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Como escolher um fundo considerando rendimento, risco e liquidez?

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Pergunta de Thiago: Vi um fundo que está parecendo valer a pena, porque pareceu render muito. Mas 32 dias de liquidez é muito tempo. Como fazer para ter uma retirada segura? E vale mesmo o risco pelo que rendeu? Obrigado.

Resposta de Felipe Spritzer*: “Essa é uma pergunta muito interessante e gostaria de parabenizar essa pessoa por avaliar diferentes aspectos do fundo para além do rendimento, considerando aqui a liquidez. No caso, esse termo designa quanto tempo você deve esperar entre o pedido de resgate e o recebimento do valor na sua conta de investimentos.

Para entender melhor essa dúvida, precisamos entender um pouco melhor como funcionam os fundos de investimento e por que essa liquidez mais baixa é algo normal no mercado financeiro. Depois, podemos pensar em como se organizar para investir em ativos de menor liquidez e como avaliar o seu risco-retorno. 

Investimentos (Imagem: Iqbal Nuril Anwar por Pixabay)
Investimentos (Imagem: Iqbal Nuril Anwar por Pixabay)

Quando nós investimos em um fundo, estamos delegando a uma equipe de gestão o direito de investir parte do nosso dinheiro, segundo um conjunto bem definido de regras. Elas incluem tanto o(s) mercado(s) aos quais teremos exposição, qual o tamanho de cada classe de ativos na carteira, se haverá ou não alavancagem, entre várias outras coisas.

Para ficarmos num nível mais básico, podemos falar sobre os fundos de renda fixa (FIRF), que são os mais comuns no Brasil. No caso, seu rendimento mais alto frente ao CDI vem da exposição a títulos de renda fixa de crédito privado. Isso envolve principalmente debêntures, que são empréstimos feitos a grandes empresas.

Entretanto, como o Brasil é um mercado emergente, esses papéis tem uma liquidez mais baixa e não são negociados com tanta facilidade. Isso é um problema para os fundos, pois, para honrarem os pedidos de resgate, muitas vezes eles precisarão vender os ativos da carteira, e não há liquidez no mercado de debêntures, não será possível fazer isso, ao menos não sem incorrer em perdas altas.

Diante desse problema, os fundos tem duas opções. A primeira delas é oferecer uma liquidez mais baixa para os resgates, que seria o caso de um fundo como esse, que precisa de cerca de 30 dias úteis para conseguir se desfazer de parte da carteira para honrar os resgates. A segunda opção é aumentar a liquidez do resgate, mas isso implica em investir bem menos em crédito privado e aumentar a exposição a títulos públicos, como o Tesouro Selic, gerando retornos mais baixos.

Como você pode ver, você está diante de um problema econômico clássico: se quiser mais retorno, precisará correr mais riscos e isso envolve tanto o crédito privado quanto uma liquidez mais baixa. Se quiser correr menos riscos, tanto de crédito quanto de liquidez, terá que se contentar com rendimentos mais baixos.

Em linhas gerais, a solução é que você se organize para dosar essas duas fontes de risco e retorno. Para simplificar, vamos imaginar um portfólio que investe apenas em fundos de renda fixa. O que você precisará pensar, então, é que uma parte dessa carteira precisará ter uma liquidez mais alta e outra parte ficará responsável por gerar mais altos, onde você aceita abrir mão da liquidez.

Quanto você terá em cada uma depende muito da sua situação. Se você está construindo uma reserva de emergência, deverá buscar o máximo de segurança e liquidez investindo num fundo que replique o CDI. Se você tem uma reserva robusta, pode manter 30% em fundos de alta liquidez e 70% em fundos com liquidez baixa, mas alta exposição a crédito privado, com resgates que podem chegar até a 90 dias.

Finalmente, sobre a questão do retorno obtido em relação ao risco, essa é uma questão um pouco mais complexa. Para sabermos se o retorno de um fundo foi bom ou não, precisamos compará-lo com o retorno do mercado como um todo, e isso envolve selecionar um índice apropriado.

No caso dos fundos de crédito privado, geralmente comparamos sua performance com o índice de debêntures Di da Anbima (IDA-DI), que está disponível no site da associação. Para fundos de ação, olhamos sua performance frente ao IBRX 100, que utiliza uma metodologia muito mais adequada que o Ibovespa para medir o retorno do mercado de ações brasileiro.

Para outros casos, um caminho é comparar o rendimento do fundo com o de outros da mesma classe de investimentos. Então, se for um fundo de crédito privado, veja como se saíram outros fundos de crédito privado; se for um fundo multimercado, olhe para outros multimercado; e assim por diante.”

* Felipe Spritzer, especialista em investimentos, fundador e CEO da Portfel, empresa de consultoria de investimentos do Grupo Primo.

*As informações neste artigo são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. Envie sua pergunta para [email protected]

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Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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