Se você dúvida do tamanho dessa perda, pense na redução do valor dos ativos imobiliários depois da tragédia no Rio Grande do Sul. O impacto está começando a ser dimensionado agora, com extensão para toda a cadeia de valor do setor. 

Porto Alegre na sexta (3). Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil

Primeiro alerta: se preparem para essa perda, ela será inevitável. Diante disso, se você é investidor do mercado imobiliário, revise a sua estratégia.

O sul do país está vivenciando uma catástrofe nunca vista, com bancos e gestoras discutindo as perdas e qual o valor real das cotas de seus fundos imobiliários. Incorporadoras imobiliárias terão que fazer o mesmo exercício e rever o valor dos imóveis a serem vendidos diante do grau de risco de eventos similares voltarem a acontecer na mesma região. Realidade bem dura para o setor, mas que terá que ser enfrentada.

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Hoje, podemos afirmar categoricamente que o setor não precifica as questões climáticas nos valores dos imóveis, muito menos na cota dos fundos imobiliários e de outros ativos financeiros relacionados. Porém, isso era compreensível até o momento. No entanto, a partir de agora, não é mais. Com a tragédia no sul do país veio a necessidade obrigatória de inclusão na matriz de risco de todos os agentes dessa cadeia dos riscos climáticos, ambientais e sociais.

A inclusão desses riscos nas matrizes dos bancos, seguradoras e demais instituições financeiras já está prevista nas regulações do Conselho Monetário Nacional e das demais autarquias como Banco Central e SUSEP desde 2021. Ou seja, agora é colocar realmente em prática e mostrar para os investidores que o preço já está incorporando os riscos climáticos que aquele imóvel pode incorrer.

É óbvio que a ANBIMA, entidade que rege os fundos de investimentos, exigirá que os fundos imobiliários apresentem informações bem detalhadas das perdas e dos riscos futuros aos investidores das questões ambientais e climáticas. Principalmente, dos fundos que possuem forte exposição à imóveis nas regiões mais afetadas.

Segundo alerta: de agora em diante, quando comprarmos um imóvel ou a cota de um fundo imobiliário, temos que verificar qual o grau de exposição à riscos climáticos e se o valor das cotas está refletindo o real valor dos imóveis. Não esqueçam que estamos falando de um ativo que historicamente em momentos de crise possuem perda de valor. 

Último alerta: quem vai pagar por todo esse prejuízo? Aguardemos para ver, é um mundo novo em que nem mesmo o valor do ativo mais valioso para os investidores está fora da guerra climática que estamos enfrentando.

Alexandre Furtado é Sócio da Grant Thornton, Membro do Conselho do Centro de Pesquisa Aplicada em Contabilidade e Análise de Dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Presidente da Comissão de Créditos de Carbono da ABCarb e Colaborador do Comitê de ESG do Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo (CRC-SP).

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade dos autores e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.