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Somente com ESG você transformará a sua empresa
Uma das maiores autoridades do mundo no segmento, a dinamarquesa Ann Rosenberg aponta os desafios para os novos modelos de negócio das corporações em relação ao programa SDG Ambition, realizado junto ao Pacto Global da ONU.
Temos acompanhado o tema ESG ganhar cada vez mais espaço no mercado e obrigando as corporações a incluírem em suas estratégias de atuação ações voltadas ao meio ambiente, ao social e à governança. Devido à rapidez com que essas iniciativas se tornaram imprescindíveis para o setor privado, muitas empresas se vêm frente a um grande desafio por terem que adotar novos modelos de negócios e se adequarem a este novo cenário do mercado.
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Mas o que é preciso fazer? Que áreas precisam ser reestruturadas e quais precisam ser criadas para atender esses novos parâmetros? Qual o papel dos líderes e das pessoas dentro das corporações neste novo ambiente foca em sustentabilidade? Atualmente, essas questões estão tirando o sono de muitos gestores pois sabem que os parâmetros ESG serão requisitos que poderão definir o sucesso ou o fracasso das corporações nos próximos anos.
Alguns acontecimentos recentes mostram como esse tema vem ganhando atenção no mercado. No último Fórum Econômico Mundial, realizado no início do ano, 75% das conversas envolveram temas ligados à sustentabilidade, resiliência e carbono zero. Outro destaque foi a cúpula virtual realizada pelo presidente americano Joe Biden com líderes globais para tratar de ações sobre o clima e cujas questões levantadas serão levadas ao COP26, em novembro.
Devido à importância do tema, conversei com uma das profissionais mais respeitadas no assunto, a dinamarquesa Ann Rosenberg. Hoje baseada em Nova York, ela foi executiva por 20 anos da SAP e atualmente é VP sênior de desenvolvimento sustentável da Wood plc, uma das empresas líderes mundiais em consultoria e engenharia nas áreas de Energia e Construção. Em 2020, ela cofundou e lançou junto com o Pacto Global da ONU o programa SDG Ambition, que desafia e apoia as empresas a serem mais estratégicas e transformadoras na forma como conduzem seus negócios para cumprir a agenda de sustentabilidade.
A iniciativa começou a ser idealizada há cerca de três anos, quando em um encontro na ONU viram que dentro dos 17 objetivos globais não havia melhoras em relação a temas como igualdade de gênero, alterações climáticas, energias renováveis e economia circular. Na verdade, os objetivos eram focados no setor público e não no setor privado, e a conclusão que tiveram foi que erar necessário adotar projetos e modelos de negócios totalmente novos dentro das companhias.
Para auxiliar as empresas a incorporarem as ações de ESG em suas atuações, Ann Rosenberg aponta três iniciativas fundamentais para as companhias obterem sucesso ao adotar este novo modelo de negócios, que são:
- Incluir os objetivos na Estratégia e Governança da companhia, o que abrange ações como: adotar metas que vão desde zerar as emissões de carbono a aumentar o número de negros e mulheres em cargos gerenciais, ter um conselho comprometido com a transição a ser realizada, mensurar os resultados alcançados etc;
- Aprofundar a integração entre as operações da empresa tendo como base o ESG. Isso incluiu iniciativas como o desenvolvimento de produtos e serviços sob os novos parâmetros, integração de fornecedores e processos de aquisição alinhados ao tema, transformação digital focada nos novos princípios, 100% da empresa precisa estar comprometida com a nova linha de atuação, e realizar ações educativas e comunicação interna para reforçar a nova cultura dentro da companhia;
- Melhorar o envolvimento dos stakeholders, o que abrange alinhamento com acionistas investidores, ter requisitos para compras de equipamentos e para quem vai vender os produtos, e ter parceiros que compartilham dos mesmos valores e comprometimento em relação ao tema.
Ann ainda aponta três importantes movimentos dentro das companhias que vão reforçar as ações ESG. A primeira é a mudança de mindset para esse novo modelo de negócios, onde os líderes estão mais conscientes no modo como administram as corporações.
O segundo é a resiliência que empresas e profissionais adquiriram com a crise da Covid-19 e que será importante para esse processo de mudanças. E, por último, estão as novas tecnologias e a transformação digital do mercado, que historicamente deixava a sustentabilidade de lado para focar apenas na melhora da eficiência e redução de custos dos negócios, mas que agora estão mais voltadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável.
Aproveitei a conversa com a Ann Rosenberg para pergutar algumas questões sobre ESG e aprofundar o tema ligado às novas tecnologias, seu papel para o crescimento sustentável da economia em países emergentes, e os desafios em implementar esses novos parâmetros em companhias de todo o mundo.
As novas tecnologias vêm revolucionando o mercado e beneficiado as empresas de diferentes formas. Como essa transformação digital pode beneficiar também a adoção desse novo modelo de negócio voltado ao ESG?
Historicamente, as soluções de tecnologia não eram desenvolvidas voltadas à sustentabilidade pois nosso pensamento era diferente ao que pensamos hoje sobre o tema. E dentro dos objetivos de desenvolvimento sustentável, foi descoberto que há uma lacuna de tecnologia de 35%. Se analisado apenas o clima, hoje a lacuna é de 7% em tecnologia limpa.
Na comunidade de startups e empresas de software em todo o mundo, é possível ver uma grande quantidade de soluções sendo criadas entre os setores para cobrir essa lacuna de tecnologia que existe hoje. Por isso que, quando definir os compromissos de zerar as emissões de carbono até 2050, é preciso colocar um modelo de governança forte dentro da empresa para abranger todas as linhas de negócios.
Como uma jovem democracia, como o Brasil, e com grandes desafios sociais, raciais e de gênero, pode aprender e usar os parâmetros de ESG para o crescimento sustentável da economia, preservando seus ativos ambientais?
Eu creio que o que vemos no Brasil e em todos os países do mundo agora é que trabalhar com ESG e com a ONU em torno desses propósitos é algo cooperativo que está acontecendo agora mesmo. Vemos os setores privados e universidades assumindo responsabilidades, assim como um enorme movimento de educação nesse sentido.
Também vemos aceleradores e a comunidade de investidores, e governos com várias parcerias público-privadas. Ao mesmo tempo, novas regulamentações estão surgindo, apoios vindos de várias áreas, etc. Creio que a Covid-19 teve um papel importante para todo esse movimento pois a crise nos ensinou que não podemos ser apenas uma parte querendo fazer algo de ESG, e sim que há a necessidade de um esforço coletivo, e é isso que estamos vendo em todo o mundo.
Você tem atuado como uma espécie de embaixadora da ONU na equipe ESG. Como tem sido apoiar o setor privado em suas viagens e quais têm sido as principais demandas e desafios?
Quais são suas principais impressões do Earth Day Summit conduzido pelo presidente Joe Biden? Uma iniciativa importante foi a coalizão propondo um investimento de US$ 1 bilhão na preservação da floresta tropical. Com o apoio de grandes empresas como Amazon, Bayer, Nestlé e Unilever. Essa pode ser uma virada de jogo para o setor privado agir no esforço global de mudança climática?
Não há dúvidas de que esse evento com Joe Biden foi histórico. Em primeiro lugar, se olharmos o todo, o convite para os 40 líderes ocorreu três semanas antes do evento, e junto com esse grupo que trouxe grandes compromissos, cada um de seus países, o setor privado fez um anúncio incrível de parcerias público-privadas.
E tudo foi acelerado com o lançamento de Joe Biden duas semanas antes, com sua proposta sobre o que os Estados Unidos farão quanto a investimentos no clima. Portanto, não há dúvida de que a aceleração que o Leadership Summit de Joe Biden fez levando ao COP26 é histórica e até inacreditável por tudo o que está acontecendo agora.
Quando se fala sobre as indústrias em geral, que estão crescendo com fortes compromissos e parcerias incríveis, já começamos a ver relatórios de carbono se tornando uma normalidade. Vimos algumas soluções de tecnologia limpa incríveis que logo serão colocadas em prática.
Então, essa é a uma razão pela qual acredito que com o COP26 será uma evolução total de agora até o início de novembro, onde veremos lançamentos de produtos e outras coisas reais voltadas a esses compromissos. Acho que os dias de conversas acabaram, e agora começam as mudanças de verdade. E muito dessa iniciativa deve-se ao Leadership Summit de Joe Biden, e esse é um momento muito emocionante de fazer parte.
Como vimos, será fundamental para as empresas ter como propósito ações voltadas ao meio ambiente, social e governança. Esse é um momento em que a transformação digital tem impactado as mais diversas áreas e iniciativas das corporações, e não pode ser diferente na adoção desse novo modelo de negócio voltado ao desenvolvimento sustentável. Antes focadas em gerar mais eficiência e redução de custos às empresas, as novas tecnologias passam ser fundamentais também para esse novo propósito focado em ações sustentáveis.
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