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O investidor forjado na recessão se dá melhor em crises?
Profissionais que iniciaram suas carreiras em anos difíceis acumulam retornos superiores ao mercado durante instabilidade.
Você quer investir seu dinheiro e selecionando no mercado escolheu dois fundos novos. Ambos têm características muito parecidas. É difícil escolher. Mas você por acaso encontra informações sobre os gestores de cada um. Um começou a trabalhar no mercado pouco antes do estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, 13 anos atrás. O outro gestor entrou no mercado em 2004, pegando no começo o último boom das commodities.
Com a economia ainda em crise, você não deveria pensar duas vezes antes de escolher o gestor formado na recessão. Profissionais que iniciaram suas carreiras em anos difíceis acumulam retornos superiores ao mercado nas crises. É a conclusão de um estudo de quatros universidades – Londres, Leeds, Southampton, na Inglaterra, e Suzhou, na China –, publicado este mês na plataforma Science Direct, da editora científica Elsevier.
O trabalho comparou o desempenho dos fundos mútuos, compostos por ações, títulos ou outros papéis, e os perfis de seus 960 gestores entre 1990 e 2016 tentando entender se as experiências dos profissionais influenciam mais tarde suas escolhas de investimento e, mais tarde, os resultados.
Nas recessões, os investidores se encolhem. Há mais incerteza, levando a muitas perdas. Mas os gestores acostumados a dificuldades navegam melhor as águas turbulentas do mercado. Eles investem cinco vezes mais em ações consideradas defensivas, com bom fluxo de caixa e sem depender tanto dos ciclos da economia para manter os lucros, obtendo 2,5% ao ano a mais de rentabilidade do que a média do mercado.
Para Meziane Lasfer, da Universidade de Leeds, que conduziu o estudo, os resultados ressaltam as habilidades desenvolvidas pelos jovens profissionais formados nas recessões. Obrigados a buscar ganhos em tempos difíceis para impressionar os superiores, acabam se tornando bons garimpeiros de oportunidades e com um timing melhor para as trocas na carteira, obtendo melhores retornos.
Mas não nas altas. Quando chegam os momentos positivos, as ações defensivas geralmente não vão tão bem quanto os papéis de empresas com maior potencial de crescimento, ainda que mais incerto. O aprendizado nas crises deixa de ser um diferencial e os gestores acabam sem conseguir manter o desempenho superior. Vão tão bem ou mesmo pior do que a média.
Os resultados, segundo os pesquisadores, mostram que o início de uma carreira é um momento crítico não só para profissionais do mercado como para profissionais em geral – e podemos colocar os investidores comuns na lista. As experiências de então deixam marcas no comportamento mesmo se as condições de mercado mudam no futuro. É claro que outros fatores contam, como a idade, nível educacional e tempo de experiência.
Mas o veredicto do estudo é de que os jovens operadores de hoje, formados na pandemia, estarão mais preparados para a próxima crise, ainda que precisem se preparar para não perder oportunidades se o mercado entrar em um ciclo de alta.
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